quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Carros mais vendidos

Israel não possui industria automotiva, ainda assim tem uma concorrência forte e muitas opções neste mercado, mesmo tendo uma população de 8,5 milhões. Porém proximidade da Europa, que possui diversos fabricantes e as trocas comerciais entre europeus e o sudeste asiático, deixa esta terra com acesso a muitas opções. Lembrando que Israel é uma das rotas do comércio entre europeu e os asiáticos. Ainda assim os valores de veículos novos são muito caros, mas como escrevi aqui, há que se pensar mais no poder de compra, e menos no preço. Os imigrantes novos tem o benefício do desconto da taxa de importação, caso optem por comprar um modelo 0 km, valido apenas uma vez.
Saiu um relatório recentemente no portal Cartube, sobre dados de Janeiro a Setembro de 2017. É interessante notar que as marcas mais vendidas são as coreanas Hyundai e Kia, seguidas pela Toyota e pela tcheca Škoda.
Um dado preocupante é a forte queda nas vendas, que se comparadas como mesmo período do ano anterior, chega a 20%, que de acordo com o portal, não começou agora. Porém marcas de luxo como Audi, Mercedes e até BMW tiveram um aumento nas vendas.
A seguir o ranking das 20 marcas mais vendidas em 2017:

A lista contém dados de 49 marcas e 50 modelos, mas afim de facilitar a leitura, demonstro aqui apenas 20 de cada. E a seguir, o ranking dos 20 veículos mais vendidos em 2017:
Num primeiro momento, pode se pensar na pequena quantidade de carros vendidos ao ano, porém é sempre bom lembrar que a população inteira de Israel é menor que da cidade de São Paulo.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

O tal Milagre Econômico.

Há anos vejo comentários de fundo religioso para explicar o sucesso socio econômico pelo qual Israel passa, como o termo Milagre ou Terra Prometida... Eu, enquanto religioso moderado, me arrepio quando escuto ou leio isso. Acredito muito mais em sermos responsáveis pelos nossos milagres, ou seja, o milagre ser resultado de nosso esforço, por vezes invejável. Claro que por vezes o esforço próprio não é o bastante, pois senão, o Brasil teria milhões de milhonários.
Israel, embora seja considerado um sucesso, já passou por muitas dificuldades, então resolvi listar algumas:
  • Guerras - Coloquei em primeiro por ter sido o primeiro desafio enfrentado por Israel, que no dia seguinte a declaração de independência (ocorrida em 14 de maio de 1948) foi atacado pelos países da Liga Árabe (Egito, Jordânia, Siria, Líbano e Arábia Saudita), sendo atacado por Sadan Hussein durante a Guerra do Golfo Pérsico. Até os últimos confrontos com o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza;
  • Clima - Não é segredo que esta terra é árida, quente, seca, pobre em minérios e até sua fundação também com fraca infra estrutura;
  • Economia - Israel já passou por uma crise econômica, tendo o ápice nos anos 80, onde uma forte desvalorização do Shekel, uma inflação que beirou os 400% ao ano, até o momento em que o Shekel foi substituído pelo Shekel Novo em 1985, onde se cortaram 3 zeros, numa ação que era muito comum no Brasil até o plano Real;
Os anos 50 e 60 foram relativamente muito bons para Israel, pois além da vinda de muitos imigrantes expulsos dos países do Norte da África, países contrários a existência do Estado Judaico, também recebeu compensações financeiras que eram recebidas para reparação dos males causados durante o Holocausto, tratadas num acordo entre Israel e a Alemanha, desesperada para limpar sua imagem de país de criminosos da humanidade. A Suíça, que na língua inglesa é sinônimo de neutralidade, também assinou contratos de compensações financeiras após reconhecer que muitos de seus bancos se aproveitaram das riquezas judaicas durante a 2ª Guerra para enriquecer.
Taxa de inflação entre 1978 e 1986. Gráfico obtido com o Banco Mundial.
Porém a Guerra do Yom Kipur, em 1973, causou estragos não apenas com as perdas humanas que aquele ataque coordenado pelos vizinhos Líbano, Síria, Jordânia e Egito, causou também sérios problemas na economia local, que seguiu com crescimento muito abaixo dos alcançados anteriormente, saindo dos 14% ao ano em 1972 chegando ao 0% em 1977.
A moeda corrente na época era a Lira Israelense sofreu seguidas desvalorizações no mercado internacional, tendo sido substituída pelo Shekel pouco depois, e mesmo o Acordo de Paz entre Israel e Egito não causou melhoras econômicas. O pior momento econômico foi o ano de 1984, com a inflação chegando a incríveis 370% ao ano.
Uma das apostas do governo foi no incentivo para criação de novas e pequenas empresas, no que hoje é chamado de Start Up's, onde o governo investiria mais forte em educação e daria incentivos fiscais para investidores internacionais, receberia apenas o valor investido de volta em caso de sucesso, mas não arcaria com possíveis prejuízos. Esta alternativa foi importante pois ocorreu juntamente com a Operação Moisés e futuramente com a queda da União Soviética, milhões de novos cidadãos chegaram ao país.
Taxa de Inflação anual de Israel, de 1987-2016.
Em 1985 o governo de Shimon Perez deu início ao Plano de Estabilização Econômica, contanto com ajuda de diversos analistas dos EUA, onde havia misto de soluções liberais com táticas heterodoxas, como controle de preços, junto com outras iniciativas, como desvalorização cambial, corte dos 3 zeros da moeda nacional e instituição do Shekel Novo (moeda corrente até os dias atuais), redução drástica do déficit público e congelamento de todos os agregados econômicos indexados em Shekel Novo, forte elevação da taxa de juros nacional, o que sempre gera um risco de forte recessão.
Apesar dos riscos, passados mais de 30 anos após a criação do plano, juntamente com os acordos de paz com a Jordânia e a ANP nos anos 90 e a consequente queda na quantidade de conflitos armados contra Israel, provocaram recuperação econômica inicialmente lenta porém progressiva e consistente, gerando hoje uma preocupação pela taxa de inflação negativa, pois isto tende a levar a economia a recessão.
Portanto, o tal Milagre Econônomico nada mais é que uma resposta a consequência de uma guerra altamente desumana, pois o dia do Yom Kipur é onde todos os judeus permanecem em jejum total por cerca de 27h seguidas. E também uma resposta ao fim das compensações financeiras, que sustentaram o país por diversos anos e pagaram pela infra estrutura básica ainda hoje existente.
Um vídeo (em Inglês, é possível traduzir as legendas) busca mostrar um pouco dos motivos do crescimento econômico israelense baseado nas Start Up's, e nos números impressionantes, mesmo se comparados com países com economias mais fortes, como Inglaterra, França e Alemanha.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Milagre não. TRABALHO!

É muito comum dizerem que Israel é uma terra abençoada, por ter vencido todas as guerras nas quais foi colocada, e mesmo após 2 mil de perseguições, o judaísmo ainda vive, porém o que vejo é algo maior que milagre: é trabalho.
Milagre significa esperar uma ação divina e e usufruir dela, mas o judaísmo é uma religião que acredita em atividade da humanidade. Pedimos a D'us, mas também fazemos por merecer, afinal, são boas atitudes que transformam o mundo!
Minha (ainda pouca) experiência de trabalho em Israel mostra que o nível de esforço é elevado, ainda hoje, enquanto este país "surfa" numa boa onda da economia: crescimento do PIB na faixa de 4% constantes há quase 10 anos, taxa de inflação negativa nos últimos 3 anos, elevação do salário mínimo, elevação do salário mínimo dos professores, porém nada veio de graça.
Especialmente após a fundação do país, diversos trabalhos estruturais foram realizados, como captação, tratamento e distribuição d'água, geração de energia elétrica, por exemplo.
O ritmo de trabalho aqui é na faixa de 180 a 220 horas ao mês, o que gera um ritmo de trabalho de 9 a 10 horas diárias, 5 dias por semana, com 30 min de refeição. Claro que é possível já conseguir um emprego em sua área de atuação, mas o quanto de hebraico ela demandará e se sabe? Qual o seu nível de conhecimento em inglês? A demanda aqui é elevadíssima, não cabendo enrolações.
O imigrante novo normalmente vai trabalhar em ramos comuns de trabalho, como limpeza, operacionais, auxiliares de cozinha ou comércio. É preciso encarar como uma fase de adaptação, afinal, a barreira da língua impede melhores posições de trabalho. E de qualquer forma, aqui trabalho é trabalho, e precisa ser feito. Não existe, como no Brasil, discriminação social pelo cargo da pessoa. Ouvir algo como "Você sabe com quem está falando?", infelizmente ainda comum no Brasil, ou deboches sobre o trabalho que você realiza, aqui não existem.
Geralmente aceitar a primeira proposta de trabalho, ainda mais fora da sua formação, não é a melhor opção. É necessário avaliar se valerá a pena o esforço, se você será capaz de aprender algo de útil para sua vida e se lhe oferecem vantagens.
Eu trabalhei em hoteis no Mar Morto, e lá, geralmente, o restaurante dos funcionários era muito bom, incluindo até refrigerante, cerveja e sorvete a vontade para se servir. Também trabalhei como vendedor numa loja, e lá a vantagem é o desconto de 30% em compras que eu fizesse lá.
A minha recomendação, para eventuais futuros imigrantes, é prestar a atenção ao que dizem a respeito dos locais de trabalho, pois há sim abusos trabalhistas e promessas não cumpridas. Tanto que para se garantir, o melhor é ter tudo anotado em documentos, pois em certos casos, entrar na justiça impedirá novos abusos, além de uma possível boa indenização, porém é sempre melhor evitar a dor de cabeça.
Outra recomendação é vir com a mente aberta e compreender que um trabalho fora da sua área pode ser uma ótima forma de aprimorar sua capacidade de se comunicar e também compreender que praticamente todos neste país também trabalharam pesado.
E por último é aprender a se impor, sem ser ríspido, pois se você for bonzinho, como brasileiros costumam ser, vão colocar mais trabalho nas suas costas e isto não é bacana, mas acontece. Portanto, também se aprende a colocar limites para que todos trabalhem igual, e um não fique de forma folgada e o imigrante novo segurando todo o peso.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Aborto

O tema é polêmico e vou primeiramente abordar sobre a lei em Israel.
O Aborto aqui é legalizado!
Isto não implica que seja simples de ser feito na rede pública, pois cada caso é analisado por uma junta médica que proferirá sua decisão. Um dos pontos observados é o período da gestação. Em casos de procedimento particular, não há qualquer barreira legal, exceto o valor, como qualquer outro procedimento médico.
O aborto é, na minha visão, uma agressão ao corpo da mulher, mas as origens da gravidez, por vezes são agressões física e psicológica tão ou maiores quanto. O fato de eu ser religioso e contra o aborto não me impedem de ser a favor da legalização do procedimento. Creio que valores religiosos não podem se sobrepor as vontades e necessidades reais das pessoas.
Há alguns pontos que gostaria de colocar para explicar minha posição. Como eu não sou mulher, não posso gerar um filho em meu ventre e isto me coloca numa posição de passividade frente ao que se passa na cabeça das mulheres durante esta decisão. Mesmo que uma parceira minha estivesse grávida e optasse pelo aborto, eu a deixaria ciente da minha posição, sem faze lo de forma a causar constrangimento, e sim apenas de expor minha contrariedade, pois da minha parte, apoio emocional e financeiros estariam garantidos, o que infelizmente não é uma realidade geral. Há séculos, senão milênios, a política é machista, sexista e voltada a determinar o que cada uma pode ou não fazer consigo mesma. Pensa se mais na manutenção de uma vida ainda em formação do que naquela já formada, e nas consequências que isto implicaria para ambos após o nascimento.
Num momento de acirramento de ideologias político-religiosas, de posições políticas apaixonadas e emburrecidas, eu opto pela liberdade que cada um tem em decidir seu destino. E aproveitando este mesmo acirramento, é extremamente estarrecedor que muitos dos que são veementemente contrários ao aborto serem também favoráveis a pena de morte. Se um feto é uma vida plena e não pode ser "assassinado", como dizem, porque uma vida adulta pode? Isto é ser pró nascimento, e não pró vida!
Outro ponto é que o fato de não ser legalizado não implica em não ser praticado. As mulheres pobres os fazem com métodos que até colocam suas vidas em risco, enquanto aquelas mais abastadas viajam para onde o aborto é legalizado, pagam por isto e continuam com suas vidas sem riscos.

Eu não me refuto a tratar de temas polêmicos envolvendo Israel e em parte o judaismo (tenho tentado manter valores religiosos de lado), e tenho sido alvo de críticas por conta das minhas opiniões expressadas tanto aqui no blog quanto pelo Facebook. E isto, para mim, servem como combustível para continuar, pois este blog não tem a preteção de ser mais do mesmo, de mostrar apenas belezas e exaltar Israel, ou de ser como aqueles que tão cegamente o crítica, sem nem mesmo ter chegado perto daqui; minha pretenção é fazer a devida comparação com o Brasil, ilustrar seus acertos e erros, pois entendo que algo que esteja bom pode ser melhorado.
Quero deixar claro que ser religioso não me faz ser contra liberdade individuais!

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Sistema de saúde

Em quase todo o mundo, judeus são conhecidos pelo seu forte envolvimento com a Medicina. Faz parte da cultura religiosa de valorização da vida. Nos brindes dizemos "Le Haim" (À Vida), normalmente as doações de dinheiro são feitas em multiplos de 18, pois representam o valor numérico da palavra viver (Hai). Numa das últimas falas de Moisés, D'us ordena que ele avise a todo o povo que terão duas opções: a morte e a vida, e que deveremos escolher a vida (portanto não é uma escolha, é um mandamento). Só pra citar alguns exemplos.
São Paulo tem um hospital de referência internacional, o Albert Einstein, assim como Nova Iorque tem o Monte Sinai Beit Israel, como outros exemplos pelo mundo afora.
No Estado de Israel não é diferente. Na verdade, diversos avanços mundiais da Medicina vem daqui. Porém minha intenção não é exaltar a magnitude das pesquisas médicas daqui, tampouco falar sobre questões religiosas, e sim falar do sistema de saúde.
Assim como no Brasil, a assistência médica é pública, mas as coincidências param por aí. Por conta da Constituição 1988, a Jurisprudência tende a dar amplo e total favorecimento ao cidadão, a todo e qualquer custo, sem cobrar nada diretamente. Aqui, o entendimento é um pouco diferente. Algo público não é necessariamente gratuíto, e com a saúde não é diferente. O entendimento legal é que tem direito ao sistema público quem contribui para mante lo. Por exemplo, cidadãos que retornam a Israel (תוֹשָׁב חוֹזֵר, Toshav Chozer), tem um período de carência em atendimento não emergencial após voltarem a contribuir com o sistema de saúde. Isso foi instituído pois haviam os que retornavam a Israel, faziam algum tratamento, e depois iam embora, deixando a conta para o governo pagar.
Planos existentes com a % da população atendida
Todo trabalhador assalariado tem descontado do seu salário uma porcentagem que é destinada ao sistema previdenciario (até aí parecido com o Brasil), que inclui o serviço de saúde pública. Ele é oferecido por empresas terceirizadas, quase como numa Parceria Público Privada, e como no Brasil, nem tudo que é privado é bem feito e tem seu problemas, e quem paga a conta é o erário público. Aposentados devem retirar uma parte do seu benefício para o pagamento do sistema de saúde.
Os planos básicos são iguais entre sí e não resultam em maior pagamento por parte da população. O governo define uma cesta de procedimentos e medicamentos inclusos e aqueles que poderão ter algum pagamento adicional a ser feito no momento do procedimento. Já os planos especiais tem suas diferenças e cabe ao cidadão optar por ele ou não e pagar diretamente ao plano de saúde o valor adicional que lhe foi informado, conforme faixa etária, em valores atraentes.
O cidadão tem o direito a trocar gratuitamente de plano a cada 6 meses e os planos são obrigados a aceitar, mesmo que seja um retorno. Para aqueles que optaram por planos superiores o prazo é o mesmo para voltar ao plano básico. A "dificuldade" é que caberá ao cidadão transferir o prontuário médico de um plano para outro. E se mudar apenas de residência, deve pedir a transferência do prontuário de um posto de saúde para aquele mais próximo ou conviente.
Pacientes só são atendidos diretamente em hospitais em casos de acidentes graves e claro risco de morte, senão ele será cobrado particularmente e os preços são bastante caros. Embora recentemente eu soube de casos de atendimento durante o Shabat, quando os posto de saúde estão fechados, e antes de ser cobrado, o paciente se dirigiu ao posto de saúde, explicou ao médico o que houve, e este emitiu um encaminhamento retroativo e não precisou pagar, mas são poucos os que sabem disso.
Outra possibilidade, durante o Shabat, é se dirigir aos postos de saúde privados, como da rede Terem. Durante o Shabat ou qualquer outra festividade, onde os postos de saúde estão fechados, eles atenderão normalmente cobrando valores muito baixos pela consulta e procedimentos, e em casos de encaminhamento para hospitais, cobrarão apenas pelo atendimento, pois os planos cobrem os custos hospitalares, e ao ser transferido, o mesmo será feito mediante autorização dos planos. Se for em horário convencional, os preços são mais elevados, mas como há problemas no serviço dos planos de saúde, cada vez mais estão sendo requisitados, e fazem atendimentos rápidos, acertivos e a população tem ficado satisfeita, exceto por pagar a mais.
Outro detalhe aqui é que quando se trata da primeira consulta, ela é sempre feita com o chamado médico da família, equivalente ao clínico geral. Ele fará uma avaliação prévia e em caso de necessidade encaminhará o paciente para tratamento com o especialista. E enquanto durar este tratamento, o paciente irá diretamente com este médico. Se precisar de outro tratamento, votlará ao médico da família, mesmo que esteja com outro tratamento sendo feito.
O tempo de espera para uma consulta geralmente é curto, quanto a exames poderá ser encurtado se o atendimento for feito em outro posto de saúde.
Hospital Soroka. Foto: Dr Avichai Teicher
O imigrante novo, ao chegar em Israel e ser direcionado para seu registro como cidadão, já fará a escolha do plano de saúde. De modo geral, a Clalit, por ser a mais velha de todas, é a mais recomendada por ter forte atuação em praticamente em todo o território, com destaque para Beer Sheva e seu Hospital Universitário Soroka. O Macabi tem uma atuação maior na região central do país, como Tel Aviv e cercanias e Jerusalém também. O Meuchedet é mais voltado para o público religioso, portanto, homens e mulheres tem atendimentos com profissionais do mesmo sexo, respeitando regras religiosas. O Leumit é o mais novo, único fundado após a fundação de Israel, com pequena participação no mercado, com um pouco mais de destaque na região norte.

Os problemas no sistema público

Provavelmente por má gestão, os planos todos os anos precisam receber bilhões de shekels do governo para se manterem operantes. O mesmo vem ocorrendo com grandes hospitais.
Um problema recorrente é o mau atendimento por parte de funcionários receptivos, que em muitas vezes não demonstram muita vontade em cooperar com pacientes visivelmente enfermos. Como imigrante novo, ainda tenho dificuldade em agendar um exame via internet ou por telefone, e as recepcionistas podem fazer isto, mas já houve vezes em que se recusaram sem um motivo aparente.
O número de médicos é mais baixo que o necessário, gerando lacunas no atendimento. Eu mesmo precisei esperar meu médico voltar de férias pois meu caso não era emergencial.
Outro problema com médicos é que muitos reclamam que seus salários estão abaixo do que desejariam, e muitos tem apostado em clínicas médicas particulares, consiliando com o trabalho para os planos em Posto de Saúde ou Hospitais, mas em horários reduzidos, quando o fazem.
Enfim, é um sistema em geral bom, mas precisa de ajustes para se manter forte.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Os judeus da Etiópia

Quase o mundo todo tem uma percepção de que judeus são brancos, muitas vezes loiros ou ruivos, vindos da Europa, especialmente Alemanha, Polônia e Rússia, mas a realidade é que há muitos que são morenos, mulatos, indianos e negros, como eu escrevi aqui. Judeus do Brasil vieram de diversos países além da Europa, como Turquia, Líbano, Síria, Iraque, Irã e Marrocos, só para citar alguns países fora do conhecimento padrão. No caso específico dos negros, a maioria absoluta vem da Etíopia, embora exista outras pequenas comunidades na África, como Uganda.
O caso dos judeus etíopes deve ser motivo de estudo por historiadores, antropólogos e sociólogos, para dizer o mínimo, pois a vinda deste grupo para Israel é uma prova da necessidade da existência de um país como este.
Vou me concentrar na história recente, na Operação Moisés (מִבְצָע מֹשֶׁה), que foi uma operação de resgate de judeus etíopes que viviam em situação de extrema miséria em condições tribais. Com o apoio do governo do Sudão, país a princípio inimigo (assim como muitos de maioria muçulmana), uma frota de aviões pousou naquele país para que militares invadissem secretamente a Etiópia e resgatassem milhares de judeus etíopes para serem levados a Israel.
Iniciada em 21 de novembro de 1984, a Operação envolveria o transporte  de 8 mil judeus etíopes de campos de campos de refugiados no Sudão diretamente para Israel, foi encerrada em janeiro de 1985. Milhares haviam fugido a pé da Etiópia para o Sudão. Segundo estimativas, cerca de 4000 pessoas morreram durante a travessia, que em geral era feita a noite e tiveram que lidar com a situação da fome.
A Operação Moisés foi encerrada no dia 5 de janeiro de 1985, depois que Shimon Peres (1º Ministro), durante uma conferência de imprensa, confirmou o teor da Operação, pois já haviam suspeitas da imprensa a este respeito. Foi, na minha opinião, um erro estratégico, pois o Sudão encerrou a cooperação logo após o discurso de Peres, uma vez que o governo sudanês sofreu muita pressão negativa vinda de países da Liga Árabe.
Yityish "Titi" Aynaw, Miss Israel de 2013
Israel e Etiópia não tiveram relações diplomáticas entre 1973 e 1992, também por influência de países da Liga Árabe, embora houvesse colaboração mútua anterior ao rompimento das relações diplomáticas. Até os dias atuais muitos etíopes ainda chegam a Israel como cidadãos plenos, gozando até de maior ajuda que outros grupos de imigrantes, como americanos, brasileiros ou russos. Tudo por conta da situação de forte pobreza daquele país, fazendo com que os que imigram não tragam consigo recursos suficientes para viverem minimamente bem, dependendo quase que inteiramente do governo.

Problemas de Adaptação

Embora seja extremamente louvável os esforços do governo israelense da época, e também o do Sudão pela permissão dada, até hoje há um problema interno muito difícil de lidar, que é a inserção e absorção destes imigrantes. Como eu escrevi acima, a maioria vivia em condições tribais, não conhecendo questões mínimas de uma vida numa sociedade ocidental, como morar numa casa, acender um fósforo, como segurar uma caneta, ler e escrever.
Com isto, até os dias atuais, os mais velhos, aqueles que vieram na Operação Moisés, tem dificuldade de lidar com a vida em Israel, não conseguindo trabalho ou quando conseguem, em cargos sempre menos elevados, tendo portanto, salários mais baixos. Tanto que alguns acabaram saindo de Israel e indo morar em outros países, incluíndo os EUA.
Protesto em Tel Aviv, em 2015. Foto: Tomer Neuberg/Flash90
No Centro de Absorção em que vivi, em Beer Sheva, há vários deles que vivem alí permanentemente, embora seja um local de passagem, e normalmente, é para viver de 6 meses a 1 ano, no máximo. Eles são os que mais se inscrevem em programas do governo para residências para cidadãos de baixa renda.
Os filhos desta geração e aqueles que vieram posteriormente tem uma condição de vida mais dentro da normalidade (dentro dos padrões ocidentais de normalidade de uma vida em sociedade), assumindo diversos cargos, inclusive dentro do governo, servindo ao exército, estudando nas Faculdades e Universidades do país, portanto, mais preparados para evoluirem na vida sócio econômica. É o caso da primeira negra eleita Miss IsraelTiti Aynaw (foto acima, com a badeira)nascida na Etiópia. Lembro bem de uma etíope em Tel Aviv, linda com uma roupa que misturava um pouco da cultura daquele país, e com um belo coque. Pena que eu não consegui fotografa la. Deslumbrante!
Por conta desta dificuldade ainda enfrentada, muitos acusam ao governo de racismo. Eu, que sou extremamente crítico às políticas belicistas de Benjamin Netaniahu, devo reconhecer que da parte do governo isto não existe. O que existe é de uma minoria da população, especialmente de outros imigrantes, como russos, um comportamento racista.
Da parte dos empresários, como eles podem contratar pessoas que tem dificuldades básicas, como acordar cedo de acordo com um horário? Pois na Etiópia eles não usavam relógios, portanto começam o seu dia quando acordam, seja o horário que for. Se bem que de acordo com esta reportagem, há parte dos empresário que fazem escolhas de funcionários pela cor da pele. Particularmente eu ainda não presenciei nenhum caso, mas tenho conhecimento de dois específicos:

  • Uma passageira, num onibus em Beer Sheva, gravou em vídeo os insultos racistas que ela proferia a uma etíope, dizendo que ela deveria tomar banho e limpar o chão por onde passava. A imbecilidade foi tão sem tamanho que ela mesma publicou no Facebook.
  • O outro caso eu não conheci os detalhes, mas ocorreu numa publicação num grupo de ajuda mútua de judeus brasileiros, de onde está nascendo uma ONG voltada para brasileiros, onde a administradora, Gladis Berezowsky, muito atuante, apagou a publicação, expulsou a pessoa do grupo e ainda ressaltou que não há tolerância para este comportamento.

Portanto, não é por não ter presenciado que eu seja inocente em não reconhecer que isto exista por aqui. A questão é que aqui é bem menor e quando ocorre é mais descarada do que no Brasil, que tem inclusive um vereador negro e racista, e uma boa parte da população brasileira não admita que o racismo existe. A grande questão é que, apesar das dificuldades que muitos enfrentam no seu cotidiano aqui em Israel, do qual fiz questão de relatar, é fácil ver os descendentes de etiopes sendo tratados como devem, em pé de igualdade e obtendo relativo sucesso, nada além do que qualquer pessoa, independente de origem ou cor de pele mereça.

OBS: Eu ia deixar esta publicação para o celebrar o Dia da Consciência Negra no Brasil, dia 20 de novembro, mas dada a gravidade da notícia de que o jornalista William Waack proferiu insultos racistas antes de entrar ao vivo na TV e que foi afastado da apresentação do Jornal da Globo (maior rede de TV da América Latina), achei por bem adiantar um pouco desta história interessante e tocante.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Importância de aprender língua extrangeira.


Como a humanidade se comunica por diversas línguas, a questão comercial em se aprender uma outra língua é o principal motivo de escolha por uma em detrimento de outra. A origem familiar também pesa bastante na escolha. Para nós, brasileiros, o inglês ainda tem uma importância comercial muito grande. Lembro de antes de estudar no meu mestrado, comentei com amigos que queria estudar alemão, e eles me olhavam como seu eu fosse um doido - afinal, a vida é muito curta para aprender alemão, é uma língua para falar com cachorros... dizem. Iniciei o mestrado, e passei a estudar francês pois considerei que por ser de origem latina, aprenderia mais rapidamente e teria contato com um volume interessante de livros e publicações; daí me chamavam de viado - afinal, é língua de gente fresca. Foi se o tempo em que o francês era ensinado nas escolas públicas. Minha mãe que o diga, pois cresci aprendendo palavras e pequenas expressões em francês. E meu pai pesquisando matemática em francês e as vezes em russo.
Se teve algo que aprendi na vida é a não me basear na vontade dos outros, senão faremos tudo, e não teremos nada, e ainda seremos infelizes. Deixe o preconceito alheio de lado e siga suas vontades. Um dia voltarei a estudar francês e começarei a estudar alemão.
Aprender uma outra língua, ou outras línguas, tem implicâncias muito maiores do que abrir portas para um emprego melhor, afinal de contas, a vida não pode ser baseada em trabalho e carreira. É claro que isto é importante, não dá pra viver apenas de amor, porém resolvi listar aqui alguns motivos para se dedicar a este estudo:

  • Ampliar a visão de mundo - Cada língua atravessa caminhos para chegar a um mesmo objetivo: expressar uma necessidade ou um desejo. Compreender uma nova língua o fará entender melhor como se comportam algumas pessoas. Acredite ou não, parte do comportamento humano está diretamente ligado a língua que falamos. Os franceses, por exemplo, são muito formais, tendo pronomes para uso formal e uso íntimo. Tecnicamente também temos com o português - Senhor e Senhora são pronomes de tratamento formal, denotam certa distância e por isto mesmo não permitem intimidade, mas a Igreja Católica adotou o termo Senhor para traduzir o nome de D'us na Bíblia, ou estes pronomes são associados uma idade avançada, existe receio em usa los por conta disto;
  • Compreender uma sociedade através de canais diretos, sem intermediários. No caso de Israel, quantas vezes não se escuta das atrocidades cometidas pelo Exército ou Governo de Israel, sendo que não se tratava daquilo que foi dito? Enquanto escrevo isto, haviam notícias por aqui a respeito de um falso alarme de ataque aéreo em Tel Aviv e região, assim como é quase diário notícias de mísseis lançados de Gaza para cá, que felizmente caem no deserto, mas não são noticiados no Brasil, e quando ocorre uma incursão militar lá, somos acusados de ter começado um novo conflito;
  • Olhar para sí próprio através de uma nova perspectiva. Coisas que nos parecem óbvias, nem sempre o são para outros. Quem fala inglês como língua nativa, por exemplo, se depara com outra realidade quando vão a países de língua românicas, como francês, espanhol, italiano e o nosso português, pois nossas palavras tem gênero, e no inglês não;
  • Expresões idiomáticas são expressões de uma sociedade e refletem sua forma de ser. Este tipo de exercício mental é ótimo para mante la saudável, pois passaremos a pensar em diversas forma para expressar o mesmo em cada idioma. Há diversos estudos que mostram que falar com frequência duas ou mais línguas provoca melhoras no nosso cérebro, provocando melhoras em funções cognitivas e resolução de conflitos;
  • Melhorar sua experiência turística - sabendo o idioma local, ou uma segunda língua, as chances de você receber dicas de locais a visitar, que estão fora de roteiros turísticos, aumenta significativamente;
  • Ampliar suas fontes de pesquisa - diversos trabalhos acadêmicos são publicados em diversas línguas, e ter acesso a elas nos abre os olhos para um mundo diferente e reforça nossas pesquisas;
  • Toda tradução é uma interpretação, pois cada língua tem suas regras gramaticais, e eventualmente as palavras tem duplo ou mais sentidos, que só são percebidos em determinados contextos. Por isto mesmo um tradutor automático pode ser bom, mas também pode nos levar a erros grosseiros. No Brasil podemos dizer que algo é gostoso, por exemplo, pão de queijo; mas também podemos dizer que alguém é gostoso, para falar de uma pessoa sensual aos olhos de outra. Em inglês e no hebraico temos o verbo Ficar em Pé, no português não;
Encontrei um ranking das línguas mais faladas no mundo atualmente, segundo este site:
  1. Mandarim - 1,2 bilhões de falantes;
  2. Espanhol - 400 milhões;
  3. Inglês - 360 milhões;
  4. Árabe - 267 milhões;
  5. Hindi - 260 milhões;
  6. Português - 215 milhões;
  7. Bengali - 170 milhões;
  8. Russo - 170 milhões;
  9. Japonês - 130 milhões;
  10. Punjabi - 100 milhões.
Mas note que este ranking se refere a quantidade de pessoas falantes, e não a importância econômica ou histórica dos países envolvidos, ou eventualmente a quantidade total de falantes se considerarmos a 2ª língua - neste caso, este ranking está quase totalmente errado.
Enfim, procurar por uma língua extrangeira, ainda mais se for por vontade própria, alheio a necessidades comporativistas, pode ser uma experiência muito interessante e provocar um engrandecimento pessoal também.
Na minha experiência, tendo a Língua Portuguesa como língua nativa, o Inglês como segunda e como língua franca, a Língua Espanhola como língua de apoio (eu me atrapalho todo com o espanhol) e agora a Língua Hebraica como 2ª língua, posso dizer que saber outras línguas fez me crescer com o Hebraico, pois muitas vezes numa língua encontrava a resposta direta que a Língua Português por vezes não me dava. Um exemplo simples é o verbo Esperar, que pode ser entendido como ter esperança ou aguardar, ou o verbo Tocar, que pode ter o sentido de tocar em alguém ou algo, ou tocar um instrumento - são tipicos exemplos que podem gerar confusão.
Chama me a atenção o número de pessoas interessadas no Português, por exemplo. O Gavin Roy, que possui um canal no Youtube, aprendeu sozinho, fez um intercâmbio no Brasil, e hoje além de lecionar inglês a brasileiros, também está aprendendo tcheco. Já o Axel é um alemão que também aprendeu sozinho o português do Brasil. O Aleksey Valeks é um russo e já expressou sua vontade de morar no Brasil.
No caso do hebraico, uma clara vantagem é de ler a parte inicial da Bíblia, que chamamos de Tanakh (Torá, Neviim e Ktuvim, ou simplesmente o Pentateuco, Livro dos Profetas e Os Escritos), que originalmente foi escrita em hebraico, bem como entender as poesias e romances escritos neste idioma, como os de Amós Oz e Yuval Harari.
Finalizo com um vídeo do Paul Lang, do canal LangFocus, com um vídeo sobre as caraterísticas e história da Língua Hebraica, diferenças entre Hebraico Bíblico e Moderno, e também comenta um pouco dos motivos que o levaram, mesmo não sendo judeu ou cidadão de Israel, a aprender Hebraico, embora ele reconheça que seja num nível intermediário. OBS: Há como colocar legendas em Português.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Ulpan

Ao chegar em Israel, o novo imigrante tem direito a estudar gratuitamente num Ulpan, nome dado para a Escola de Ensino Intensivo de Lígua Hebraica. Instituído após a fundação do Estado de Israel em 1948, os Ulpanim (plural de Ulpan) foram utilizados para alfabetizar e introduzir a sociedade os imigrantes que vinham para Israel no período do pós Guerra, onde muitos tinham medo (Europa) ou não podiam voltar para seus países de origem (Norte da África e países árabes). O nome advém da primeira letra do alfabeto hebraico, o Alef ("f" e "p" são escritos com a mesma letra), pois o nome do alfabeto em hebraico é alefbeit (2 primeiras letras). Apenas o nível Alef é gratuíto para o recém chegado. Os demais tem desconto de 70% por um dado período de tempo após a chegada.
O Ulpan continua com a mesma proposta, tendo até 6 níveis, mas normalmente sendo mais fáceis de encontrar apenas os 2 primeiros e sendo os 2 últimos praticamente só encontrados em universidades. Recebem o nome de acordo com a ordem alfabética (alef, beit, guimel, dalet, hei, vav), como se em português chamassemos de níveis A, B, C...
De todos os níveis, o mais importante, difícil e polêmico é o nível Alef. Nele estudamos desde a alfabetização, passando pelas bases dos tempos presente e passado nos diversos grupos verbais existentes, pronomes e preposições, numerais no masculino e feminino, além de expressões idiomáticas sem tradução direta, redação básica, em 5 meses de um curso diário de 5 horas por aula. No meu caso, foram ensinados 124 verbos, todos no tempo presente, passado e também o futuro, embora este último não faça parte do programa original. Pode até parecer fácil, mas o tempo presente possui simples 4 conjugações: masculino, feminino, plural e plural feminino. Já o pretérito tem uma conjugação para cada pronome (Eles e Elas se repetem). E o futuro tendo 7 conjugações, sendo iguais para alguns pronomes, e cheio de exceções.
A importância está por se tratar da base, da raíz, da estrutura da língua, tudo isso sem grandes explicações, que serão dadas apenas conforme for se elevando de nível. A dificuldade está tanto na didática, ou a falta dela, na falta de material de apoio fora o livro (que no meu caso foi muito pouco usado), como na falta de preparo prévio dos imigrantes que frequentam o curso. A polêmica fica por conta do tratamento diferenciado dado aos imigrantes russos, que as vezes tem "preferência", pois há professoras que sabem russo e dão explicação apenas na língua deles ou em hebraico, e o temperamento de muitas professoras, que são tipicamente israelenses, sem paciência e facilmente gritam.
Muitos vem com altas expectativas, esperando sair já no meio do curso falando minimamente, ou escrevendo minimamente, mas isto não ocorrerá se não vier com um estudo prévio. Daí que alguns largam o curso antes mesmo da metade.
Não dá para ter como base apenas uma ou outra opinião, mas nem por isto devem ser desprezadas. Yali Berlinski, brasileira do Rio de Janeiro, que escreveu este blog, teve uma impressão muito ruim, comparando o Ulpan a "triturador de lixo mental". Não vou tão baixo, de todo modo a minha experiência foi muito abaixo do esperado, tendo melhorado da metade para o final, porém com um começo bastante complicado. Primeiramente me disseram que eu seria avaliado na 1ª aula para me direcionarem para uma turma adequada, o que não ocorreu e ao longo do tempo era visível que eu sabia muito mais e compreendia melhor que os outros alunos. Não se trata apenas de eu ter vindo com conhecimento prévio para cá, ter um bom conhecimento de uma 2ª língua e bagagem cultural, mas outras razões como baixa escolaridade, alunos que pouco conhecem sua lingua nativa, e não tem conhecimento de outra.
Segundo amigos professores de língua estrangeira, a exposição diária em aulas deveria ser de no máximo 2 horas, e com maior interação entre os alunos, e não como normalmente ocorre, onde ficamos sentados o tempo todo sem exercitarmos a conversação, e apenas repetindo termos e escrevendo muito.
Foto: Nati Shohat - Times of Israel
Houve até uma aula em que minha profª me levou a um nível de estresse tão alto que eu praticamente gritei com ela, do mesmo modo que ela gritava comigo, como se aquilo que ela tentava ensinar fosse óbvio e eu um retardado ou  desleixado - ficou evidente que ela reconheceu o erro dela pois só voltou ao tema meses depois. Fora quantas vezes diversos alunos saiam da sala chorando, tristes e estressados com a tensão que a professora criou.
É por estas que eu insisto com amigos que falam em vir morar aqui para se prepararem e estudarem muito antes de virem. Não basta apenas reclamar, pois a situação não mudará tão cedo. É necessário se esforçar muito, e daí o motivo de eu recursar me misturar demais com outros brasileiros, em especial na colônia de Ra'anana, pois falar portugês é fácil para mim, em alto nível também, o difícil tem sido muito mais falar em hebraico do que compreender o hebraico. Há que se forçar em falar, mesmo que errado, pois normalmente os nativos são compreensivos e ajudam um pouco. O uso do inglês, por exemplo, facilita por vezes, mas cria um vício.
De qualquer forma, escuto muitos elogios de outros imigrantes brasileiros quanto ao Ulpan, em especial os que foram para onde inicialmente eu iria, Haifa, assim como alguns em Jerusalém.
E mesmo com as dificuldades iniciais, se alguém me perguntar se eu estou arrependido, digo que não, apenas teria escolhido um Ulpan diferente. Recomendo fortemente a todos a não abandonarem o curso, a não ser que tenham algum outro plano ou possibilidade de estudar noutro lugar, pois ficar em casa reclamando do governo ou das pessoas, sem fazer algo de efetivo por sí, não resolve nada.
Lendo a versão hebraica do Wikipédia a respeito dos Ulpanim, diz que um estudo do governo de Israel em 2007 mostrava que 60% dos adultos com 30 anos ou mais saem do curso sem saber ler, escrever ou falar minimamente, sendo que no caso dos imigrantes russos a situação piora para 70% - e no caso dos russos eu via isso, o quanto eles sofriam para entender expressões ou verbos simples, mantendo certos vícios da língua russa. Segundo a reportagem do jornal Haaretz, este problema tem acarretado em desemprego e isolamento, dificultando além do normal o processo de absorção.
A reportagem também trás a fala de "Meir Peretz, diretor da divisão de educação de adultos do Ministério da Educação (na época), apontou que Israel fornece apenas 500 horas de aulas hebraico, apesar de estudos internacionais mostrarem que uma média de 1.320 horas de aulas é necessária para aprender uma língua estrangeira". Portanto, já se passaram 10 anos desde que este estudo se tornou conhecido e não vi uma resposta a altura.
Como judeu bom é judeu que faz piada com a situação, aqui não deixam por menos. A questão de como os russos se portam e falam em público virou piada no seriado Ketzarim (Curtos Circuitos, tradução minha), onde uma secretária e o empregado russo falam apenas por palavras chave, verbos no infinitivo e conjugação errada. Traduzi o começo: "Então... Eu trabalha duro estar. Não há. Então. Eu procuro, não. Procuro, procuro, não. Lá, eu loja. Não aqui. Casa pequena. Três crianças. Onde?" (começo da fala do grisalho).

2 anos longe de muitos, mais perto de mim.

Já pararam para pensar que a vida de uma pessoa é como um livro, escrito em tempo real? Felizmente, ou não, jamais teremos acesso a totali...