quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Eu e os russos

Desde os anos 90, a onda imigratória da extinta União Soviética, em especial da Rússia, forma um grupo muito grande, forte e unido. Antes de vir para cá, havia lido de poemas a reclamações a respeito dos russos em Israel.
No momento oportuno escreverei a respeito da participação deles na sociedade israeli. Resolvi dedicar minha atenção a minha interação com eles, pois é inevitável não notá los.
Na minha chegada, pouco após receber o visto de entrada e ser direcionado ao Ministério do Interior, para meu registro oficial como cidadão israeli que agora eu também sou, tive que lidar com ao menos uns 15 russos (entre alguns ucranianos no meio). A guia (agente oficial do governo) que nos acompanhou também era russa e pouco falava hebraico. Como relatei antes, se não fosse por uma ucraniana que traduzia o que ela nos dizia em russo, eu teria apenas ficado junto a eles e seguir em frente. No ministério em si me ofereceram atendimento em espanhol, mas como tenho certa dificuldade com esta língua, preferi o inglês, que foi muito bom e gentil.
Ao chegar na minha primeira moradia, meu colega de apartamento, brasileiro, me relatou muitas das dificuldades com a presença dos russos nas aulas de hebraico, e o fato da professora traduzir tudo para o russo, de todos os outros brasileiros que desistiram das aulas por isso, menos ele. Cheguei ao absurdo de ter acompanhado uma apresentação sobre o dia da Independência de Israel onde até o Hino Nacional, Hatikva (A Esperança), foi recitado em russo! Isto me influenciou num primeiro momento, não em detestá los ou algo próximo, mas de sentir que existe um peso maior a absorção deles do que a dos demais. Continuo considerando que toda aquela tradução foi além do necessário, afinal o hebraico e o árabe são as línguas nacionais.
Passados estes eventos iniciais e broncas que eu recebi até de um rabino amigo meu, segui meu caminho sem me incomodar com a presença deles. Na verdade, passei a me divertir com isto. Pois em muitos momentos, da mesma maneira que eu me atrapalhava com coisas diárias, eles também. Então vamos rir!
Com meus colegas de Ulpan eu nunca tive qualquer tipo de encrenca ou enfrentamento, embora tenha presenciado algumas, especialmente entre eles e os hispânicos. Minha sala era 1/3 de russos, 1/3 de hispânicos e 1/3 das demais nações. Todos sentiram as dificuldades de receber uma carga muito pesada de informação em pouco tempo, e muitos falavam entre si para que se entendessem, mas no que um grupo falava, o outro protestava dizendo que atrapalhava ao outro, e vice e versa.
Russos "é" legal. traduzi como está escrito.
Aos poucos eu me integrei a eles, ou talvez fui integrado a eles, ainda não sei ao certo. A questão é que sempre foram muito gentis comigo, assim como eu tento ser com todos. Desde uma torrada com caviar de salmão no interválo da aula, passando por espetinhos de coração de frango, bolos, chás, café, humus, burekas... e tentativas de comunicação de entendimento mútuo, apesar das dificuldades linguisticas envolvidas.
Pelo relato de muitos, que enfrentam dificuldades desde anteriores a sua vinda, com o convívio com eles como vizinhos, vejo que eu sou um homem de sorte.
No trabalho uma das minhas chefes é filha de russos, e muitas colegas de lá são, e na medida do possível tentamos nos entender. Outro dia uma cliente filipina, que só falava em inglês, não conseguia ser entendida, e eu intervi e tudo se resolveu, assim como alguns clientes russos também tentaram se entender comigo, e precisei da ajuda para serem compreendidos. Meus conhecimentos de russo não vão muito além de "eta" (isto), "dá" (sim), "niet" (não) ou "priviê" (bom dia?), e que quando eles veem a vogal "O" eles leem como leriamos "A", e por isso é comum eles chamarem os brasileiros de Marcela, Murila, Rogéria, Alberta e assim por diante - tanto que isto não me aborrecia.
Houve uma vez no trabalho que tomei bronca em russo, pois a cliente só falava em russo começou a levantar a voz para mim por eu não saber o que ela queria, no que eu levantei também dizendo que estavamos em Israel e se ela não falasse em hebraico eu não tinha obrigação de entende la - ela só queria saber onde ficava o provatório.
Recentemente acabei conhecendo uma russa numa palestra. Estava de saída e notei que alguém se aproximava, e por isto fiz o elevador esperar. Entre uma conversa e outra, ela notou minha dificuldade com o hebraico e passamos a falar em inglês, no que ela ofereceu ajuda e mantemos contato.
Claro que nem tudo é lindo e maravilhoso, e no devido momento relatarei sobre isto, mas no que diz respeito a mim, está tranquilo!

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Eu e os muçulmanos

Infelizmente eu não tenho amigos muçulmanos, mas conheço alguns virtualmente e gostaria de tratar um pouco da minha relação geral com eles aqui em Israel.
Desde que eu morava no Brasil, via muitas reações discriminatórias aos muçulmanos em geral, sem um fato no Brasil os que justificassem. Reações via internet na maioria, pois o brasileiro médio ainda acha que pode se esconder aqui.
Na verdade, boa parte da reação negativa a qual eu via ou ouvia era relacionada a fatos na Europa e Oriente Médio, como o levante do ISIS na Síria e Iraque ou os atentados ocorridos na Europa nos últimos anos. Se fosse regra geral se justificaria. Se...!
O Brasil, neste sentido, é um exemplo de boa convivência entre judeus e muçulmanos. Lembro bem do Yom Kipur de 2013 onde duas muçulmanas usando burcas pretas (se o nome não for este, peço desculpas), mostrando apenas o rosto, e passaram ao lado de uma das maiores sinagogas de São Paulo, a Mekor Haim, que fica no bairro da Santa Cecília. E de repente pararam para conversar com dois rabinos, que voltavam para a reza, após o breve interválo que há de tarde, e a conversa, em árabe, fruiu de forma muito tranquila.
Embora os muçulmanos seja minoria em Israel, a proporção deles na população na verdade cresceu nos últimos anos, tanto pela alta taxa de natalidade entre eles, como pela queda da natalidade dos judeus em geral, mesmo com as imigrações de judeus ainda em alta, da qual integrei as estatisticas de 2017, quando cheguei aqui.
Eu venho apenas observando o comportamento deles como dos meus amigos. Deles eu não tenho qualquer tipo de reclamação ou apontamento a fazer, até porque na maioria dos casos, poucos falam hebraico, e os que falaram comigo, sempre foram muito respeitosos, com direito a abraços, cumprimentos de mão e agradecimentos. Quando trabalhei num hotel no Mar Morto, tinha um garçom que me pedia para falar em português, para conhecer a sonoridade da língua. As mulheres são mais retraídas e apenas perguntam coisas diretas, quando necessário, sendo sempre muito educadas. O homem da foto eu não o conheço, apenas vejo esta cena com certa frequência por aqui, onde no meio do horário de trabalho, eles param, se viram para Meca, e com seu tapete fazem suas rezas mesmo que no meio da rua, com total segurança.
Os homens, eu os acho mais mal vestidos, fumam muito e sempre com um copo de café turco nas mãos, que cada vez mais vem sendo substituído pelas bebidas energéticas, e os mais jovens andam em bandos, especialmente os beduínos em Beer Sheva. As mulheres também andam mais entre elas, e sempre noto a qualidade dos lenços usados para se cobrirem, além da maquiagem usada, da voz mais baixa com que falam, e até mesmo do perfume que usam. Mesmo as que só mostram os olhos já consigo ver beleza.
A convivência em geral é muito tranquila. Tanto é que lembro que durante dois momentos de aumento da tensão com palestinos, em junho/2017, quando 2 políciais foram mortos no Portão de Leão (entrada da Cidade Antiga, ao lado da entrada da Esplanada das Mesquitas), em Jerusalém, e o governo de Israel tentou (e recuou) implementar sistemas de seguranças adicionais. Assim como os conflitos com o anúncio de Donald Trump reconhecendo Jerusalém como capital de Israel, tirando a Cidade Antiga, em todo o país a convivência continuou igual e praticamente inabalada. Num dos centros de absorção de Beer Sheva, sul de Israel, muitos funcionários são muçulmanos, só para dar uma dimensão da convivência.
Da parte dos israelenses, o que noto é que dos recém chegados, e falo especificamente dos brasileiros, há discriminação! Um colega de trabalho sempre faz comentários pejorativos de que furtos ocorridos na loja são causados por eles. Embora seja verdade, não são os únicos, e eu já vi duas judias, loiras e aparentemente inofensivas, furtando um par de tenis e deixando um par velho na loja, num momento em que me ausentei. Quando estive em Jerusalém para o feriado judaico de Shavuot (celebração da entrega da Torá no Monte Sinai), cheguei a ouvir comentários como "empurrar esse povo pra lá". Ainda assim, também vejo ações anti discriminação, e como já citei anteriormente, uma brasileira que administra um grupos de ajuda a imigrantes brasileiros é bastante enérgica em não permitir comentários depreciativos.
Um colega que veio para cá anos antes de mim é também outro exemplo de discriminador. Numa tensão a respeito da sua falta de respeito, foi quando eu decidi romper contato.
Alguns me acusam de ser cego, de romantizar algo que não deveria ser romantizado, mas parto do princípio que eu tenho o respeito inicial a oferecer. Se não me oferecerem é um problema dos outros, e não meu! Eu não estou aqui fazendo defesa de terroristas ou bandido. O que quero dizer que é que na minha visão a crença não faz da pessoa um bandido, e sim sua indole, criação, educação (ou a falta dela), e que isto e outros fatores não estão necessariamente ligadas ao islã.
Eu até consigo compreender que europeus tenham uma percepção frente aos muçulmanos bastante influenciada pelos atentados que tem ocorrido naquele continente. Lembro de uma amiga que morou em Barcelona e se viu forçada a modar de vizinhança pois ela usava roupas curtas e vieram dizer que ela desrepeitava o islã, e a queriam totalmente coberta. Quem já passou o verão na Europa ou aqui em Israel tem uma noção do calor que faz por aqui nesse período do ano...
Também não sou cego em relação a certas situações que eu soube que aconteceram aqui, e partiram da iniciativa do governo local, como uma banda palestina que faria shows no Reino Unido e tiveram seus instrumentos retidos no aeroporto Ben Gurion (TLV). Assim como o youtubber Nas também já reclamou de ser sempre interrogado ao sair do país, mesmo sendo cidadão pleno de Israel e defensor do estado judeu. Se bem que isto ocorre em qualquer aeroporto do mundo, como ele apresenta no vídeo.
Um colega brasileiro, de origem libanesa, de nome Muhammed, e que visita constantemente o Líbano, já disse ter vontade de conhecer aqui, mas tem medo de ser deportado por ser muçulmano e com o nome do maior profeta deles. Eu disse que ele muito provavelmente será bem vindo, porém alertei a ele que por ter um nome tão emblemático e visitado o Líbano diversas vezes, ele teria dor de cabeça e seria interrogado no aeroporto ao chegar, mas teria sua entrada liberada. E que por via das dúvidas, que obtivesse um passaporte novo, sem o carimbo daquele país, que infelizmente, ainda é considerado um inimigo de Israel.


terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Jerusalém em disputa

No dia 06/12/2017, o presidente dos EUA oficialmente reconheceu Jerusalém como capital de Israel, seguido por República Tcheca, embora esta apenas a parte Ocidental. Alguns poucos outros países também seguiram este reconhecimento.
O significado é muito maior fora de Israel do que dentro, pois os cidadãos de Israel, assim como o governo local, já encaram Jerusalém como sa capital há anos.
Porém há alguns pontos que precisam ser notados. Jerusalém, acima de tudo, é o ponto nevrálgico das negociações entre Israel a ANP para a formação de um futuro país palestino autonomo:

Embora se fale de uma Jerusalém indivisível, a divisão já existe, e não consta nas fronteiras previamente desenhadas. A parte Ocidental é de maioria judaica, enquanto a parte Oriental de maioria muçulmana, porém a cidade se expandiu tanto a norte, sul e leste, onde há moradias judaicas e muçulmanas compartilhando muros ou ruas, como em Talpiot. Portanto, falar em indivisível é um erro, embora uma divisão política seja muito complexa de ser feita sem desagradar qualquer um dos lados. A divisão, inclusive, pode ser vista no teto das casas, pois em Israel se usa aquecedores d'água de cor branca e os muçulmanos usam de cor preta, como forma de auto afirmação;
Mapa da cidade de Jerusalém
Andando pela área Ocidental é muito fácil escutar alguém falando em árabe. Há muitos que trabalham na região. Desde o Terminal Central de onibus, hotéis e até mesmo na segurança do Muro Ocidental. E andam sem qualquer problema ou sendo encarados (normalmente quem faz isto são turistas);
Pouco se fala que o até então impensável já foi oferecido. Nas negociações de paz do final do governo de Bill Clinton em 2000, o então Primeiro Ministro de Israel, Ehud Barak ofereceu a divisão de Jerusalém a Arafat, que para variar, prontamente se recusou. Esta história demorou a ser revelada, e um dos livros que relata isto é a biografia de um dos filhos de um lider do Hamas. Até mesmo um dos maiores jornalistas brasileiros sobre Oriente Médio - Guga Chacra - desconhece o tema (já tive a oportunidade de debater isto com ele);
Portanto, tiveram a chance de dividir a cidade, como dizem querer, e não aproveitaram a oportunidade;
Num primeiro momento eu demonstrei preocupação com o reconhecimento por parte dos EUA, pois isto poderia ser usado como pretexto para a volta da violência a Israel, o que aqui não ocorreu, apenas manifestações mundo afora. Porém, ao ler um pequeno comentário, pensei na questão de que a ANP busca incessantemente uma justificativa para aumentar a violência, e dizer que ela foi provocada por Israel. Há um jogo de propaganda com um assunto de extrema seriedade, pois se uma escalada da violência viesse sem motivos aparentes, dariam força a reação israelense, tanto no campo da propaganda como militar, mas no caso, coloca Israel novamente num ponto onde teria "forçado" aos palestinos, que só possuem pedras, a lutar com sangue alheio e também o próprio, pelo que lhe consideram seu também;
Alias, segundo o livro de Mossab Hassan Yousef, ex membro do Hamas e filho de um dos líderes, "O Filho do Hamas", ele revela que antes da visita de Ariel Sharon nas proximidades do Monte do Templo, que até hoje é tido como o fator chave para a 2ª Intifada, já havia planos para desencadear uma revolta popular. No livro ele conta em detalhes este plano e como a tal visita serviu para culpar Israel por isto;
Outro ponto que gostaria de destacar é que o reconhecimento feito por Trump é tido como uma provocação, mas o movimento feito pelo presidente turco Tayyip Erdoğan, de transferir suas embaixadas para Jerusalém Oriental não é provocação, né?
Trump não disse que Jerusalém é indivisível. Deixou em aberto este tema;
Comum de ver no bairro muçulmano estas adorações a Jerusalém
Vivendo em Israel, posso constatar mais uma vez que a mídia brasileira em geral faz um alarde muito maior que os fatos vividos em Israel. Vivo em plena segurança, sem medos ou paranóias, e mesmo com os protestos pró Palestina, são muito menores aqui do que de fato o que é mostrado. Inclusive prestei um breve depoimento ao Correio Brasiliense, e há momentos que uma jornalista de Belém-PA também entra em contato comigo;
Neste inverno em Israel e o forte frio em Jerusalém, variando entre 3ºC e 10ºC, é muito fácil andar pela parte muçulmana da Cidade Antiga e ouvir hebraico fluente no meio dos transeuntes. Aliás, transito por ali sem medo, de dia ou noite;
Na entrada da Igreja do Santo Sepulcro
Vocês já notaram que os maiores simbolos do único Estado Judaico do mundo não são judaicos, como o Domo da Rocha e Al-Aqsa, ou a Igreja do Santo Sepulcro? Sem esquecer do Templo Bahai em Haifa, que é da Fé Bahai;
Pouco é divulgado que muçulmanos ou qualquer um são bem vindos a área do Muro Ocidental, o que não ocorre com judeus (e somente judeus) na área do Monte Templo, onde ficam as Mesquitas do Domo da Rocha e Al-Aqsa e ficavam os dois primeiros Templos Sagrados de Jerusalém. É muito fácil para a polícia jordaniana, responsável pela guarda do local desde a Guerra dos 6 dias, saber disto. Por ser judeu sou proibido de entrar no Monte do Templo;
Desde de antes de chegar, há lançamentos diários desde a Faixa de Gaza, de bombas e mísseis para o solo israelense. São de baixo alcance e a princípio baixo poder de destruição, e normalmente caem no deserto, e por isto mesmo o Iron Dome não é acionado para interceptar. Porém, antes do anúncio dos EUA, o sistema de trem que sai de Beer Sheva e passa próximo foi paralisado para a remoção de materiais que estragaram a linha férrea, e que foram lançadas desde Gaza. Em novembro de 2017 a região sul de Tel Aviv foi acordada com sirenes anti bombas, o que até hoje não foi confirmado como alarme falso;
O mais próximo que um míssel chegou perto de causar perdas humanas em Israel foi na cidade de Sderot, onde o Iron Dome não o interceptou e este caiu numa rua da cidade, causando danos apenas nos carros da rua. Porém o Iron Dome foi acionado outras vezes;
Passados mais de um mês após o anúncio, a tranquilidade nas ruas é a mesma de antes, incluindo em Jerusalém;

Opiniões são livres, mas devem estar baseadas em fatos e tentar ser o mais imparcial possível, o menos tendencioso, e respeitar ambos os lados. Fora isto, é uma provocação sem sentido, sem necessidade, que só contribuem para animosidades, e reafirmam a estupidez de quem o emite. O fato de eu querer que os palestinos tenham um país autônomo não implica em querer a destruição de Israel.
Escrevo isto lembrando do pouco que li do Brasil, onde um amigo citou Israel como um estado colonialista. Vivendo num mundo colonizado e também colonialista, incluindo o Brasil, um professor universitário deve ter um pouco mais de estudos do caso para dar um depoimento; mas sua área de atuação é a educação, da qual tenho plena ciência das suas capacidades, o que não é o caso de geo política do Oriente Médio. Não que eu possua tais estudos, mas possuo vivência, o que nem ao menos é o caso dele e de tantos outros, e ainda assim eu prefiro não me manifestar muito a respeito. Dentro desta prerrogativa, quando pediremos desculpas aos índios, e voltaremos para a Europa, África e Ásia, e deixaremos a terra (Brasil) a quem ela pertence? (pergunta cheia de deboche e ironia).
Encerro estas curtas observações comum video que circulou muito as redes sociais em 2017, quando Mossab Hassan Yousef, ex membro do Hamas e filho de um dos líderes, desmacarou parte das contradições da ANP no Conselho de Diretos Humanos. O vídeo é editado, mas notem que quem mostram que repudia Israel são mundialmente conhecidos pelos desrepeitos aos Direitos Humanos, como Síria, Catar, Coréia do Norte e Venezuela, para citar alguns. Não quero dizer, entretanto, que Israel não cometa erros com os palestinos, mas vivendo aqui eu vejo que não é nem 5% do que é tratado na mídia brasileira, que aliás, só trata do caso quando Israel reage com bombardeios, dando a falsa impressão de que Israel começou tudo e quer sufocar palestinos, que só tem pedras para se defenderem.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Novo Nome

Em Israel, a mudança de nome pode ser feita sem precisar se justificar e de modo bastante simplificado. Vale inclusive para transexuais transgêneros, embora sem a alteração de gênero! Mas antes de explicar, escreverei sobre a motivação de mudar de nome.
Primeiramente pensar num nome novo pra si é algo um tanto quanto desafiador. Há escolhas na vida que os pais tomam por nós, e uma das primeiras é a escolha do nome. Eu sei que eu quase ganhei o nome de Rafael, mas minha mãe tinha um certo ressentimento com um colega de trabalho e optou por Murilo, e meu pai, como um bom homem, respeitou a decisão.
Outro motivo para mudança de nome é a questão da pronúncia. No Brasil, embora o meu nome não seja tão popular, é relativamente fácil para pronuncia lo. Poucas foram as vezes que alguém teve dificuldade - em geral é confundido com nomes como Rodrigo, Mauricio, Maurílio.
Lembro de quantas vezes o jogador de volei Nalbert, capitão da seleção brasileira de Volei na conquista da medalha de ouro em Atenas 2004, insistiu para ter a pronúncia correta do nome dele, que é de origem francesa, e portanto, a última letra é muda (le-se Nalbér) - o mesmo acontece com meu amigo Gilbert (le-se Gilbér), que quase sempre é chamado de Gilbertchy ou Gilberto.
Aqui em Israel, nomes de origem latina, especialmente luso espanhola, são de difícil pronúncia para eles. Não é má vontade, é uma combinação de sons desconhecida. Lembro do ex jogador Jorginho, que atuou pelo Brasil na Copa de 94 nos EUA, e como jogava num clube da Alemanha, lá pediram pra ele para ser chamado de Yorg, pois seria muito mais fácil para o alemão chama lo. Foi uma adaptação que deu certo.
Há que se levar em conta que o alfabeto hebraico não possui certas letras e seus sons, como o J, de Jonatas, mas que por ter uma origem bíblica, é lido como Yonatan. Só pra citar um exemplo simples.
Como eu não conheci nenhum nome minimamente próximo ao meu, em sonoridade e significado, eu resolvi buscar por outro, mais simples e moderno: Moti (מוֹטִי). Acho que reflete um pouco de quem sou. Um nome contemporâneo e conectado as tradições, sem deixar de olhar para o presente e futuro, pois é uma versão reduzida de Mordechai (ou Mordecai), mais conhecido pela história no Livro de Ester.
Muitos novos imigrantes, bem como israelenses nascidos aqui alteram seus nomes. Em geral, os judeus, até pela dúvida de qual nome escolher, optam pelo nome judaico que receberam, nome este usado apenas em momentos de reza ou ao subir à Torá. Resolvi deixar para um uso restrito as rezas.
Porém há alguns detalhes a se saber:

  • é possível alterar também o sobrenome, mas eu gosto da minha origem e não teria motivos para mudar, mesmo que isto também gere uma pequena dificuldade de pronúncia. Essa mudança pode ser para qualquer sobrenome.
  • O nº da identidade local não se altera.
  • Toda alteração deverá ser feita pelo maior de 18 anos pessoalmente e diretamente num escritório do Ministério do Interior (aqui chamado de Misrad Hapnim), e pagar a taxa estabelecida.
  • A nova identidade agora é biométrica, ou seja, quem renovar ou pedir uma nova, terá que registrar as digitais dos dedos indicadores, como já ocorria com os passaportes, pois antes não havia este registro.
  • Uma nova alteração, não importa o motivo, será feita apenas após 7 anos do pedido da alteração anterior.
  • Na nova carteira de identidade não constará visível o nome anterior, mas constará no seu prontuário eletrônico mantido pelo governo. O primeiro passaporte após a alterção constará o nome anterior e o nome atualizado, incluindo naquele código numérico. Os demais constarão apenas o nome atualizado.
  • A nova identidade é encaminhada a agência mais próxima dos correios e em alguns casos é necessário buscar, noutros eles entregarão mediante a senha dada no pedido;
  • A identidade anterior é cortada nas pontas e ganha um selo com QR code e data de validade de 2 meses a contar do pedido da nova. Ela deverá ser picotada após receber a nova;
  • Oficialmente, feito o pedido e pago por ele, a pessoa já passa a ser conhecida pelo novo nome;
  • É solicitado ao cidadão escrever o nome em alfabeto latino, de acordo com a leitura na língua inglesa, para fins de documentos internacionais, como passaporte.
Algo que tem dado um pouco de dor de cabeça nos novos imigrantes é que até maio de 2017, ao desembarcar ter o seu registro feito, o documento dado tinha validade de 10 anos, pois não eram capturado as digitais, porém agora, o sistema no aeroporto ainda não foi atualizado, portanto o imigrante novo recebe em média 2 meses para providenciar o novo documento, e deverá pagar por ele! O imigrante novo, por sinal, não poderá trocar seu nome diretamente no aeroporto, apenas controlar se o registro em hebraico está apropriado, pois não é incomum registros estranhos.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Há uma hora de partir?

Em todo processo de imigração deve ser levado em conta que ele pode não ser para você, ou o local ou país não são, ou parecia ser, mas depois de chegar viu se que não. Tentar é sempre válido, e reconhecer que chegou a hora de seguir outro rumo não é demérito, é na verdade, um ajuste de vida, e deve ser valorizado. Ficar com o pensamento pelo resto da vida "e se eu tivesse ido" é muito sofrido, pois se trata de algo que nunca se saberá. O "Se" é algo que não aconteceu, e não se saberá como de fato seria.
Reconhecer o momento de finalizar uma imigração exige preparo, tanto quanto o processo inicial em si.Talvez até maior!
Mas com tantas coisas boas que ocorrem em Israel, como a ecônomia em alta, a inflação estável, índice de desemprego baixo e baixíssima violência urbana, porque ir embora? São diversas respostas possíveis, como dificuldade de adaptação com a cultura local, vivenciar uma realidade diferente da esperada, a diferença climática, não contar com a devida ajuda, estar solitário, salário abaixo do esperado, promessas não cumpridas, tragédias familiares, a soma das anteriores...
Depois de algumas publicações aqui, tive algumas conversas com um amigo que mora em Israel há anos, e ele me confidenciou que amigos dele voltaram para seus países de origem ou foram para outro. Um brasileiro não se adaptou a Israel, e depois não se acostumava mais ao Brasil, e daí imigrou para os EUA, onde se reencontrou com outro que amigo de Israel, e hoje vivem juntos e felizes lá.
Tenho uma amiga que viveu parte da adolescência na Holanda e depois voltou, porém percebeu que não se adaptava mais ao Brasil e hoje vive feliz lá, com sua família. Por outro lado tenho vários amigos que viveram aqui em Israel e depois voltaram ao Brasil e são mais felizes agora, embora mantenham uma ligação forte. Assim como eu soube de um casal que veio para cá, especialmente a esposa não se adaptou, e depois de voltar ao Brasil, percebeu que não se adaptava mais a vida brasileira e acabou retornando a Israel depois de alguns anos. Enfim, são diversos exemplos para tratar de uma possibilidade, que deve ser levada em consideração, sempre!
Escrevo isto pensando numa amiga que há pouco voltou para seu país de origem, e da qual acabei de me despedir no aeroporto. Não foi exatamente uma surpresa, pois eu acompanhei muitas das dificuldades que ela passou, entretanto ela tem uma outra ótima opção, voltar ao país que ela vivia antes de vir, onde manteve seus negócios e residência, além de amigos e clientes lá. Vou aqui preservar o nome e fotos dela, mas se ela estiver lendo, saiba que "eu te amo e te admiro muito, mesmo a distância. Sua coragem e determinação são fontes de inspiração para mim. A distância jamais apagará nossa amizade e depois de tudo que você me confidenciou, tenho uma conexão indelével!"
Aliás, algo que ela comentou comigo, que a para judeus dos EUA, a ONG Nefesh Benefesh faz uma série de entrevistas prévias a imigração dos judeus de lá, e numa das perguntas é: "Qual é a sua alternativa caso resolva voltar para os EUA?" Alguém pode se questionar do porquê desta pergunta, mas se ela foi feita, mostra um pouco do cultura americana, onde se preparam para o pior para colher o melhor. É deixar claro que nem tudo são flores e que sempre há um porém, que há algo que não foi pensado.
Mesmo que você seja uma pessoa que tenha viajado por diversos lugares do mundo, lembre se que na maioria absoluta, se não em todas as oportunidades, você foi como turista, e viu o que era bacana de se ver e depois voltou. Não vivenciou as discrepâncias da rotina daqueles lugares que visitou. Eu até tenho uma ex aluna que arrecadou doações e levou a Angola, portanto ela teve um pouco de contato com as dificuldades daquele país, mas quantos fazem isso?
Vista de Tel Aviv, desde Yafo
Com as tensões no Brasil por conta do acirramento político e diversas perdas de direitos, pensar em imigrar é até natural, e muito fácil ser romantizada e idealizada. Afinal, nós brasileiros crescemos num país onde adoramos odiar, criticar, falar mal, sem necessariamente fazer a nossa parte para melhorar. Era comum não permitir qualquer crítica que não fosse de brasileiros, pois vivemos uma relação de amor e ódio pelo país. Dizemos que americanos são burros e não conhecem geografia e que eles acham que nossa capital é o Rio de Janeiro (faz tempo que não é mais) e até mesmo Buenos Aires, mas não sabemos o nome do presidente do Paraguai, México ou mesmo Portugal, para citar paises com fortes trocas culturais e comerciais. Portugal, ao meu ver, é um caso muito estranho, pois é de lá que vem a maioria dos voos internacionais ao Brasil; só para São Paulo são 3 voos diários, fora praticamente todas as capitais estaduais para as quais eles voam. E nisto, é muito fácil encontrar blogues, sites, páginas do Facebook ou youtubbers dizendo de todas as maravilhas de viver fora, gerando na mente daqueles que leem, veem ou escutam a respeito, que tudo no exterior é uma delícia, e por consequência, o Brasil não presta para nada!
Lembro de um rapaz do Ceará, com sotaque bastante característico, falando da vida dele em Paris, a cidade luz e a mais romântica do mundo. Ele dizia a respeito das dificuldades de viver no forte calor do verão francês, numa terra onde não se toma tantos banhos como no Brasil e daí as pessoas estarem mal cheirosas, onde as habitações e espaços públicos não tem ar condicionado, e quando possuem, não tem a mesma eficiência, e por isto, foi alvo de críticas infundadas como "porque não volta para a pobreza do agreste de onde veio?". Existe uma percepção de que a vida no exterior é sempre boa e glamurosa, pois o Brasil é sempre uma merda aos olhos destes, e qualquer crítica ou observação é motivo de chacota ou demérito. Talvez esteja aí o problema atual do Brasil, as pessoas passaram a desmerecer mais a crença ideológica alheia do que valorizar a própria.
Volto a dizer que embora a situação no Brasil não seja boa, estamos muito longe do que a Venezuela vive, portanto, decidir sair do país deve ser feito com calma e preparo, sem ficar com a sensação de fuga, pois a tendência, neste caso, é de se debater no país em que se chegará, batendo no peito e exigindo direitos, sem fazer por onde. Eu sempre escutei falar disto, e ao chegar aqui em Israel, tenho acompanhado de perto dificuldades das pessoas em se adaptar, e com este mesmo comportamento pequeno.

2 anos longe de muitos, mais perto de mim.

Já pararam para pensar que a vida de uma pessoa é como um livro, escrito em tempo real? Felizmente, ou não, jamais teremos acesso a totali...