terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Mercado de Trabalho

De forma resumida, posso dizer que o mercado de trabalho em Israel é aquecido, o que por um lado facilita a vida do novo imigrante, pois lhe dá maiores possibilidades de escolha, mas como em qualquer lugar, também trás a falsa ilusão de que todos irão prosperar da maneira que desejam ou que tudo funciona as mil maravilhas.
Lembro muito de ler conselhos do tipo "não se contente com a primeira oferta de trabalho". No começo, até por ter aquele ranço de quem vem de um país como o Brasil, com dificuldade de manter o mercado de trabalho estável, aceitei as primeiras propostas de trabalho.
Primeiramente, gostaria de dar a dica que independentemente do que digam sobre um emprego, de bem ou mal, tente manter uma linha mais polida e evite fazer comentários negativos a respeito, pois aqui é muito mais comum as pessoas se conhecerem. O respeito é muito mais necessário do que o usual, e lembre se que entre um empregado e um empregador, o último é sempre mais forte.
O uso de redes sociais para busca de emprego é muito mais comum, em especial o LinkedIn, onde aconselho a mante lo atualizado e sem aqueles jogos de palavras bonitas mas sem conteúdo, que mais confundem do que informam. E por se tratar de Israel, sempre vale a pena escreve lo ou reedita lo em Inglês, afinal, a língua portuguesa é importante, mas poucos aqui a conhecem.
Cada dia fica mais evidente para mim a importância da rede de contatos (ou Network, se preferir em inglês). De todos os empregos que eu consegui aqui, e até o momento são 6, foram através de indicação de amigos ou conhecidos, com exceção ao último, mas que houve um componente de conexão envolvido, onde uma brasileira, conhecida da gerente de RH da minha empresa me ligou e quis me conhecer mais. De garçom a Sales Development Representative, em cada um eu devo um agradecimento.
Outro ponto a ser observado é o próprio contrato de trabalho. De modo bastante simplista, no Brasil é possível ter apenas um contrato assinado na Carteira de Trabalho (documento que parece com um bloco de notas, fornecido pelo governo, para anotações trabalhistas), pois a legislação brasileira, mesmo com as recentes e duvidosas mudanças, ainda é muito mais complexa e protetora dos direitos do trabalhador do que as de Israel. Novamente de modo simplista, aqui depende muito mais do detalhamento no contrato de trabalho. Ele pode estar escrito em qualquer língua, sendo preferível em Hebraico, pois em geral, outras versões são tradução, passíveis de erros.
Da pouca experiência que tenho, empregadores que disponibilizam contrato em língua estrangeira ao Hebraico tendem a ser bons locais para trabalho, pois demonstram ainda mais respeito ao contratado, em especial os imigrantes novos. Dos cinco contratos que assinei, 4 estavam em hebraico, 1 em Espanhol e 1 em Português. Havendo qualquer menção a uma versão em hebraico para redimir possíveis dúvidas, é seu direito ter acesso a esta versão!
Aqui não é necessário nenhum documento específico para trabalhar, como a Carteira de Trabalho Brasileira. Basta apenas o documento de Identidade, chamado de Teudat Zehut, e para imigrantes novos, a Teudat Olê (identidade de novo imigrante), para que menos impostos incidam sobre seu salário base, os dados da conta bancária, comprovante de endereço (é fornecido pelo governo), e mais nada.
Minha grande recomendação, baseada num fato recente ocorrido comigo mesmo, é de consultar um advogado ou especialista em negócios para ler o contrato para ti, se estiver em hebraico, mesmo um Sabra poderá ter dificuldade de entender termos jurídicos. No meu caso, foram encontrados dados ilegais e restrições não compatíveis com o salário oferecido, como manter se afastado de empresas do mesmo ramo por um prazo irrazoável após possível desligamento. São questões que servem de alerta para se entender os seus direitos e deveres, e caso o empregador não queira mudar itens que nitidamente prejudicam o empregado é um demonstrativo de que aquele emprego não é o ideal, que é hora de seguir em frente. E da mesma forma que possivelmente você encontrou a oportunidade por indicação, talvez outra indicação lhe conduza para uma vaga melhor.
Outro detalhe muito comum de se observar é que em muitos locais de trabalho existe uma aparente falta de pressão por desempenho. Grande engano, pois em geral o entendimento aqui é que você deve saber o que fazer e como resolver os problemas que surgirem, e caso não saiba, procurar uma resposta rápida e jamais guardar para si, ou em pouco tempo você será demitido, como eu já fui em determinada situação.
E sobre demissão, sendo sem justa causa, o comum aqui é ser apresentado uma carta convite para uma audiência onde você, o empregado, terá uma chance de se defender das acusações sobre mau desempenho que lhe foram feitas, cabendo ao menos um dia entre a entrega da carta e a audiência em que você poderá se ausentar do trabalho sem qualquer desconto, e podendo trazer um amigo, parente ou advogado para lhe ajudar nesta defesa, o que sempre vale a pena, pois é uma chance de "soltar os cachorros" de maneira controlada, polida e sincera, dizer o que na sua visão ocorreu para a queda de desempenho e conseguir reverter a eminente demissão. Há situações em que parece um teatro montado e a decisão já foi tomada, noutros casos não, e como é difícil entender isso, recomendo sempre levar a sério e deixar uma versão impresso dos argumentos apresentados, para que também lhe ajudem no momento de nervosismo.

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