quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Eu e os russos

Desde os anos 90, a onda imigratória da extinta União Soviética, em especial da Rússia, forma um grupo muito grande, forte e unido. Antes de vir para cá, havia lido de poemas a reclamações a respeito dos russos em Israel.
No momento oportuno escreverei a respeito da participação deles na sociedade israeli. Resolvi dedicar minha atenção a minha interação com eles, pois é inevitável não notá los.
Na minha chegada, pouco após receber o visto de entrada e ser direcionado ao Ministério do Interior, para meu registro oficial como cidadão israeli que agora eu também sou, tive que lidar com ao menos uns 15 russos (entre alguns ucranianos no meio). A guia (agente oficial do governo) que nos acompanhou também era russa e pouco falava hebraico. Como relatei antes, se não fosse por uma ucraniana que traduzia o que ela nos dizia em russo, eu teria apenas ficado junto a eles e seguir em frente. No ministério em si me ofereceram atendimento em espanhol, mas como tenho certa dificuldade com esta língua, preferi o inglês, que foi muito bom e gentil.
Ao chegar na minha primeira moradia, meu colega de apartamento, brasileiro, me relatou muitas das dificuldades com a presença dos russos nas aulas de hebraico, e o fato da professora traduzir tudo para o russo, de todos os outros brasileiros que desistiram das aulas por isso, menos ele. Cheguei ao absurdo de ter acompanhado uma apresentação sobre o dia da Independência de Israel onde até o Hino Nacional, Hatikva (A Esperança), foi recitado em russo! Isto me influenciou num primeiro momento, não em detestá los ou algo próximo, mas de sentir que existe um peso maior a absorção deles do que a dos demais. Continuo considerando que toda aquela tradução foi além do necessário, afinal o hebraico e o árabe são as línguas nacionais.
Passados estes eventos iniciais e broncas que eu recebi até de um rabino amigo meu, segui meu caminho sem me incomodar com a presença deles. Na verdade, passei a me divertir com isto. Pois em muitos momentos, da mesma maneira que eu me atrapalhava com coisas diárias, eles também. Então vamos rir!
Com meus colegas de Ulpan eu nunca tive qualquer tipo de encrenca ou enfrentamento, embora tenha presenciado algumas, especialmente entre eles e os hispânicos. Minha sala era 1/3 de russos, 1/3 de hispânicos e 1/3 das demais nações. Todos sentiram as dificuldades de receber uma carga muito pesada de informação em pouco tempo, e muitos falavam entre si para que se entendessem, mas no que um grupo falava, o outro protestava dizendo que atrapalhava ao outro, e vice e versa.
Russos "é" legal. traduzi como está escrito.
Aos poucos eu me integrei a eles, ou talvez fui integrado a eles, ainda não sei ao certo. A questão é que sempre foram muito gentis comigo, assim como eu tento ser com todos. Desde uma torrada com caviar de salmão no interválo da aula, passando por espetinhos de coração de frango, bolos, chás, café, humus, burekas... e tentativas de comunicação de entendimento mútuo, apesar das dificuldades linguisticas envolvidas.
Pelo relato de muitos, que enfrentam dificuldades desde anteriores a sua vinda, com o convívio com eles como vizinhos, vejo que eu sou um homem de sorte.
No trabalho uma das minhas chefes é filha de russos, e muitas colegas de lá são, e na medida do possível tentamos nos entender. Outro dia uma cliente filipina, que só falava em inglês, não conseguia ser entendida, e eu intervi e tudo se resolveu, assim como alguns clientes russos também tentaram se entender comigo, e precisei da ajuda para serem compreendidos. Meus conhecimentos de russo não vão muito além de "eta" (isto), "dá" (sim), "niet" (não) ou "priviê" (bom dia?), e que quando eles veem a vogal "O" eles leem como leriamos "A", e por isso é comum eles chamarem os brasileiros de Marcela, Murila, Rogéria, Alberta e assim por diante - tanto que isto não me aborrecia.
Houve uma vez no trabalho que tomei bronca em russo, pois a cliente só falava em russo começou a levantar a voz para mim por eu não saber o que ela queria, no que eu levantei também dizendo que estavamos em Israel e se ela não falasse em hebraico eu não tinha obrigação de entende la - ela só queria saber onde ficava o provatório.
Recentemente acabei conhecendo uma russa numa palestra. Estava de saída e notei que alguém se aproximava, e por isto fiz o elevador esperar. Entre uma conversa e outra, ela notou minha dificuldade com o hebraico e passamos a falar em inglês, no que ela ofereceu ajuda e mantemos contato.
Claro que nem tudo é lindo e maravilhoso, e no devido momento relatarei sobre isto, mas no que diz respeito a mim, está tranquilo!

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