terça-feira, 28 de novembro de 2017

O tal Milagre Econômico.

Há anos vejo comentários de fundo religioso para explicar o sucesso socio econômico pelo qual Israel passa, como o termo Milagre ou Terra Prometida... Eu, enquanto religioso moderado, me arrepio quando escuto ou leio isso. Acredito muito mais em sermos responsáveis pelos nossos milagres, ou seja, o milagre ser resultado de nosso esforço, por vezes invejável. Claro que por vezes o esforço próprio não é o bastante, pois senão, o Brasil teria milhões de milhonários.
Israel, embora seja considerado um sucesso, já passou por muitas dificuldades, então resolvi listar algumas:
  • Guerras - Coloquei em primeiro por ter sido o primeiro desafio enfrentado por Israel, que no dia seguinte a declaração de independência (ocorrida em 14 de maio de 1948) foi atacado pelos países da Liga Árabe (Egito, Jordânia, Siria, Líbano e Arábia Saudita), sendo atacado por Sadan Hussein durante a Guerra do Golfo Pérsico. Até os últimos confrontos com o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza;
  • Clima - Não é segredo que esta terra é árida, quente, seca, pobre em minérios e até sua fundação também com fraca infra estrutura;
  • Economia - Israel já passou por uma crise econômica, tendo o ápice nos anos 80, onde uma forte desvalorização do Shekel, uma inflação que beirou os 400% ao ano, até o momento em que o Shekel foi substituído pelo Shekel Novo em 1985, onde se cortaram 3 zeros, numa ação que era muito comum no Brasil até o plano Real;
Os anos 50 e 60 foram relativamente muito bons para Israel, pois além da vinda de muitos imigrantes expulsos dos países do Norte da África, países contrários a existência do Estado Judaico, também recebeu compensações financeiras que eram recebidas para reparação dos males causados durante o Holocausto, tratadas num acordo entre Israel e a Alemanha, desesperada para limpar sua imagem de país de criminosos da humanidade. A Suíça, que na língua inglesa é sinônimo de neutralidade, também assinou contratos de compensações financeiras após reconhecer que muitos de seus bancos se aproveitaram das riquezas judaicas durante a 2ª Guerra para enriquecer.
Taxa de inflação entre 1978 e 1986. Gráfico obtido com o Banco Mundial.
Porém a Guerra do Yom Kipur, em 1973, causou estragos não apenas com as perdas humanas que aquele ataque coordenado pelos vizinhos Líbano, Síria, Jordânia e Egito, causou também sérios problemas na economia local, que seguiu com crescimento muito abaixo dos alcançados anteriormente, saindo dos 14% ao ano em 1972 chegando ao 0% em 1977.
A moeda corrente na época era a Lira Israelense sofreu seguidas desvalorizações no mercado internacional, tendo sido substituída pelo Shekel pouco depois, e mesmo o Acordo de Paz entre Israel e Egito não causou melhoras econômicas. O pior momento econômico foi o ano de 1984, com a inflação chegando a incríveis 370% ao ano.
Uma das apostas do governo foi no incentivo para criação de novas e pequenas empresas, no que hoje é chamado de Start Up's, onde o governo investiria mais forte em educação e daria incentivos fiscais para investidores internacionais, receberia apenas o valor investido de volta em caso de sucesso, mas não arcaria com possíveis prejuízos. Esta alternativa foi importante pois ocorreu juntamente com a Operação Moisés e futuramente com a queda da União Soviética, milhões de novos cidadãos chegaram ao país.
Taxa de Inflação anual de Israel, de 1987-2016.
Em 1985 o governo de Shimon Perez deu início ao Plano de Estabilização Econômica, contanto com ajuda de diversos analistas dos EUA, onde havia misto de soluções liberais com táticas heterodoxas, como controle de preços, junto com outras iniciativas, como desvalorização cambial, corte dos 3 zeros da moeda nacional e instituição do Shekel Novo (moeda corrente até os dias atuais), redução drástica do déficit público e congelamento de todos os agregados econômicos indexados em Shekel Novo, forte elevação da taxa de juros nacional, o que sempre gera um risco de forte recessão.
Apesar dos riscos, passados mais de 30 anos após a criação do plano, juntamente com os acordos de paz com a Jordânia e a ANP nos anos 90 e a consequente queda na quantidade de conflitos armados contra Israel, provocaram recuperação econômica inicialmente lenta porém progressiva e consistente, gerando hoje uma preocupação pela taxa de inflação negativa, pois isto tende a levar a economia a recessão.
Portanto, o tal Milagre Econônomico nada mais é que uma resposta a consequência de uma guerra altamente desumana, pois o dia do Yom Kipur é onde todos os judeus permanecem em jejum total por cerca de 27h seguidas. E também uma resposta ao fim das compensações financeiras, que sustentaram o país por diversos anos e pagaram pela infra estrutura básica ainda hoje existente.
Um vídeo (em Inglês, é possível traduzir as legendas) busca mostrar um pouco dos motivos do crescimento econômico israelense baseado nas Start Up's, e nos números impressionantes, mesmo se comparados com países com economias mais fortes, como Inglaterra, França e Alemanha.

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