terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Jerusalém em disputa

No dia 06/12/2017, o presidente dos EUA oficialmente reconheceu Jerusalém como capital de Israel, seguido por República Tcheca, embora esta apenas a parte Ocidental. Alguns poucos outros países também seguiram este reconhecimento.
O significado é muito maior fora de Israel do que dentro, pois os cidadãos de Israel, assim como o governo local, já encaram Jerusalém como sa capital há anos.
Porém há alguns pontos que precisam ser notados. Jerusalém, acima de tudo, é o ponto nevrálgico das negociações entre Israel a ANP para a formação de um futuro país palestino autonomo:

Embora se fale de uma Jerusalém indivisível, a divisão já existe, e não consta nas fronteiras previamente desenhadas. A parte Ocidental é de maioria judaica, enquanto a parte Oriental de maioria muçulmana, porém a cidade se expandiu tanto a norte, sul e leste, onde há moradias judaicas e muçulmanas compartilhando muros ou ruas, como em Talpiot. Portanto, falar em indivisível é um erro, embora uma divisão política seja muito complexa de ser feita sem desagradar qualquer um dos lados. A divisão, inclusive, pode ser vista no teto das casas, pois em Israel se usa aquecedores d'água de cor branca e os muçulmanos usam de cor preta, como forma de auto afirmação;
Mapa da cidade de Jerusalém
Andando pela área Ocidental é muito fácil escutar alguém falando em árabe. Há muitos que trabalham na região. Desde o Terminal Central de onibus, hotéis e até mesmo na segurança do Muro Ocidental. E andam sem qualquer problema ou sendo encarados (normalmente quem faz isto são turistas);
Pouco se fala que o até então impensável já foi oferecido. Nas negociações de paz do final do governo de Bill Clinton em 2000, o então Primeiro Ministro de Israel, Ehud Barak ofereceu a divisão de Jerusalém a Arafat, que para variar, prontamente se recusou. Esta história demorou a ser revelada, e um dos livros que relata isto é a biografia de um dos filhos de um lider do Hamas. Até mesmo um dos maiores jornalistas brasileiros sobre Oriente Médio - Guga Chacra - desconhece o tema (já tive a oportunidade de debater isto com ele);
Portanto, tiveram a chance de dividir a cidade, como dizem querer, e não aproveitaram a oportunidade;
Num primeiro momento eu demonstrei preocupação com o reconhecimento por parte dos EUA, pois isto poderia ser usado como pretexto para a volta da violência a Israel, o que aqui não ocorreu, apenas manifestações mundo afora. Porém, ao ler um pequeno comentário, pensei na questão de que a ANP busca incessantemente uma justificativa para aumentar a violência, e dizer que ela foi provocada por Israel. Há um jogo de propaganda com um assunto de extrema seriedade, pois se uma escalada da violência viesse sem motivos aparentes, dariam força a reação israelense, tanto no campo da propaganda como militar, mas no caso, coloca Israel novamente num ponto onde teria "forçado" aos palestinos, que só possuem pedras, a lutar com sangue alheio e também o próprio, pelo que lhe consideram seu também;
Alias, segundo o livro de Mossab Hassan Yousef, ex membro do Hamas e filho de um dos líderes, "O Filho do Hamas", ele revela que antes da visita de Ariel Sharon nas proximidades do Monte do Templo, que até hoje é tido como o fator chave para a 2ª Intifada, já havia planos para desencadear uma revolta popular. No livro ele conta em detalhes este plano e como a tal visita serviu para culpar Israel por isto;
Outro ponto que gostaria de destacar é que o reconhecimento feito por Trump é tido como uma provocação, mas o movimento feito pelo presidente turco Tayyip Erdoğan, de transferir suas embaixadas para Jerusalém Oriental não é provocação, né?
Trump não disse que Jerusalém é indivisível. Deixou em aberto este tema;
Comum de ver no bairro muçulmano estas adorações a Jerusalém
Vivendo em Israel, posso constatar mais uma vez que a mídia brasileira em geral faz um alarde muito maior que os fatos vividos em Israel. Vivo em plena segurança, sem medos ou paranóias, e mesmo com os protestos pró Palestina, são muito menores aqui do que de fato o que é mostrado. Inclusive prestei um breve depoimento ao Correio Brasiliense, e há momentos que uma jornalista de Belém-PA também entra em contato comigo;
Neste inverno em Israel e o forte frio em Jerusalém, variando entre 3ºC e 10ºC, é muito fácil andar pela parte muçulmana da Cidade Antiga e ouvir hebraico fluente no meio dos transeuntes. Aliás, transito por ali sem medo, de dia ou noite;
Na entrada da Igreja do Santo Sepulcro
Vocês já notaram que os maiores simbolos do único Estado Judaico do mundo não são judaicos, como o Domo da Rocha e Al-Aqsa, ou a Igreja do Santo Sepulcro? Sem esquecer do Templo Bahai em Haifa, que é da Fé Bahai;
Pouco é divulgado que muçulmanos ou qualquer um são bem vindos a área do Muro Ocidental, o que não ocorre com judeus (e somente judeus) na área do Monte Templo, onde ficam as Mesquitas do Domo da Rocha e Al-Aqsa e ficavam os dois primeiros Templos Sagrados de Jerusalém. É muito fácil para a polícia jordaniana, responsável pela guarda do local desde a Guerra dos 6 dias, saber disto. Por ser judeu sou proibido de entrar no Monte do Templo;
Desde de antes de chegar, há lançamentos diários desde a Faixa de Gaza, de bombas e mísseis para o solo israelense. São de baixo alcance e a princípio baixo poder de destruição, e normalmente caem no deserto, e por isto mesmo o Iron Dome não é acionado para interceptar. Porém, antes do anúncio dos EUA, o sistema de trem que sai de Beer Sheva e passa próximo foi paralisado para a remoção de materiais que estragaram a linha férrea, e que foram lançadas desde Gaza. Em novembro de 2017 a região sul de Tel Aviv foi acordada com sirenes anti bombas, o que até hoje não foi confirmado como alarme falso;
O mais próximo que um míssel chegou perto de causar perdas humanas em Israel foi na cidade de Sderot, onde o Iron Dome não o interceptou e este caiu numa rua da cidade, causando danos apenas nos carros da rua. Porém o Iron Dome foi acionado outras vezes;
Passados mais de um mês após o anúncio, a tranquilidade nas ruas é a mesma de antes, incluindo em Jerusalém;

Opiniões são livres, mas devem estar baseadas em fatos e tentar ser o mais imparcial possível, o menos tendencioso, e respeitar ambos os lados. Fora isto, é uma provocação sem sentido, sem necessidade, que só contribuem para animosidades, e reafirmam a estupidez de quem o emite. O fato de eu querer que os palestinos tenham um país autônomo não implica em querer a destruição de Israel.
Escrevo isto lembrando do pouco que li do Brasil, onde um amigo citou Israel como um estado colonialista. Vivendo num mundo colonizado e também colonialista, incluindo o Brasil, um professor universitário deve ter um pouco mais de estudos do caso para dar um depoimento; mas sua área de atuação é a educação, da qual tenho plena ciência das suas capacidades, o que não é o caso de geo política do Oriente Médio. Não que eu possua tais estudos, mas possuo vivência, o que nem ao menos é o caso dele e de tantos outros, e ainda assim eu prefiro não me manifestar muito a respeito. Dentro desta prerrogativa, quando pediremos desculpas aos índios, e voltaremos para a Europa, África e Ásia, e deixaremos a terra (Brasil) a quem ela pertence? (pergunta cheia de deboche e ironia).
Encerro estas curtas observações comum video que circulou muito as redes sociais em 2017, quando Mossab Hassan Yousef, ex membro do Hamas e filho de um dos líderes, desmacarou parte das contradições da ANP no Conselho de Diretos Humanos. O vídeo é editado, mas notem que quem mostram que repudia Israel são mundialmente conhecidos pelos desrepeitos aos Direitos Humanos, como Síria, Catar, Coréia do Norte e Venezuela, para citar alguns. Não quero dizer, entretanto, que Israel não cometa erros com os palestinos, mas vivendo aqui eu vejo que não é nem 5% do que é tratado na mídia brasileira, que aliás, só trata do caso quando Israel reage com bombardeios, dando a falsa impressão de que Israel começou tudo e quer sufocar palestinos, que só tem pedras para se defenderem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

2 anos longe de muitos, mais perto de mim.

Já pararam para pensar que a vida de uma pessoa é como um livro, escrito em tempo real? Felizmente, ou não, jamais teremos acesso a totali...