terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Arábia Saudita e Israel: próximos a relações diplomáticas?

O cenário político no Oriente Médio, mais do que em outras regiões do globo, é extremamente complexo para posicionamentos simplistas e carregados de preconceitos.
A moderação é sempre bem vinda, pois adotar o discurso de ódio por conta de uma culpa não comprovada de um dos lados tende a aumentar as tensões ao invés de contribuir com o fim delas.
Vivendo em Israel há mais de um ano, me sinto um pouco confiante a abodar um pouco mais sobre a relação com muçulmanos aqui. Há espaço para melhorias, sem dúvidas, e sinto que falta integração maior - pois embora o árabe seja uma língua oficial, poucos, além dos árabes (muçulmanos ou cristãos), o utilizam. Porém os muçulmanos trabalham em praticamente todos os postos de trabalho, de todos os níveis hierárquicos, de postos de saúde, a empresa de trem, passando pela Polícia e com participação na política. Os palestinos, até a 2ª Intifada, tinham maior acesso a postos de trabalho aqui. Particularmente eu os considero mais simpáticos que a média dos judeus daqui, mas isto será tratado numa outra publicação.
Persépolis: Lindo e obrigatório para entender o Irã na visão de uma cidadã
Desde a Revolução Islâmica, que resultou na queda do regime imperial muçulmano secular dos Xás, as relações entre Israel e Irã se deterioram a cada instante. O Irã é de maioria xiita, um grupo dentro do Islamismo, sendo o maior deles os sunitas, especialmente na Arábia Saudita. Ambos os grupos são rivais entre si. É aí que entra a Arábia Saudita. Há uma Guerra Fria entre os dois países, muito pouco falado na mídia internacional, e a brasileira nem sabe o significado disto - só tem olhos para os palestinos que "só" tem pedras para se defenderem.
O país dos sultões, berço do Islã, sitio das duas localidade mais sagradas para a a fé Islâmica, Meca e Medina, nunca reconheceu Israel como nação soberana. Foi um dos país que deixaram o congresso na ONU, liderado pelo brasileiro Oswaldo Aranha, que reconheceu a Partilha da Palestina em 1947 e no ano seguinte se tornou a relidade para Israel, que aceitou a partilha, o que não ocorreu com os palestinos, que se recusaram.
Assembleia da ONU Foto obtida aqui.
Enfim, passados 70 anos desde a (re)fundação de Israel como nação soberana, hoje há sinais cada vez mais claros de uma possível aliança diplomática entre Jerusalém e Riad. Ambos os países não negam mais (embora também não admitam) que trabalham militarmente em conjunto para diminuir a influência do Irã em bases militares no Líbano e Síria, zona de interessa dos sauditas. Irã é o grande colaborador do grupo terrorista xiita libanês Hezbolá (é deste grupo que vem a percepção brasileira de que xiita é algo ruim, pela quantidade de ataques terroristas efetuados nos anos 80 e 90 mundo a fora), que integra até mesmo o governo daquele país, o que impede a Israel iniciar qualquer negociação para se estabelecer relações diplomáticas. E com o aumento das tensões deste da eleição de Mahmudd Amadinejad como presidente do Irã há anos atrás, e o atual acordo nuclear para uso pacífico deste tipo de energia que parecia bom, mas está sendo desviado de seus propósitos iniciais, Arábia Saudita se tornou interessente para acordo militar e diplomático com Israel.
Reconhecido como uma força militar muito forte, não tendo perdido nenhuma das guerras nas quais lhe colocaram, Israel tem muito a oferecer aos sauditas, e creio haver reciprocidade.
O principe herdeiro saudita, Mohammad Bin Salman, tem feito reiteradas declarações pró Israel, como o direito a sua própria terra. Um dado histórico que indica também esta aproximação foi a recente autorização dada pelas autoridades aeronauticas sauditas para um vôo com destino e partida de Israel sobrevoasse seu espaço aéreo. Pode parecer pouco, mas isto resultou numa economia de 3 horas de vôo que não precisa mais sobrevoar todo o Mar Vermelho e o Oceâno Índico, fora os custos envolvidos. O porém fica para o fato da autorização ter sido dada apenas a cia aéra Air Índia, e não para a cia aérea de Israel El Al, que tenta a autorização por outros meios.
O princípe também declarou recentemente que os palestinos devem fazer a paz com Israel ou calar se. Claro que é difícil disto ocorrer quando ambos os lados da mesa não se mostram muito propensos a conversar.
Portanto, é esperar para ver se um acordo será apresentado e assinado entre ambos os países. A tendência é que leve alguns anos até a concretização. Só torço para que não ocorra com os sauditas o que ocorreu com os sírios, quando Damasco quase assinou um acordo de paz e estebelecimento de relações diplomáticas no começo dos anos 2000, o que não ocorreu. Portanto, é necessário aguardar para ver se um acordo será firmado oficialmente para daí haver alguma comemoração, pois as declarações são de um membro da família real, um herdeiro, e não o Rei, que provalmente tem muitas reservas a respeito. Um dos pontos positivos que eu vejo seria para a população muçulmana de Israel, que poderia fazer a peregrinação a Meca, algo considerado sagrado e necessário ao menos uma vez na vida, pois os que conseguem, o fazem com documentos falsos de outros países, para esconder que são israelenses.
Infelizmente os acordos de paz entre Israel e Egito e Jordânia não resultaram em diminuição das tensões nas ruas, onde israelenses em visita a estes países muitas vezes enfretam ofensas e tratamentos diferenciados. E isto é algo a ser levado em consideração num tratado de paz, que assim espero, chegue em breve.

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