quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Eu e os muçulmanos

Infelizmente eu não tenho amigos muçulmanos, mas conheço alguns virtualmente e gostaria de tratar um pouco da minha relação geral com eles aqui em Israel.
Desde que eu morava no Brasil, via muitas reações discriminatórias aos muçulmanos em geral, sem um fato no Brasil os que justificassem. Reações via internet na maioria, pois o brasileiro médio ainda acha que pode se esconder aqui.
Na verdade, boa parte da reação negativa a qual eu via ou ouvia era relacionada a fatos na Europa e Oriente Médio, como o levante do ISIS na Síria e Iraque ou os atentados ocorridos na Europa nos últimos anos. Se fosse regra geral se justificaria. Se...!
O Brasil, neste sentido, é um exemplo de boa convivência entre judeus e muçulmanos. Lembro bem do Yom Kipur de 2013 onde duas muçulmanas usando burcas pretas (se o nome não for este, peço desculpas), mostrando apenas o rosto, e passaram ao lado de uma das maiores sinagogas de São Paulo, a Mekor Haim, que fica no bairro da Santa Cecília. E de repente pararam para conversar com dois rabinos, que voltavam para a reza, após o breve interválo que há de tarde, e a conversa, em árabe, fruiu de forma muito tranquila.
Embora os muçulmanos seja minoria em Israel, a proporção deles na população na verdade cresceu nos últimos anos, tanto pela alta taxa de natalidade entre eles, como pela queda da natalidade dos judeus em geral, mesmo com as imigrações de judeus ainda em alta, da qual integrei as estatisticas de 2017, quando cheguei aqui.
Eu venho apenas observando o comportamento deles como dos meus amigos. Deles eu não tenho qualquer tipo de reclamação ou apontamento a fazer, até porque na maioria dos casos, poucos falam hebraico, e os que falaram comigo, sempre foram muito respeitosos, com direito a abraços, cumprimentos de mão e agradecimentos. Quando trabalhei num hotel no Mar Morto, tinha um garçom que me pedia para falar em português, para conhecer a sonoridade da língua. As mulheres são mais retraídas e apenas perguntam coisas diretas, quando necessário, sendo sempre muito educadas. O homem da foto eu não o conheço, apenas vejo esta cena com certa frequência por aqui, onde no meio do horário de trabalho, eles param, se viram para Meca, e com seu tapete fazem suas rezas mesmo que no meio da rua, com total segurança.
Os homens, eu os acho mais mal vestidos, fumam muito e sempre com um copo de café turco nas mãos, que cada vez mais vem sendo substituído pelas bebidas energéticas, e os mais jovens andam em bandos, especialmente os beduínos em Beer Sheva. As mulheres também andam mais entre elas, e sempre noto a qualidade dos lenços usados para se cobrirem, além da maquiagem usada, da voz mais baixa com que falam, e até mesmo do perfume que usam. Mesmo as que só mostram os olhos já consigo ver beleza.
A convivência em geral é muito tranquila. Tanto é que lembro que durante dois momentos de aumento da tensão com palestinos, em junho/2017, quando 2 políciais foram mortos no Portão de Leão (entrada da Cidade Antiga, ao lado da entrada da Esplanada das Mesquitas), em Jerusalém, e o governo de Israel tentou (e recuou) implementar sistemas de seguranças adicionais. Assim como os conflitos com o anúncio de Donald Trump reconhecendo Jerusalém como capital de Israel, tirando a Cidade Antiga, em todo o país a convivência continuou igual e praticamente inabalada. Num dos centros de absorção de Beer Sheva, sul de Israel, muitos funcionários são muçulmanos, só para dar uma dimensão da convivência.
Da parte dos israelenses, o que noto é que dos recém chegados, e falo especificamente dos brasileiros, há discriminação! Um colega de trabalho sempre faz comentários pejorativos de que furtos ocorridos na loja são causados por eles. Embora seja verdade, não são os únicos, e eu já vi duas judias, loiras e aparentemente inofensivas, furtando um par de tenis e deixando um par velho na loja, num momento em que me ausentei. Quando estive em Jerusalém para o feriado judaico de Shavuot (celebração da entrega da Torá no Monte Sinai), cheguei a ouvir comentários como "empurrar esse povo pra lá". Ainda assim, também vejo ações anti discriminação, e como já citei anteriormente, uma brasileira que administra um grupos de ajuda a imigrantes brasileiros é bastante enérgica em não permitir comentários depreciativos.
Um colega que veio para cá anos antes de mim é também outro exemplo de discriminador. Numa tensão a respeito da sua falta de respeito, foi quando eu decidi romper contato.
Alguns me acusam de ser cego, de romantizar algo que não deveria ser romantizado, mas parto do princípio que eu tenho o respeito inicial a oferecer. Se não me oferecerem é um problema dos outros, e não meu! Eu não estou aqui fazendo defesa de terroristas ou bandido. O que quero dizer que é que na minha visão a crença não faz da pessoa um bandido, e sim sua indole, criação, educação (ou a falta dela), e que isto e outros fatores não estão necessariamente ligadas ao islã.
Eu até consigo compreender que europeus tenham uma percepção frente aos muçulmanos bastante influenciada pelos atentados que tem ocorrido naquele continente. Lembro de uma amiga que morou em Barcelona e se viu forçada a modar de vizinhança pois ela usava roupas curtas e vieram dizer que ela desrepeitava o islã, e a queriam totalmente coberta. Quem já passou o verão na Europa ou aqui em Israel tem uma noção do calor que faz por aqui nesse período do ano...
Também não sou cego em relação a certas situações que eu soube que aconteceram aqui, e partiram da iniciativa do governo local, como uma banda palestina que faria shows no Reino Unido e tiveram seus instrumentos retidos no aeroporto Ben Gurion (TLV). Assim como o youtubber Nas também já reclamou de ser sempre interrogado ao sair do país, mesmo sendo cidadão pleno de Israel e defensor do estado judeu. Se bem que isto ocorre em qualquer aeroporto do mundo, como ele apresenta no vídeo.
Um colega brasileiro, de origem libanesa, de nome Muhammed, e que visita constantemente o Líbano, já disse ter vontade de conhecer aqui, mas tem medo de ser deportado por ser muçulmano e com o nome do maior profeta deles. Eu disse que ele muito provavelmente será bem vindo, porém alertei a ele que por ter um nome tão emblemático e visitado o Líbano diversas vezes, ele teria dor de cabeça e seria interrogado no aeroporto ao chegar, mas teria sua entrada liberada. E que por via das dúvidas, que obtivesse um passaporte novo, sem o carimbo daquele país, que infelizmente, ainda é considerado um inimigo de Israel.


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