segunda-feira, 5 de março de 2018

O judaísmo é de direta ou de esquerda?

Há tempos eu venho pensando na associação que atualmente se criou entre judaísmo e a direta no espectro político, ainda mais no Brasil dos últimos tempos. No Brasil, atualmente, muito se resume a esta pergunta, muito superficial e bastante tendenciosa.
Há, como facil e comumente ocorre, uma generalização. Não há dados estatísticos dizendo qual a porcentagem aproximada de judeus que sejam pró direita ou pró esquerda. Mas tendo um clube carioca recebido para uma palestra um dos personagens políticos dos mais caricatos, que há mais de 20 anos é deputado federal sem ter aprovado sequer uma lei, que dá declarações fascistas... Enfim, o currículo é extenso... Criou se a percepção de que o judaísmo é de direita.
Mal sabem que durante a ditadura militar brasileira, de 1964-1985, diversos personagens judeus foram vítimas das crueldades e torturas do governo militar da época, tendo seu expoente máximo no jornalista Vladimir Herzog - nascido na Croácia, fugiu dos horrores do Holocausto - e acabou morrendo nos calabouços do DOPS. Um dos maiores rabinos que o Brasil teve, e que colocou o judaísmo no mapa social brasileiro, Henry Sobel, tomou a decisão de não enterra lo na área dedicada a suicidas - pois naquele momento, foi furjado o suicídio de Herzog. Não se esqueçam também que nas eleições presidenciais americanas de 2016, o senador Bernie Sanders, que quase disputou o cargo contra Trump, é judeu e um típico defensor de direitos sociais.
Ainda hoje diversos personagens políticos da esquerda são judeus, como o ex governador do estado da Bahia, Jaques Wagner.
Porém, desde a redemocratização do Brasil, uma maioria aparente dos judeus estava mais alinhada com os conservadores, ou o centro político, em especial, o PSDB, quando este ocupava uma posição de centro-esquerda, como é de se esperar de uma "social democracia", até que passou a se associar ao PFL, um dos partidos remascentes de apoio aos ditadores. Diversos pensadores políticos davam sustentação a um partido que dava a sensação de ser diferenciado pela sua capacidade de argumentação elevada, tendo seu expoente máximo o ex presidente Fernando Henrique Cardoso, um sociólogo e professor. Em suma, um intelectual se tornou presidente do Brasil. FHC, alias, tem diversas homenagens feitas pela comunidade judaica do Brasil, como a de presidente hemérito do Centro da Cultura Judaica e tem uma placa em homenagem a visita que fez a Congregação Israelita Paulista, comandada a época pelo rabino Sobel. O mesmo não se repetiu com a visita do ex presidente Lula, e Dilma recusou os convites recebidos.
Desde a ascensão de Lula a presidência e a firmação da esquerda política no Brasil, embora seu governo tenha sido de fato de centro esquerda, vozes anti semitas, disfarçadas de anti sionistas, passaram a ganhar cada vez mais voz. Creio que muito mais em parte por conta do crescimento de redes sociais, como Orkut, Twitter e Facebook.
A presença de bandeiras palestinas em divesos protestos internos, como contra aumento de tarifa de ônibus ou até mesmo contra a corrupção, passaram a fazer parte do cenário. O paradoxal é ver a bandeira palestina em protestos contra a corrupção, como as de junho de 2013, sendo que tanto a OLP (Organização para Libertação da Palestina) como a ANP (Autoridade Nacional Palestina), são organismos dos mais corruptos, premiando até hoje, terroristas e familiares com gordos salários com o dinhheiro de doações, incluisive as brasileiras e americanas, sem contar que jamais fizeram uma eleição.
Isto foi ascendendo uma chama de alerta dentro da comunidade judaica, e muitos passaram, portanto, para um espectro político contrária da esquerda, assim como uma boa parte da sociedade brasileira. Não estou aqui fazendo julgamentos se os motivos são justos.
Eu, particularmente, sempre me vi como alinhado ao conservadorismo de verdade, tendendo a centro esquerda. E antes que eu alguém diga, não sou fã de Margaret Tatcher! Mas há anos o Brasil não tem representantes no centro, e nos últimos três anos, com o acirramento político crescente, uma parte consideravel da população voltou se para a direita política, e neste sentido, me senti lançado a esquerda - de forma um tanto quanto violenta, mas sem arrependimentos, tanto que de "coxinha" (apelido dado a quem é de direita no Brasil), passei a quase comunista, como muitos amigos meus acham que eu sou. Daí também minhas eventuais brincadeiras neste sentido, pois vermelho é a minha cor favorita, e adoro meu suéter vermelho!
Este meu alinhamento se mantém, pois eu não consigo ir contra a conquistas sociais, contra a criação de uma sociedade mais igualitária e respeitosa, e principalmente, me associar a uma política opressora, nazi/fascista, caduca, e que hoje até se orgulha do seu passado torturador.
Tanto pediram, e cá estamos!
Apesar de que é da esquerda (radical) que parte constantes ataques a Israel; não a sua política, bastante polêmica (eu concordo), mas a sua existência. Fiquei, inclusive, abismado com este texto que foi publicado a respeito da possível visita de Benjamin Netaniahu ao Brasil, ainda em 2017. Um texto lotado de ódio simplista, onde se baseia na literalidade do texto bíblico, com erros de interpretação absurdos, para se posicionar contra a visita. Se eu estivesse no Brasil, teria entrado com um processo judicial contra este ser que se define como jornalista. Nem mesmo pastores de igrejas evangélicas conseguem falar tantos absurdos bíblicos para destilar ódio gratuito de descarato como este cretino teve. Mas lendo o texto, não há um minimamente argumento plausível contra a visita. Lelê Teles, com o perdão do trocadilho, deveria se renominar "Lelé da Cuca" (gíria brasileira para definir uma pessoa louca). O absurdo foi tamanho que o texto foi removido, mas devidamente recuperado no link, para o "deleite" de vocês, meus caros leitores. Um jornalista mequetrefe, como este se auto define, passa a ser também um agente político, ajudando na criação de uma visão negativa.
Ou seja, num espectro ou outro, o judaísmo tem na atualidade, desafios a enfrentar, pois de um lado se questiona a existencia de um país para sua auto determinação, e de outro se alinha a aqueles que por tantos anos provocaram diversas fugas em massa, culminando no Holocausto.
Se é que é possível assim determinar, e estando a parte das peculiaridades da política nacional, eu diria que o judaísmo como um todo tende ao centro político, pois a cultura judaica não se envergonha de sua riqueza, não diz que é pecado enriquecer - ao contrário, tende a ser fruto de mérito e esforço. Porém as comunidades judaicas em praticamente todo o mundo prosperam justamente por haver uma contribuição para que seus membros consigam se reerguer, caso tenham sofrido algo, e que tenham a devida ajuda para que caminhem com seus próprios pés. Ou seja, todos tentam se ajudar na medida do possível, o que tende a diminuir as desigualdades entre os mais ricos e mais pobres. Aqui em Israel, por exemplo, mesmo os imigrantes que pouco falam a lingua local, conseguem uma posição de trabalho sem grandes dificuldades. Notem que falei do judaismo, e não de Israel!
A questão atual de muitos judeus brasileiros está contaminada com a lama tóxica em que a política nacional brasileira foi jogada. Espero, que num futuro breve, quem é de esquerda não seja "proibido" de possuir um Iphone, pois não se defende uma vida franciscana, bem como quem é de direita não se alinhe com pensamentos fascistas. Espero assim que todos recobrem seus pensamentos cheios de ódio e parem de bater no peito dizendo que tem razão, ou como o Lelé da Cuca disse, que traz a verdade. Só um tem a verdade, e não somos nós, prezados humanos, que a possuímos!

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