quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Há uma hora de partir?

Em todo processo de imigração deve ser levado em conta que ele pode não ser para você, ou o local ou país não são, ou parecia ser, mas depois de chegar viu se que não. Tentar é sempre válido, e reconhecer que chegou a hora de seguir outro rumo não é demérito, é na verdade, um ajuste de vida, e deve ser valorizado. Ficar com o pensamento pelo resto da vida "e se eu tivesse ido" é muito sofrido, pois se trata de algo que nunca se saberá. O "Se" é algo que não aconteceu, e não se saberá como de fato seria.
Reconhecer o momento de finalizar uma imigração exige preparo, tanto quanto o processo inicial em si.Talvez até maior!
Mas com tantas coisas boas que ocorrem em Israel, como a ecônomia em alta, a inflação estável, índice de desemprego baixo e baixíssima violência urbana, porque ir embora? São diversas respostas possíveis, como dificuldade de adaptação com a cultura local, vivenciar uma realidade diferente da esperada, a diferença climática, não contar com a devida ajuda, estar solitário, salário abaixo do esperado, promessas não cumpridas, tragédias familiares, a soma das anteriores...
Depois de algumas publicações aqui, tive algumas conversas com um amigo que mora em Israel há anos, e ele me confidenciou que amigos dele voltaram para seus países de origem ou foram para outro. Um brasileiro não se adaptou a Israel, e depois não se acostumava mais ao Brasil, e daí imigrou para os EUA, onde se reencontrou com outro que amigo de Israel, e hoje vivem juntos e felizes lá.
Tenho uma amiga que viveu parte da adolescência na Holanda e depois voltou, porém percebeu que não se adaptava mais ao Brasil e hoje vive feliz lá, com sua família. Por outro lado tenho vários amigos que viveram aqui em Israel e depois voltaram ao Brasil e são mais felizes agora, embora mantenham uma ligação forte. Assim como eu soube de um casal que veio para cá, especialmente a esposa não se adaptou, e depois de voltar ao Brasil, percebeu que não se adaptava mais a vida brasileira e acabou retornando a Israel depois de alguns anos. Enfim, são diversos exemplos para tratar de uma possibilidade, que deve ser levada em consideração, sempre!
Escrevo isto pensando numa amiga que há pouco voltou para seu país de origem, e da qual acabei de me despedir no aeroporto. Não foi exatamente uma surpresa, pois eu acompanhei muitas das dificuldades que ela passou, entretanto ela tem uma outra ótima opção, voltar ao país que ela vivia antes de vir, onde manteve seus negócios e residência, além de amigos e clientes lá. Vou aqui preservar o nome e fotos dela, mas se ela estiver lendo, saiba que "eu te amo e te admiro muito, mesmo a distância. Sua coragem e determinação são fontes de inspiração para mim. A distância jamais apagará nossa amizade e depois de tudo que você me confidenciou, tenho uma conexão indelével!"
Aliás, algo que ela comentou comigo, que a para judeus dos EUA, a ONG Nefesh Benefesh faz uma série de entrevistas prévias a imigração dos judeus de lá, e numa das perguntas é: "Qual é a sua alternativa caso resolva voltar para os EUA?" Alguém pode se questionar do porquê desta pergunta, mas se ela foi feita, mostra um pouco do cultura americana, onde se preparam para o pior para colher o melhor. É deixar claro que nem tudo são flores e que sempre há um porém, que há algo que não foi pensado.
Mesmo que você seja uma pessoa que tenha viajado por diversos lugares do mundo, lembre se que na maioria absoluta, se não em todas as oportunidades, você foi como turista, e viu o que era bacana de se ver e depois voltou. Não vivenciou as discrepâncias da rotina daqueles lugares que visitou. Eu até tenho uma ex aluna que arrecadou doações e levou a Angola, portanto ela teve um pouco de contato com as dificuldades daquele país, mas quantos fazem isso?
Vista de Tel Aviv, desde Yafo
Com as tensões no Brasil por conta do acirramento político e diversas perdas de direitos, pensar em imigrar é até natural, e muito fácil ser romantizada e idealizada. Afinal, nós brasileiros crescemos num país onde adoramos odiar, criticar, falar mal, sem necessariamente fazer a nossa parte para melhorar. Era comum não permitir qualquer crítica que não fosse de brasileiros, pois vivemos uma relação de amor e ódio pelo país. Dizemos que americanos são burros e não conhecem geografia e que eles acham que nossa capital é o Rio de Janeiro (faz tempo que não é mais) e até mesmo Buenos Aires, mas não sabemos o nome do presidente do Paraguai, México ou mesmo Portugal, para citar paises com fortes trocas culturais e comerciais. Portugal, ao meu ver, é um caso muito estranho, pois é de lá que vem a maioria dos voos internacionais ao Brasil; só para São Paulo são 3 voos diários, fora praticamente todas as capitais estaduais para as quais eles voam. E nisto, é muito fácil encontrar blogues, sites, páginas do Facebook ou youtubbers dizendo de todas as maravilhas de viver fora, gerando na mente daqueles que leem, veem ou escutam a respeito, que tudo no exterior é uma delícia, e por consequência, o Brasil não presta para nada!
Lembro de um rapaz do Ceará, com sotaque bastante característico, falando da vida dele em Paris, a cidade luz e a mais romântica do mundo. Ele dizia a respeito das dificuldades de viver no forte calor do verão francês, numa terra onde não se toma tantos banhos como no Brasil e daí as pessoas estarem mal cheirosas, onde as habitações e espaços públicos não tem ar condicionado, e quando possuem, não tem a mesma eficiência, e por isto, foi alvo de críticas infundadas como "porque não volta para a pobreza do agreste de onde veio?". Existe uma percepção de que a vida no exterior é sempre boa e glamurosa, pois o Brasil é sempre uma merda aos olhos destes, e qualquer crítica ou observação é motivo de chacota ou demérito. Talvez esteja aí o problema atual do Brasil, as pessoas passaram a desmerecer mais a crença ideológica alheia do que valorizar a própria.
Volto a dizer que embora a situação no Brasil não seja boa, estamos muito longe do que a Venezuela vive, portanto, decidir sair do país deve ser feito com calma e preparo, sem ficar com a sensação de fuga, pois a tendência, neste caso, é de se debater no país em que se chegará, batendo no peito e exigindo direitos, sem fazer por onde. Eu sempre escutei falar disto, e ao chegar aqui em Israel, tenho acompanhado de perto dificuldades das pessoas em se adaptar, e com este mesmo comportamento pequeno.

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