sexta-feira, 26 de abril de 2019

2 anos longe de muitos, mais perto de mim.

Já pararam para pensar que a vida de uma pessoa é como um livro, escrito em tempo real? Felizmente, ou não, jamais teremos acesso a totalidade do que cada um vive.
A sensação de ter completado estes dois anos em Israel é esta, da escrita do meu livro pessoal, de um modo mais intenso. O ponto chave é a experiência que se ganha em viver fora do seu país de origem e as transformações que lhe ocorrem.
Pode parecer chavão, mas definitivamente não sou mais a mesma pessoa que deixou o Brasil dia 25 de abril de 2017 no voo da Turkish Airlines. Há coisas que não mudam, e outras demoram para mudar.
Jerusalém sob frio e chuva não foi fácil, mas ainda assim linda
Lembro como se fosse a poucos instantes a minha última ligação, feita na fila de embarque da aeronave. Eu estava me sentindo sufocado, me questionando: "O que eu estou fazendo da minha vida?", eu perguntei.
É difícil definir que foi a melhor coisa que fiz, mas certamente foi uma boa opção.
Quem me conhece sabe o quanto eu me entrego e o quanto me dedico aos outros quando precisam, mas sem que eu notasse, eu estava apoiando os demais, muitos por perto avançavam, e eu parado no tempo e no espaço. Não posso reclamar, de um modo em geral, da vida que levava. De alguma forma eu era amado, eu tinha um bom emprego e sinto muita saudade de todos na escola, tenho uma boa família, mas esta sensação de comodidade, de estar para trás, preso em mim mesmo estava me incomodando há tempos.
E de repente, eu me sinto triste, sem motivos aparentes, noutros é uma felicidade sem tamanho. Noutros momentos me vejo falando outras línguas com brasileiros, como um proto espanhol, inglês e hebraico - e isto quando não há motivos para falar outra língua além do português. No dia anterior que escrevi esta publicação, tive claros sonhos em inglês e hebraico. Já me atrapalhei ao encontrar alguém falando português comigo. Ou seja, uma confusão de sentimentos.
Há, claro, frustrações ao imigrar. Conexões que pareciam inabaladas simplesmente deixam de existir, pessoas que parecem querer apenas ocupar um espaço no passado, e não no presente, como se a distância física fosse uma desculpa. Outras que diziam querer fazer parte do seu cotidiano e simplesmente sumiram. Quando parece que estou firme no meu trabalho ou algo do cotidiano, aparentemente do nada as coisas mudam e tenho que aprender a me adaptar, a seguir em frente. Por vezes sinto que estou indo bem, e não é o mesmo que sentem, e o oposto obviamente também é verdadeiro.
Contudo, há também o ganho de novas conexões. E de repente, muitas das minhas leituras que diziam que israelense, em geral é ranzinza, vão cada vez mais se provando falsas. Há muita gente grosseira, é verdade, mas quando se encontra a doçura no comportamento, saiba que é verdadeiro, e é doce como mel, e por isso mesmo, deve ser valorizado, reconhecido, e incentivado.
As dificuldades naturais da vida, quando você está longe da sua origem, são ampliadas de forma particularmente grande. Recentemente acabei indo trabalhar numa empresa que descobri ser fraudulenta, e sofri com as consequências disto, pois meu salário veio errado num mês, e no seguinte, após eu me demitir, simplesmente não recebi nada, portanto, fui obrigado a lutar com o que fosse possível para manter minhas contas pagas.
De todo modo, entre o bem e o mal, sinto que tudo isto me fortalece e não me arrependo da mudança a qual eu mergulhei, e ainda estou no mergulho. Do mesma forma que falei aos meus pais quando eles me visitaram ano passado, eu repito aqui: o que tenho conseguido, o que sinto que posso ganhar me estimula a continuar. Eu olho para trás, para tudo o que passei e sinto orgulho de mim mesmo. Talvez as escolhas não tenham sido as melhores, mas foram aquelas que tinham que ser feitas.
Percebi que evitar excessos de contatos com brasileiros, como era um motivo inicial para evitar atrapalhar no desenvolvimento do hebraico, se tornou um isolamento. Felizmente este erro foi corrigido. Vivo com brasileiros, conheci pessoas maravilhosas, e vivo com elas. É uma rede de ajuda mútua e que vale a pena ser preservada e reconhecida, e a cada novo contato, novas histórias que me inspiram e fascinam.
De alguma forma que não consigo explicar, me rodeei de pessoas boas. Desde o inícios da minha chegada, percebi que haviam pessoas que sugavam a minha energia, e soube impor uma distância de segurança, e me aproximar ou deixar que se aproximassem pessoas de bom caráter, boas vibrações, que permitem uma saudável relação de troca de idéias, de interesse por suas angustias, alegrias e esperanças.
Eu e minha fotografia exposta.
Com todas as dificuldades e saudade de tudo e todos, ainda assim eu sinto que tenho muito mais a ganhar, a receber, e dar em troca também. Em agosto de 2018 eu participei de uma exposição fotográfica, eu ainda recebo ajuda financeira para estudos, aluguel, Impostos. Em breve terei uma audiência no Ministério da Absorção e Integração para captação de fundos para minha carreira. Em nenhum momento eu tive qualquer tipo de incentivo deste gênero, e jamais terei palavras apropriadas para agradecer tamanha generosidade e carinho que recebo por meios turvos, confusos.
Há momentos que me sinto como uma criança pequena, querendo que alguém simplesmente me pegue pelos braços e resolva o que me aflige, mas ao invés disto, é como seu eu recebesse um puxão de orelhas e mostrassem o caminho, e eu tenho que seguir, e sigo.
Esta foto representa minha mudança do Sul para Tel Aviv
Noutros momentos dá uma angústia por querer me expressar e estar muito longe da minha língua nativa e não saber faze lo, mesmo em inglês, língua esta que eu falo em alto nível. 
Imigrar, portanto, é também um exercício de paciência, de resiliência e de auto conhecimento.
E como quase tudo nessa vida, acompanhado é sempre melhor, e por isto os retratos daqueles que em muito me ajudaram neste ano que se passou, e que os levo com carinho daqui por diante, cada um a sua maneira, cada um por seus motivos.
No fundo, o que percebo, é que eu gostaria mesmo que cada um pudesse ser livre para ir e vir para onde considera melhor para si, assim como eu pude. Como eu não posso alterar algo acima das minhas possibilidades, o que faço e me sentir agradecido por tudo que recebo, pelos amigos que fiz, pela oportunidade que eu ganhei e faço questão de trata la como um presente novo, afinal, são os primeiros 2 anos de muitos que virão. Sou, como poucos, um privilegiado!
Como disse uma sabia professora, não posso mais me concentrar no que pedi, e sim no que vem pela frente. Quem saiu do meu caminho o fez por que quis, então me cabe continuar. Se quiser me companhar, até posso jogar uma corda, mas terá que correr pois a diante, e não tenho mais como voltar.

quinta-feira, 28 de março de 2019

Israel sob ataque

Após 4 anos, as sirenes anti mísseis de Tel Aviv voltaram a funcionar quando 3 foguetes foram lançados desde a Faixa de Gaza. Foi a primeira vez em que eu as escutei sem que fossem para treinamento. Dois foram abatidos no ar, e um caiu numa área desabitada.
O país é constantemente atacado, mesmo após seguidos acordos de cessar fogo com o grupo terrorista Hamas. A primeira cidade que morei aqui, Beer Sheva, tem sido alvo desde o ano de 2018, quando diversas vezes as sirenes por lá tem soado, além de um foguete tendo atingido o quintal de uma residência.
A princípio, por ser o centro econômico do país, a área com maior concentração populacional e ter uma das centrais de comando do Exercito, a região é muito protegida. Por estar mais distante, é também de mais difícil alcance, embora há tempos os foguetes estejam chegando perto, como na cidade vizinha ao sul, Bat Yam, além do litoral.
Eu assistia a TV quando as sirenes soaram em torno das 21:00 hora local. Fui para a escadaria, conforme procedimento de segurança, e lá fiquei cerca de 2 minutos após o final do soar.
Obviamente eu não estava calmo (longe de estar desesperado), mas várias reações ao meu redor me acalmaram e me fizeram bem. A primeira e providencial foi a presença de um nativo aqui, que manteve se calmo o tempo inteiro, de modo muito natural, e voltando a assistir TV assim que as sirenes pararam.
Prefeitura de Sderot: Prefeitura de Tel Aviv, um pouco de barulho pressionou vocês? Estão convidados para aos "abrigos" junto a nós, evento vip e hospedagem testadas.
As piadas que começaram a vir a tona assim que as sirenes pararam, como e de que um foguete não parou em Tel Aviv pois não tinha onde estacionar (a falta de vagas aqui é um problema sério); o departamento de comunicação de diversas cidades, incluindo a de Tel Aviv, continuaram com seus comunicados em forma de piada, como por exemplo, a da cidade de Sderot, conforme a imagem a cima, uma das cidades mais atingidas por foguetes devido a proximidade com a Faixa de Gaza.
Iron Dom em ação em Tel Aviv. Foto: Tom Gott
Parece piada de mau gosto, mas a questão é que independentemente do que aconteceu ou acontecerá, a vida segue seu rumo e o melhor (assim espero) está por vir. A vida sem graça não é uma vida válida de ser vivida, e viver desesperado com fatos que estão além do nosso poder de controle a tona insuportável, e justamente o oposto demonstra a resistência dos judeus diante de tamanhas agressões recebidas há milênios. E as piadas são marca registradas, não apenas de Israel, de Tel Aviv, como de toda a comunidade judaica mundial. Aqui um video, em hebraico, da reação que muitos tem ao escutar as sirenes - claro que é exagerado e não recomendado tais reações, mas até situações de guerra são motivos de piadas:

Não é uma situação de guerra o que se vive aqui. Também não estou aqui para dizer que somos um bando de coitados e sofredores, que nada de mau fizemos e que somos apenas vítimas das circunstâncias, mas um grupo que em muito defende que só tem pedras para se defender, que vivem em estado de imensa pobreza, de onde vem "tais pedras" que voam quilômetros de distância?
De todo modo, estamos muito bem, e a segurança pelas ruas, marca registrada aqui, continua muito boa. Nestes quase 2 anos morando aqui, acompanhei apenas 4 casos de assaltos nas ruas, sendo dois em Beer Sheva e dois assaltos em Tel Aviv. É obvio que tem mais, mas estes chamaram a atenção, e de todo modo, onde quer que andemos, andamos tranquilos de que muito raramente seremos importunados, e também por este motivo, não tenho por que deixar Israel.
Fiquei bastante intrigado com as observações feitas por uma israelense de origem brasileira, há 40 anos morando em Israel, e as relações deste ataque com as eleições, e também com futuros eventos, como a Eurovision.

"O Hamás ficou preocupado com a possibilidade do Bibi não ser eleito e decidiu usar o velho recurso, que comprovadamente funciona: ataques terroristas às vésperas de eleições em Israel. EU NÃO ESTOU DIZENDO QUE FOI O BIBI QUE PEDIU O ATAQUE - mas ele se beneficia eleitoralmente. A população fica com raiva e se volta para a direita.
Por que o Hamás quer que o Bibi vença as eleições?
1) Porque com o Bibi não há chance de haver negociações para a criação de um estado palestino - e eu, você e toda a torcida do Flamengo sabemos que eles não querem ter um estado.
2) O mundo ocidental não gosta do Bibi - e assim o Hamás ganha a simpatia do mundo ocidental sem precisar fazer nenhum esforço.
3) Sem terem um estado, o mundo ocidental continua despejando dinheiro a rodo sobre os palestinos - dinheiro que, evidentemente, vai parar no bolso dos líderes corruptos e não é usado para aliviar a miséria verdadeira do povo.
4) Há ainda um motivo interno - hoje houve uma enorme manifestação em Gaza contra o Hamás, por causa da difícil situação econômica em que vive o povo. Atacando o centro de Israel, Tsahal responde, e o povo de lá desvia a raiva contra Israel."
Judite Orensztein

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Arábia Saudita e Israel: próximos a relações diplomáticas?

O cenário político no Oriente Médio, mais do que em outras regiões do globo, é extremamente complexo para posicionamentos simplistas e carregados de preconceitos.
A moderação é sempre bem vinda, pois adotar o discurso de ódio por conta de uma culpa não comprovada de um dos lados tende a aumentar as tensões ao invés de contribuir com o fim delas.
Vivendo em Israel há mais de um ano, me sinto um pouco confiante a abodar um pouco mais sobre a relação com muçulmanos aqui. Há espaço para melhorias, sem dúvidas, e sinto que falta integração maior - pois embora o árabe seja uma língua oficial, poucos, além dos árabes (muçulmanos ou cristãos), o utilizam. Porém os muçulmanos trabalham em praticamente todos os postos de trabalho, de todos os níveis hierárquicos, de postos de saúde, a empresa de trem, passando pela Polícia e com participação na política. Os palestinos, até a 2ª Intifada, tinham maior acesso a postos de trabalho aqui. Particularmente eu os considero mais simpáticos que a média dos judeus daqui, mas isto será tratado numa outra publicação.
Persépolis: Lindo e obrigatório para entender o Irã na visão de uma cidadã
Desde a Revolução Islâmica, que resultou na queda do regime imperial muçulmano secular dos Xás, as relações entre Israel e Irã se deterioram a cada instante. O Irã é de maioria xiita, um grupo dentro do Islamismo, sendo o maior deles os sunitas, especialmente na Arábia Saudita. Ambos os grupos são rivais entre si. É aí que entra a Arábia Saudita. Há uma Guerra Fria entre os dois países, muito pouco falado na mídia internacional, e a brasileira nem sabe o significado disto - só tem olhos para os palestinos que "só" tem pedras para se defenderem.
O país dos sultões, berço do Islã, sitio das duas localidade mais sagradas para a a fé Islâmica, Meca e Medina, nunca reconheceu Israel como nação soberana. Foi um dos país que deixaram o congresso na ONU, liderado pelo brasileiro Oswaldo Aranha, que reconheceu a Partilha da Palestina em 1947 e no ano seguinte se tornou a relidade para Israel, que aceitou a partilha, o que não ocorreu com os palestinos, que se recusaram.
Assembleia da ONU Foto obtida aqui.
Enfim, passados 70 anos desde a (re)fundação de Israel como nação soberana, hoje há sinais cada vez mais claros de uma possível aliança diplomática entre Jerusalém e Riad. Ambos os países não negam mais (embora também não admitam) que trabalham militarmente em conjunto para diminuir a influência do Irã em bases militares no Líbano e Síria, zona de interessa dos sauditas. Irã é o grande colaborador do grupo terrorista xiita libanês Hezbolá (é deste grupo que vem a percepção brasileira de que xiita é algo ruim, pela quantidade de ataques terroristas efetuados nos anos 80 e 90 mundo a fora), que integra até mesmo o governo daquele país, o que impede a Israel iniciar qualquer negociação para se estabelecer relações diplomáticas. E com o aumento das tensões deste da eleição de Mahmudd Amadinejad como presidente do Irã há anos atrás, e o atual acordo nuclear para uso pacífico deste tipo de energia que parecia bom, mas está sendo desviado de seus propósitos iniciais, Arábia Saudita se tornou interessente para acordo militar e diplomático com Israel.
Reconhecido como uma força militar muito forte, não tendo perdido nenhuma das guerras nas quais lhe colocaram, Israel tem muito a oferecer aos sauditas, e creio haver reciprocidade.
O principe herdeiro saudita, Mohammad Bin Salman, tem feito reiteradas declarações pró Israel, como o direito a sua própria terra. Um dado histórico que indica também esta aproximação foi a recente autorização dada pelas autoridades aeronauticas sauditas para um vôo com destino e partida de Israel sobrevoasse seu espaço aéreo. Pode parecer pouco, mas isto resultou numa economia de 3 horas de vôo que não precisa mais sobrevoar todo o Mar Vermelho e o Oceâno Índico, fora os custos envolvidos. O porém fica para o fato da autorização ter sido dada apenas a cia aéra Air Índia, e não para a cia aérea de Israel El Al, que tenta a autorização por outros meios.
O princípe também declarou recentemente que os palestinos devem fazer a paz com Israel ou calar se. Claro que é difícil disto ocorrer quando ambos os lados da mesa não se mostram muito propensos a conversar.
Portanto, é esperar para ver se um acordo será apresentado e assinado entre ambos os países. A tendência é que leve alguns anos até a concretização. Só torço para que não ocorra com os sauditas o que ocorreu com os sírios, quando Damasco quase assinou um acordo de paz e estebelecimento de relações diplomáticas no começo dos anos 2000, o que não ocorreu. Portanto, é necessário aguardar para ver se um acordo será firmado oficialmente para daí haver alguma comemoração, pois as declarações são de um membro da família real, um herdeiro, e não o Rei, que provalmente tem muitas reservas a respeito. Um dos pontos positivos que eu vejo seria para a população muçulmana de Israel, que poderia fazer a peregrinação a Meca, algo considerado sagrado e necessário ao menos uma vez na vida, pois os que conseguem, o fazem com documentos falsos de outros países, para esconder que são israelenses.
Infelizmente os acordos de paz entre Israel e Egito e Jordânia não resultaram em diminuição das tensões nas ruas, onde israelenses em visita a estes países muitas vezes enfretam ofensas e tratamentos diferenciados. E isto é algo a ser levado em consideração num tratado de paz, que assim espero, chegue em breve.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Substituído

Deixar seu país de origem é saber que lentamente sua presença não será mais requerida ou notada, ou pelo menos não do modo que se espera. Que o espaço uma vez ocupado por você nunca será preenchido da mesma forma, mas abre caminho para outros tomarem conta.
É algo natural e ocorre!
Lembro muito de um blog que eu lia, infelizmente encerrado e coincidentemente sobre Israel, onde a autora dizia de forma direta sobre isso, que era para não prestarmos a atenção nisso e seguir em frente. Certa ela estava, mas a vida humana não é vivida de forma que o desapego seja simples.
São desde encontros de amigos, reuniões de família, passando por outros tantos momentos e eventos dos quais você imigrante não estará presente.
Quando eu sai do Brasil eu dizia para muita gente, entre familia, amigos e namorado, que a dor da despedida era muito maior em mim, pois era eu quem estava prestes a entrar num mundo novo, desde a língua, sociedade, trabalho, longe de todos, sozinho. Que para os demais seria menos dolorido, pois eles continuariam em seus meios sociais, com outros contatos, sem grandes surpresas. A minha ausência seria apenas uma no meio de tantas presenças, e para mim seria todas as ausências, e apenas a minha auto presença. Não se trata de uma disputa para ver quem sofre mais, o fato é que quem decide sair pagará um preço mais elevado pela sua escolha, pois para toda escolha há uma renúncia.
Não há um momento certo em que isto ocorra ou que se perceba, apenas é gradual e segue o fluxo da vida.
Eu não quero usar este espaço para fins religiosos, mas um dos preceitos judaicos que me veio a cabeça quando comecei a pensar nisso foi justamente do luto. É dado um tempo para o enlutado se manter distante, recluso, auto centrado, para justamente após poder retormar suas atividades da melhor maneira possível, a fim de seguir o fluxo da vida, que não para.
Não sinto que "morri" para as pessoas, talvez a comparação tenha sido forte, mas a intenção foi de se fazer perceber que a vida segue, e que se eu ou quem quer que seja decidiu dar uma guinada forte, tem que estar pronto para esta "consequência".
Saber desapegar é que complica um pouco, pois no meu caso, estou falando de 37 anos de vida numa sociedade, 12 anos de vida numa relação, e tanto outro tempo de contato com amigos dos mais diversos, e tudo simplesmente sofreu uma ruptura. Ao menos na presença.
Por outro lado, outras conexões aqui são feitas, algumas extremamente decepcionantes, e outras lhe dão um apoio moral e espiritual por vezes acima do esperado. Não sei se ocorre com todos, mas desde que cheguei aqui, recebi diversos flertes vindos do Brasil e de outras partes, na maioria das vezes de brasileiros. Alguns mais diretos, outros mais românticos, outros mais misteriosos, e eu demonstrei certo interesse num flerte, embora tenha terminado onde começou com passagem por outro continente, outro cheio de promessas não cumpridas, outro eu quase tomei um voo para um encontro.
Certas amizades que eram insípidas se tornaram muito próximas, outras que eram iniciantes se tornaram quase confidentes.
De todo o modo, não dá para generalizar que tudo que descrevi ocorrerá com quem sair do país, e será nesta ordem. O que é necessario mesmo é se concentrar no que se está ganhando, nas novas vivências adquiridas, no fortalecimento que uma vida fora do seu país exige, e perceber que se está cercado de pessoas que lhe admiram e que lhe fazerm muito bem, que lhe ajudam de maneiras impensáveis e quando menos se espera. É portanto, não se concentrar nas perdas, e sim nos ganhos, pois este foi o motivo primordial da mudança, e por vezes entender que o passado não é um fantasma, e sim como uma estante, com suas medalhas, troféus e todo o motivo de orgulho, pois onde quer que você chegue, o seu passado lhe trouxe para seu presente e lhe convida a desenhar seu futuro. Transformar, portanto, seu luto em luta*, e dela ver brotar as conquistas. Apenas se dê o tempo necessário para isto.
Pessoas queridas e amadas que muito me fazem falta.
* In Portuguese, L U T O means grief, and L U T A means fight. Probably, the translation couldn`t show you they are very close words, with so different meaning.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Mercado de Trabalho

De forma resumida, posso dizer que o mercado de trabalho em Israel é aquecido, o que por um lado facilita a vida do novo imigrante, pois lhe dá maiores possibilidades de escolha, mas como em qualquer lugar, também trás a falsa ilusão de que todos irão prosperar da maneira que desejam ou que tudo funciona as mil maravilhas.
Lembro muito de ler conselhos do tipo "não se contente com a primeira oferta de trabalho". No começo, até por ter aquele ranço de quem vem de um país como o Brasil, com dificuldade de manter o mercado de trabalho estável, aceitei as primeiras propostas de trabalho.
Primeiramente, gostaria de dar a dica que independentemente do que digam sobre um emprego, de bem ou mal, tente manter uma linha mais polida e evite fazer comentários negativos a respeito, pois aqui é muito mais comum as pessoas se conhecerem. O respeito é muito mais necessário do que o usual, e lembre se que entre um empregado e um empregador, o último é sempre mais forte.
O uso de redes sociais para busca de emprego é muito mais comum, em especial o LinkedIn, onde aconselho a mante lo atualizado e sem aqueles jogos de palavras bonitas mas sem conteúdo, que mais confundem do que informam. E por se tratar de Israel, sempre vale a pena escreve lo ou reedita lo em Inglês, afinal, a língua portuguesa é importante, mas poucos aqui a conhecem.
Cada dia fica mais evidente para mim a importância da rede de contatos (ou Network, se preferir em inglês). De todos os empregos que eu consegui aqui, e até o momento são 6, foram através de indicação de amigos ou conhecidos, com exceção ao último, mas que houve um componente de conexão envolvido, onde uma brasileira, conhecida da gerente de RH da minha empresa me ligou e quis me conhecer mais. De garçom a Sales Development Representative, em cada um eu devo um agradecimento.
Outro ponto a ser observado é o próprio contrato de trabalho. De modo bastante simplista, no Brasil é possível ter apenas um contrato assinado na Carteira de Trabalho (documento que parece com um bloco de notas, fornecido pelo governo, para anotações trabalhistas), pois a legislação brasileira, mesmo com as recentes e duvidosas mudanças, ainda é muito mais complexa e protetora dos direitos do trabalhador do que as de Israel. Novamente de modo simplista, aqui depende muito mais do detalhamento no contrato de trabalho. Ele pode estar escrito em qualquer língua, sendo preferível em Hebraico, pois em geral, outras versões são tradução, passíveis de erros.
Da pouca experiência que tenho, empregadores que disponibilizam contrato em língua estrangeira ao Hebraico tendem a ser bons locais para trabalho, pois demonstram ainda mais respeito ao contratado, em especial os imigrantes novos. Dos cinco contratos que assinei, 4 estavam em hebraico, 1 em Espanhol e 1 em Português. Havendo qualquer menção a uma versão em hebraico para redimir possíveis dúvidas, é seu direito ter acesso a esta versão!
Aqui não é necessário nenhum documento específico para trabalhar, como a Carteira de Trabalho Brasileira. Basta apenas o documento de Identidade, chamado de Teudat Zehut, e para imigrantes novos, a Teudat Olê (identidade de novo imigrante), para que menos impostos incidam sobre seu salário base, os dados da conta bancária, comprovante de endereço (é fornecido pelo governo), e mais nada.
Minha grande recomendação, baseada num fato recente ocorrido comigo mesmo, é de consultar um advogado ou especialista em negócios para ler o contrato para ti, se estiver em hebraico, mesmo um Sabra poderá ter dificuldade de entender termos jurídicos. No meu caso, foram encontrados dados ilegais e restrições não compatíveis com o salário oferecido, como manter se afastado de empresas do mesmo ramo por um prazo irrazoável após possível desligamento. São questões que servem de alerta para se entender os seus direitos e deveres, e caso o empregador não queira mudar itens que nitidamente prejudicam o empregado é um demonstrativo de que aquele emprego não é o ideal, que é hora de seguir em frente. E da mesma forma que possivelmente você encontrou a oportunidade por indicação, talvez outra indicação lhe conduza para uma vaga melhor.
Outro detalhe muito comum de se observar é que em muitos locais de trabalho existe uma aparente falta de pressão por desempenho. Grande engano, pois em geral o entendimento aqui é que você deve saber o que fazer e como resolver os problemas que surgirem, e caso não saiba, procurar uma resposta rápida e jamais guardar para si, ou em pouco tempo você será demitido, como eu já fui em determinada situação.
E sobre demissão, sendo sem justa causa, o comum aqui é ser apresentado uma carta convite para uma audiência onde você, o empregado, terá uma chance de se defender das acusações sobre mau desempenho que lhe foram feitas, cabendo ao menos um dia entre a entrega da carta e a audiência em que você poderá se ausentar do trabalho sem qualquer desconto, e podendo trazer um amigo, parente ou advogado para lhe ajudar nesta defesa, o que sempre vale a pena, pois é uma chance de "soltar os cachorros" de maneira controlada, polida e sincera, dizer o que na sua visão ocorreu para a queda de desempenho e conseguir reverter a eminente demissão. Há situações em que parece um teatro montado e a decisão já foi tomada, noutros casos não, e como é difícil entender isso, recomendo sempre levar a sério e deixar uma versão impresso dos argumentos apresentados, para que também lhe ajudem no momento de nervosismo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Eleição no Brasil - desde Israel

O Brasil vive uma forte tensão por causa da Eleição Presidencial, junto com dos governadores, senadores, deputados federal e estadual.
A indignação no Brasil é tanta que as pessoas se contaminaram com a ideia de que se vive a pior crise econômica no Brasil ou de que nunca houve tanta corrupção no país. Parece que se esqueceram do que houve no Brasil após a redemocratização, em 1985, quando décadas de ditadora cobraram o preço da falta de transparência com os gastos públicos, o governo federal se viu obrigado a não pagar a dívida externa, gerando falta de recursos, preços sendo reajustados duas ou três vezes ao dia. Lembro que em casa a "solução" foi comprar um freezer para estocar comida, substituição de alimentos comuns por outros menos procurados para pagar menos, eu não comprar carne para todos os dias... A falência da maior Cia Aérea do Brasil, a Varig, em 2006, tem conexão com isto, pois ela não podia reajustar as tarifas, mas os custos de manutenção sim.
Um dos lemas do grupo de Judeus do qual faço parte!
Não sou defensor de partidos ou políticos, mas notei que desde a série de protestos de junho de 2013, na eleição de 2014, um clima estranho de muita polarização só tem crescido. E como eu descrevi aqui, eu me senti empurrado para um viés de esquerda.
Desde a eleição passada resolvi pouco me manifestar sobre posições políticas, pois em geral são superficiais, e qualquer contra argumentação é feita de maneira agressiva e desrespeitosa.
Mas resolvi tratar de alguns pontos que me chamam atenção, num ponto de vista de um morador de Israel:

  • Os eleitores que votaram aqui não são todos judeus, embora a grande maioria. A transferência do local de votação também pode ser solicitada por turistas, corpo diplomático, estudantes. E dos moradores brasileiros aqui, há também cristãos. E dos turistas, qualquer vertente religiosa, incluindo muçulmana e ateus podem ter votado aqui. Israel é um país aberto para as diferenças.

"Alemanha acima de tudo" e "Proibido judeus", algumas das frases acima. Obtido neste site.
  • Chama atenção as contradições dos brasileiros que vieram morar aqui e seu aberto suporte a um dos candidatos com um discurso extremamente parecido com o de Adolf Hitler (que dizia Alemanha acima de tudo). Tal candidato, inclusive, é alvo de duras críticas de diversas fontes, como os jornalísticos El País, Economist, incluindo a extrema direita francesa, com Marine Le Penn fazendo observações negativas. Até um ex lider do Ku Klux Kan disse ver semelhanças deles com Bolsonaro. Mas todos são chamados de comunistas por seus leais defensores.
  • Israel é um país formado por minorias, para minorias, com respeito e ampla aceitação aos imigrantes. No início das primeiras aliot (termo usado para definir a vinda de judeus), antes do movimento sionista de Herzl, já haviam judeus aqui e eram a minoria. Só por isto, o tal candidato já é contra os ideias que moldam este país, o qual faz aberta defesa, e o voto de brasileiros nele é extremamente contraditório. Após a queda do 2º Templo de Jerusalém e a diáspora judaica, judeus se tornaram minorias por onde se estabeleceram, incluindo Polônia, onde formaram uma parcela considerável da população.
  • Os judeus que resolvem imigrar a Israel recebem uma série de ajudas governamentais e por vezes não governamentais, que foram crescendo e se diversificando ao longo dos anos. Pelos 6 primeiros meses, paga se uma quantia para ajuda das despesas iniciais (em torno de 60% do salário minimo daqui) com adicional por filho, é oferecido um curso de hebraico gratuito, seguro desemprego a partir do 7º mês aqui sem ter encontrado emprego, a maioria pode morar em centros de absorção com valores subsidiados, auxílio aluguel, descontos para compra de carro novo, desconto para compra do primeiro imóvel, mestrado gratuito até os 27 anos de idade, desconto médio de 70% para cursos registrados... Enfim, são vários benefícios para a aclimatação, sem qualquer pre requisito exceto ser judeu, filho ou neto de judeu. É, portanto, o que no Brasil se chama de bolsa.
  • O voto num candidato estritamente xenófobo e contra imigrantes é contraditório vindo de imigrantes brasileiros, muitos deles filhos de imigrantes europeus. Ou seja, ele, imigrante, filho ou neto de imigrantes, pode imigrar em busca de um lugar que deseja para morar, outros que assim o fazem não podem? 
Fico extremamente incomodado com aqueles que aproveitam destes benefícios, típicos de um país com forte influência comunista (embora nunca tenha sido de fato), reclamarem que programas brasileiros como Bolsa Família são esmola, não ensinam o povo a viver por contra própria, entre outras observações. O que é oferecido aqui é chamado de direito, e o que é oferecido no Brasil é chamado de assistencialismo barato, mesmo que o valor não chegue a US$ 100 ao mês. Esquecem, ou fazem que não sabem que políticos como David Ben Gurion, Golda Meir e Ytzhak Rabin eram comunistas!
Quando citei do país ser formado por minorias, para minorias, em todos os lugares se nota isso. Se eu quiser atravessar a rua, os carros param, ao contrário do Brasil onde aceleram e de repente alguma alma benevolente me deixa atravessar. Os homossexuais vivem em plena tranquilidade, tendo famílias com filhos facilmente vistas. A sociedade pode ser vista como paternalista, mas jamais como machista como a sociedade brasileira é - até nos banheiros do Muro das Lamentações há trocadores de fraldas nos sanitários masculinos. A polícia nem sempre anda armada, pois não precisa, e o índice de criminalidade é baixo - ninguém acredita que possuir uma arma possa ser melhor do que uma polícia bem preparada que atua na prevenção. Aqui facilmente se consegue ajuda para quase tudo, de encontrar um emprego, a carregar as compras na rua. Aqui não sou chamado de vagabundo por ter uma bicicleta - rabinos andam de bicicleta. Até mesmo imigrantes ilegais tiveram um grande suporte da população  quando Bibi Netaniahu decidiu expulsa los para a África, a ponto dele ter recuado da decisão - isso pois, é sabido que voltariam a um estado de semi miséria e talvez até fossem condenados a morte por terem vindo para cá.
A cara da direita brasileira 
Um dos absurdos que escutei foi na praia. Estava caminhando pela manhã e um brasileiro parado, com sua bicicleta elétrica falando dos "absurdos de Fernando Haddad", que quis forçar sua mãe a pedalar pela cidade. Primeiramente, embora caibam reclamações da qualidade das ciclovias que ele construiu em São Paulo, ou mesmo da gestão dele como prefeito, ninguém forçou ninguém a nada. Enfim, pedalar uma bicicleta em Tel Aviv, onde existe até congestionamento delas e falta de lugar para estaciona las, tudo bem. Mas em São Paulo, uma cidade maior que Israel inteira, com problemas históricos de transporte, não pode! Ao menos não encontrei gente tresloucada como aquela mulher que entrou no Congresso Nacional e pensou que a homenagem à imigração japonesa fosse um sinal de que estavam transformando o Brasil num país comunista.O mais contraditório para mim é o sentimento de revanche instaurado. Embora o PT realmente não seja o melhor exemplo de boas relações diplomáticas com Israel, especialmente com a ex presidente Dilma Rousseff (chamada de Anã Diplomática), o Brasil sempre teve relações contraditórias a Israel. Desde a contundente defesa de Oswaldo Aranha no reconhecimento da Partilha da Palestina na ONU, com ex presidentes como Getúlio Vargas declarando que sionismo é terrorismo. Mas há que se dizer que o ex presidente Lula esteve sim em Israel, ao contrário do que se noticia, e fez homenagens ao mortos no Holocausto, com fotos oficiais do Museu do Holocausto, Yad Vashem.
No momento, o que eu espero é a escolha do melhor presidente para o Brasil, e não por dizer que defenderá Israel. Israel não estará em risco por falta de apoio brasileiro e não precisa de defesa vinda da América do Sul, embora seja sempre bem vida. Da mesma forma que se condena empréstimos e investimentos brasileiros em Cuba, Venezuela e Equador, justamente por faltar condições mínimas para muitos brasileiros, dedicar atenção a outro país, seja qual for, é contraditório. E o tal apoio é baseado de que em Israel vivêssemos como nos templos Bíblicos, a espera do Messias, e não é isso, a população é muito menos religiosa do que se pensa. Se notassem a quantidade de bandeiras do arco iris teriam um infarto? Ou como as mulheres aqui andam com shorts extremamente curtos (e ninguém liga)...
Que o candidato que diz querer voltar ao Brasil de 40 anos atrás vá para o lugar que merece: os livros de história do que não fazer na política, especialmente após 30 anos como deputado que pouco produziu e somente enriqueceu e colocou os filhos para seguirem carreira política. As coincidências com o fascismo e o nazismo são muito grandes, e comparações de discursos e atitudes geram quase uma rejeição sob uma suposta banalização do Holocausto. Mas justamente por respeito aos que sofreram ou foram duramente assassinados sob comando de Hitler, que relembrar sempre é de extrema importância para evitar a repetição de fatos.
Para encerrar, minha intenção não é dizer em quem votar, ou em quem eu votarei (embora esteja evidente), pois eu não faço mais isto, quanto menos fazer campanha para um ou outro, mas este é o exato momento em que provavelmente em que se faz, ou se escolhe, quem deve ser escolhido, e não o que se desejava no princípio. Pela memória da Professora e Psicóloga Iara Iavelberg z"l, brutalmente assassinada em 1971 no auge da ditadura militar no Brasil.
Assassinada por agentes da Ditadura por ser contrária ao regime. Longe do atual conceito de cidadã de bem!

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Vantagens e desvantagens de ser bilíngue no exterior

Imigrar a um país que tem uma língua oficial diferente das línguas comercialmente famosas, como inglês, francês, espanhol e alemão, traz dificuldades iniciais aos que assim desejam faze lo sem conhecimento prévio. São poucas referências de literatura, música e filmes, que são instrumentos para conhecer melhor a cultura e se habituar com a sonoridade da língua. E daí que vem a sensação em muitos brasileiros que sabem inglês ou espanhol, por exemplo, mas que na prática se prova falsa. Um engano que fica muito claro quando saem do país.
Vir para Israel, onde as línguas oficiais são hebraico e árabe, se aplica a isto. Eu, mesmo tendo um conhecimento mínimo da língua ao chegar, sofri bastante no começo, com a questão da minha saúde, ou no dia dia, quando comprava algo pensando ser outra coisa. Até mesmo no aeroporto, esperando o meu registro no Ministério do Interior; queria usar o banheiro para escovar os dentes, mas a funcionária da copa só falava russo (uma terceira língua, não oficial).
O fato de eu saber inglês relativamente bem me ajudou bastante, inclusive no momento eu trabalho falando apenas em inglês e hebraico, pois não são tantos os que sabem um inglês de alto nível aqui.
Nas estações de trem, por exemplo, com exceção ao trem com direção ao aeroporto, todos os sinais sonoros são em hebraico, e visuais em hebraico e árabe. Quando eu contratei os serviços de telefonia aqui, por exemplo, a atendente não falava inglês, e acabei assinando um contrato as cegas, pois não tinha outra opção senão hebraico.
Fiquei pensando nisso ao lembrar da história de uma brasileira que imigrou para cá há uns 10 anos, e que chegou aqui sem qualquer outra língua senão a língua portuguesa. Ela, mais que todos, foi obrigada a se esforçar ainda mais para aprender hebraico, para poder seguir com sua vida. Mas só posso imaginar as dificuldades e confusões em que se meteu. Apesar do espanhol também ser pouco popular aqui, a forte imigração dos judeus argentinos no início dos anos 2000, por conta da moratória que Buenos Aires deu em seus credores, fez a língua ser um pouco mais ouvida, mas ainda assim, lembro das dificuldades dos meus amigos venezuelanos e peruanos ao se candidatar para um emprego.
Portanto, embora eu nunca recomende a ninguém imigrar sem conhecer razoavelmente a língua daquele país, saber outras línguas pode ser um incentivo para o esforço e para avançar nos estudos, pois se tentará diminuir os percalços e sofrimentos pela falta de comunicação.
Aqueles que chegam com inglês ou até mesmo os russos, sofrem por se apoiar de mais nestas línguas, o que os faz ter mais dificuldade de aprendizado. Os russos, e me refiro aos mais velhos, obviamente se sentem confortáveis falando sua língua materna, e como há muitos aqui, eles conseguem sempre ter alguém por perto para ajuda los, mas quando não há, ficam imersos numa arapuca que eles foram direcionados e não sabem como sair.
Assim como um amigo que pouco aprendeu hebraico, e trabalhou comigo, e passou a atender aos clientes e colegas apenas em inglês.
Aqueles que vem sem saber outra língua além da materna, portanto, precisam se esforçar ainda mais, terão que ter paciência consigo e com os outros, pois erros de entendimento serão normais.
Não me considero nenhum exemplo de comportamento, mas fiz o possível para falar apenas em hebraico, seguindo o conselho da minha primeira professora de hebraico, Sonia Bachar, que disse para eu prestar a atenção em cada conversa  que eu pudesse, por mais boba que fosse, para absorver a pronúncia e significados. Claro que nisto eu também estou aos poucos absorvendo os erros comuns e vícios de linguagem.
Portanto, aponto aqui alguns pontos principais de vantagem em saber uma segunda língua:

  • Fatores cognitivos: você passa a compreender melhor o mundo em que vive em seus problemas e beleza;
  • Facilita o aprendizado de outras línguas, pois há momentos em que um termo, verbo ou palavra em geral não possui uma tradução direta ou explicação clara, mas para a outra língua possui;
  • Busca por um emprego, pois ao menos aqui, assim como no Brasil, não é fácil encontrar quem fale inglês, espanhol, francês e etc em alto nível;
  • Relacionar se com pessoas de diversas origens. Hoje uma das minhas supervisoras é filipina, já tive uma romena, além de um russo.
Há, claro, desvantagens também:
  • Apoiar se demais noutras línguas que não sejam a língua local;
  • Demorar mais do que o esperado em aprender a língua local;
  • Sentir se especial por saber uma outra língua - apesar de ser muito bom, volte a realidade, pois o mundo precisa de pessoas que façam o bem, e não que queiram se mostrar o quanto sabem (ou pensam que sabem)*;
  • Muitos, para te "ajudar", vão usar essa sua habilidade e conversar só nesta língua, bloqueando seu avanço;
  • Vir em casal, embora um dê apoio moral ao outro, vão falar na língua materna;
  • Se sentir inseguro em avançar, em falar errado em ser mau compreendido, e passar a querer falar na língua que conhece.
Os primeiros momentos num novo país devem ser para se dedicar a aclimatação e isto inclui a língua. Considere que os dois primeiros anos talvez ainda seja pouco para isto.
Em suma, eu não tenho uma resposta única se há melhor ou pior vir para um país como Israel sem saber inglês ou outra língua, pois no fundo, depende de cada um, de cada caso.

* Possuo uma amiga que se orgulha em dizer que sabe diversas línguas, no momento se enveredou pela política, e infelizmente se ligou a partidos fascistas, e faz mau uso do diferencial que ela possui. Uma tragédia...

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Carta a um Amigo

Recentmente um amigo meu saiu do Brasil com destino a Israel, e mandei a ele uma longa mensagem de voz, que a resumi aqui para todos:

"Cada um sabe o que sente no momento em que sai do país. Cada um tem uma experiência e encarar a despedida e a ansiedade pela partida ao seu modo, pela vida nova que se desenha. Eu ainda lembro bem o que senti quando sai do país. Esta experiência é sempre muito enriquecedora, independetemente como andar o seu processo.
Sai do país deixando para trás praticamente 12 anos de um namoro, e você tem uma perspectiva diferente. Passei por "poucas e boas"... Eu vim sozinho, você também vem sozinho, mas sob outros aspectos. Você tem alguém lhe esperando, e tenho certeza de que ele o ajudará muito neste processo todo.
Lembre se que muita gente passará ao seu lado, mas você precisa manter seu foco. Independetemente de como foi comigo ou outros amigos que você conheça e que fizeram o mesmo caminho, você precisa se perguntar: Eu posso ir mais longe? Esta pergunta é chave. Se você sente que sim, siga em frente. O sofrimento virá, em menor ou maior grau. É fato!
Sentirá falta de seus pais, irmãos, amigos, família, porém onde você se concentrará mais? No que "perdeu" ou no que estará ganhando fora? Quando a segunda opção for a melhor, é sinal para continuar! Pense sempre que há muito a ganhar, e é isto que espero para você.
Que você consiga superar de maneira tranquila todas as dificuldades que enfrentará, pois a diferença cultural é muito grande. Você ainda teve uma rápida passagem por aqui, e isto lhe dá uma vantagem que eu não tive, pois minha primeira vinda foi de logo para me mudar. Não se trata de uma competição, mas perceba que isto lhe será benéfico.
Apenas tente conter eventuais momentos de extrema ansiedade, onde você esteja a ponto de cometer alguma bobagem, seja ela qual for - busque desviar o foco desta atenção negativa. Eu, por exemplo, ano passado comecei a sentir os mesmo sintomas de ansiedade que senti antes de buscar tratamento psicológico. E algo de bom que tirei disto foi saber em como lidar com a minha inteligência emocional, e daí que comecei a praticar caminhadas noturnas, de 5km, 8km, 12km por noite, tendo chegado a incríveis 35km num Shabat em Tel Aviv, entre repouso e passeios.
Fica como uma dica, uma possibilidade. Haverá momentos em que se pensa que não há saída, de que estamos sozinhos no mundo, mesmo com muita gente em volta. E NÃO ESTÁ! Você precisa estar bem consigo mesmo, sentir que você está no controle. Diga para si mesmo: Eu Posso. Perceba em si uma força surgir de onde você não espera. Isto para mim, foi mágico, e faz com que eu ganhe uma dimensão que as vezes eu não consigo traduzir aos demais.
É claro que eu tenho minhas inseguranças, e como... É tudo muito novo! Eu começo a olhar para trás, perceber tudo que superei, e sinto orgulho de mim mesmo. Sinto um orgulho da porra (com o perdão da expressão)!
Que seja hoje, quando me despedi em definitivo de Beer Sheva, dos incomodos que senti com meu último companheiro de quarto... Ele não fez nada de propósito, por despeito... Passou, suportei e segui adiante. É necessário estar consigo mesmo e se sentir no controle.
Este foi um fato, dentre tantos, e quando eles vierem procure uma resposta. O outro não é um problema, eu não sou um problema... saiba que existe momentos que você terá que aguentar, terá que enfrentar, pois você é novo, chegou a pouco tempo e não sabe como reagir, está fora da sua zona de conforto. Mas o bacana é que isto lhe instiga a se mexer, de buscar algo diferente.
O comodismo é algo natural do ser humano, e não falo como crítica, e sim como observação. A questão é não se acomodar com o que há de ruim; é buscar o melhor. Isto leva tempo; se dê tempo. Faça com calma!
Eu realmente espero que tudo ocorra bem.
Aprenda o seguinte: Se tudo só ficasse bem, ficaria sem graça. Quando algo vai mal, aprendemos a nos mexer, a evoluir, e melhorar, a nos moldar. A recompensa é indescritível. Eu me sinto um homem melhor!
Mesmo sentindo toda a saudade que eu sinto, também percebo todos os ganhos que tenho obtido. Aprendo a cada dia a me fortalecer sem perder a resiliência - a capacidade de desviar daquilo que não posso alterar, mas que tampouco quero que me machuque. Ser maleável! Não dar murro em ponta de faca.

יאללה. קדימה!"

terça-feira, 15 de maio de 2018

Faixa de Gaza

Eu não tinha intenção de abordar questões de conflito militar, mas é quase impossível não aborda las. Israel, antes de ser culpada ou vítima, está no centro nervoso dos noticiários mundiais de conflitos. O peso com que as notícias e o viés com que são noticiados também são de certo modo desproporcionais ao tamanho do conflito e dos envolvidos.
Poderia abordar questões históricas, mas o momento me pede alguns pensamentos a respeito do último conflito, em 2018, onde frequentemente noticiário mostra a morte de diversos civís naquele território.
Há que se observar sempre o ponto de vista de onde vem as notícias e fotografias. Em qualquer local de conflito, se as notícias vierem apenas do lado mais fraco, a tendência é de se mostrar este lado apenas como vítima e o outro apenas como agressor. Historicamente é a forma como o conflito com Israel tem sido retratado, daí as distorções constantes. As agressões vem de ambos os lados, de diversas formas, portanto ambos ferem e saem feridos.
Este último conflito é por conta dos 70 anos da fundação de Israel, onde o grupo terrorista Hamas tem incitado a população de Gaza a tentar invadir o território israelense, numa tentativa de recuperar o que um dia pode ter sido de seus antepassados recentes. E com a recente transferência da Embaixada dos EUA para Jerusalém (inaugurada justamente em 14/05/2018), teria sido o motivo adicional para entrar em conflito.
O primeiro ponto que me chama a atenção é que se é sabido que Israel tem um exercito forte e extremamente preparado, me parece que uma tentativa de invasão se assemelha ao dito popular "dar muro em ponta de faca". Se bem que houveram alguns poucos que conseguiram ultrapassar a fronteira e foram presos em território israelense.
Foto: Reuters - obtida nesta reportagem.
É notório que se utiliza a população inocente e descontente com suas vidas como massa de manobra para se criar um cenário televisivo perfeito para demonstrações de excessos de força, que na minha humilde opinião existe. Ou seja, já se sabe para onde as câmeras estão apontadas e que o jornalismo ali presente está sedento por sangue, afinal, isto vende jornal! Se observarmos fotografias vindas de lá, tecnicamente são muito bem feitas, com iluminação cinematográfica, trazendo muita emoção, o que por outro lado também é discutível até que ponto não é embelezamento da tragédia humana (me refiro a qualquer fotografia de guerra).
Sei o peso da minha escrita, e não a fiz por conhecimento empírico, e sim por ser formado em Comunicação Social, com passagem por um Bacharelado de Jornalismo (inconcluso). Há diversos estudos de mestrado e doutoramento a respeito de diversas forma de abordagem no jornalismo.
Ou seja, há duas peças nessa mesa de xadrez que são fundamentais: o circo midiático e insuflar a população a se atirar contra um dos maiores exercitos do mundo.
Outro ponto que me chama a atenção há anos é que Israel, em especial os governos de direita como de Benjamin Netaniahu, não se dão conta que a cada uso excessivo da força como o fazem em Gaza, ao manterem apenas uma estratégica belicista, contruíbe para a percepção negativa mundial sobre o conflito. Não me refiro que tirar tropas e chamar para bater um papo - este absolutamente não é o momento para isto. Mas insistir numa busca da paz apenas através de ações militares prova, há mais de 70 anos aqui, e séculos mundo a fora, que não funciona. É claro que do lado palestino também há muitos erros, como a valorização da morte para criar a imagem de mártires, incluindo crianças, ao contrário da lei judaica de valorização da vida sob todos os apectos.
Gilberto Gil diz em sua música que "a bomba sobre o Japão fez nascer o Japão da paz". Não é sempre assim, meu caro. Nem tudo se resolve com porrada, tiro e bomba.
Entristece me muito saber que estou em plena segurança, levando uma vida normal como deve ser, enquanto uma população é afligida por diversas formas, como as péssimas escolhas políticas locais e os ataques vindos de fora.
Finalizo esta publicação com o alento de ter parcipado de um protesto pacífico contra o forma como este conflito é conduzido, e compartilho um dos poucos vídeos narrados de maneira neutra, sem tender para nenhum dos lados, embora com algumas imprecisões. Que tenhamos paz. Quem tenham paz!

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Israel e Irã: Pensamentos sobre o último conflito

Infelizmente, desde a queda do regime dos Xás no Irã e a consequente Revolução Islâmica naquele país, as relações com Israel só vem de mau a pior ao longo dos anos. Históricamente, judeus tem presença naquele país há mais de 2500 anos, conforme relatado inclusive na Bíblia (livro de Ester) com a queda do 1º Templo de Jerusalém (o Templo de Salomão). O tratamento a judeus daquele país até os dias atuais é tido como bom, gozando de privilégios como a permissão do consumo de vinho para as festividades, sendo que bebidas alcóolicas são proibidas naquele país (embora facilmente encontrado a venda até com a polícia iraniana, que eventualmente entrega em casa, conforme relato de turistas). O porém fica para a proibição de manterem contato com Israel. 
Como é distante, Irã usa Síria e Líbano com escudos para atacar Israel
É tido que o início do último conflito na região norte de Israel tenha se iniciado após uma apresentação do governo de Benjamin Netaniahu, com dados ultra secretos obtidos pela Mossad, a respeito de uso militar da energia atômica por parte do Irã. Em suma, segundo "Bibi" Netaniahu, o Irã mentiu.
O atual presidente dos EUA, Donald Trump, desde sua campanha eleitoral, vinha afirmando que o acordo para uso civíl e pacífico de energia nuclear pelo Irã, e a retirada das sanções econômicas ao país dos Aiatolás, foi um erro do governo de Barak Obama e por isto mesmo retirou seu país deste acordo, embora os demais países continuem nele. 
Israelenses lançaram esta campanha aos Iranianos

Embora as acusações do governo israelense sejam graves, ainda assim não me parece um motivo para um conflito armado. E mesmo que fosse (se é que existe justificava plenamente válida para guerrear), fica cada vez mais claro que o Irã usa a Síria, já bastante debilitada por conta da grave Guerra Civíl que enfrenta, e o Líbano, que ainda se reergue da Guerra Civíl nos anos 80, como escudos para seus ataques. Afinal, geograficamente, o Irã é muito distante de Israel. Desde a Guerra contra o Iraque nos anos 80, o Irã não foi atacado militarmente por nenhum país, o que não se repete com Israel.
Uma primeira questão que eu me faço é porque um país com milhares de quilômetros de distância, com no mínimo dois países entre eles, tem bases militares noutro, que faz fronteira com Israel? Só pode ser mais do que provocação: para guerrear. E quantas bases militares Israel tem em qualquer pais do mundo? Nenhuma! Vindo de um país que diz querer varrer do mapa duas das três maiores cidades de Israel é extremamente grave este comportamento iraniano.
Iranianos respondem, mas porque escondem os rostos?
Há também que se notar a diferença nos discursos dos líderes dos dois países. De um lado, se prega a destruição de Israel, do outro impedir que o primeiro alcance armas de destruição em massa e atômicas. Mas ainda assim, num jogo baixo de discursos fracos, tanto por políticos como jornalistas, brasileiros e extrangeiros, Israel é quem leva a culpa.
No caso do último ataque, que começou com Israel destruindo bases militares iranianas na Síria, e teve como resposta ataques ao território israelense, gerou uma repercução também pela "desproporcionalidade" dos ataques, pois nenhum dos mísseis lançados a Israel atingiu o espaço aéreo israelense, e o que "prova" que o armamento iraniano é de baixo alcance, e que Israel usa de força excessiva para conte los. Oras... quem garante que isto não se trata de uma provocação e um teste por parte dos iranianos? E quem garante que a iniciativa dos ataques não seja de desviar as atenções de onde poderiam vir ataques de fato de longo e alto alcance? E mesmo que seja verdadeira a afirmação da fraqueza militar deles, se alguém colocar a mão no fogo e se queimar implica que a culpa é do fogo? Cada um usa as armas que possui, e há que se analisar os alvos. Do lado iraniano, misseis lançados contra alvos civis, e de Israel, ataques a bases militares. Portanto, um lado quer a destruição de quem estiver pela frente, não se importanto com quem, e do outro a destruição de armamentos. 
Da minha parte, acredito muito mais que iniciativas como a dos cartazes acima sejam muito mais importantes do que se pensa. É o indicativo de uma mudança vinda da iniciativa popular e que espero avançar a esfera política. Não custa sonhar e trabalhar por este sonho, não é?
De todo modo, a situação nas ruas, mesmo no Norte de Israel é calma. Como disse em redes sociais, passei as últimas noites indo a bares para acompanhar a Neta Barzilai no festival musical Eurovision de 2018. No norte, na região da Galiléia e das Colinas do Golan, embora nada de mal tenho ocorrido, apenas os abrigos anti bombas permanecem abertos, limpos e com mantimentos, por precaução. Passeios pela região podem ser mantidos sem medos ou sustos, e viagens para cá não devem ser adiados ou cancelados. Venham e passeiem! Israel é um dos países mais seguros e fara o possível para que isto se mantenha para todos aqui, cidadãos ou turistas.

2 anos longe de muitos, mais perto de mim.

Já pararam para pensar que a vida de uma pessoa é como um livro, escrito em tempo real? Felizmente, ou não, jamais teremos acesso a totali...