terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Onde fica?

Pouco tempo depois que me mudei para Israel, publiquei numa rede social que não fazia sentido ver anúncios de fora da Ásia, quando um amigo me questionou sobre onde ficava Israel.
Geografia pode não ser muito valorizado mundo a fora, e no Brasil não é diferente. Quando eu trabalhei para uma Cia Aérea tive que fazer uma prova de Geografia e todos ao meu lado ficavam com medo. Eu não, pois além de gostar da disciplina, cheguei a pensar em estudar numa faculdade.
Pois bem, Israel é um país da Ásia, localizado na sub região chamada de Oriente Médio, que inclui os vizinhos Arabia Saudita, Libano, Siria, Jordânia, Iraque, Kwait, Yemen, Catar, Emirados Árabes, Irã. Há quem inclua também o Egito, embora a imensa maioria do seu território seja na África. Um dos pontos que chama atenção é o fato de Israel disputar competições esportivas juntamente com países europeus, como as Eliminatórias da Copa do Mundo de Futebol, participar do concurso musical Eurovision (embora neste haja a participação até da Austrália, que fica na Oceânia).
Foto obtida aqui.
No caso do esporte, infelizmente Israel ainda é discriminado por muitos dos seus vizinhos, que se recusam a reconhecer politicamente a sua existência, e por isso mesmo são proíbidos de jogarem por lá, ou com muita dificuldade e impondo sérias restrições, atletas israelenses participam de competições na Ásia afora.
Um caso que chamou a atenção do mundo para o problema político foi com a tenista Shahar Peer, que teve o visto negado pelos Emirados Árabes Unidos, para participar de um torneio de tenis. O caso ocorreu em 2009, e mediante a toda a repercução negativa mundial e também entre suas colegas de competição, em 2010 ela conseguiu uma permissão especial para participar.
Mapa do Wikipedia
Este ano, a equipe de judô pode participar nos Emirados Arabes Unidos de uma competição na cidade de Abu Dhabi, porém sem poderem exibir a bandeira ou ícones nacionais de Israel, até que novamente se chamou a atenção quando um judoca ganhou a medalha de ouro numa categoria e não teve o hino tocado, embora ele tenha cantado à capela, enquanto executava o hino da federação de judô.
Até mesmo nos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, um caso chamou muita atenção, quando um egípcio saiu do tatame se recusando a apertar as mão do adversário israelense, mesmo sendo o Egito a primeira nação muçulmana a reconhecer Israel como um país soberano, tendo rendido um Prêmio Nobel de Paz de 1978 ao então presidente Sadat e ao Primeiro Ministo Menachem Begin.
Fora a questão política, a cultura local é um misto entre europeia e oriental, e talvez por isto também cause confusão na cabeça de muita gente. Afinal, uma boa parte da população local veio da Europa no pós guerra, e junto se com os demais que já moravam aqui, como aqueles que vieram de outras partes do mundo, especialmente o norte da África.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Esperar surpresas, evitar sustos!

Ao imigrar, qualquer um tem que estar pronto para enfrentar desafios diários. Isto demanda preparo!
No caso de Israel, eu fui pego na surpresa logo no aeroporto Ben Gurion. Eu sei que as línguas oficiais são o Hebraico e Árabe, e sei que dentro do governo tem muitos funcionários que sabem muito bem o inglês, portanto, eu estava tranquilo com o fato de saber pouco hebraico na chegada. Conforme a Agência Judaica me disse, ao sair do avião e virar no primeiro corredor, teriam funcionários do Ministério do Interior para me receber, e lá estavam. A surpresa foi que cheguei junto com uma "comitiva" de russos e ucranianos, e depois de ser direcionado para o registro da minha entrada, fui guiado por uma funcionária que só falava em russo! E não é que ela resolveu falar em russo por ter absoluta maioria naquele momento, mas ela realmente pouco falava hebraico, e ao final, quando eu me dirigia ao taxi, ela pediu desculpas num hebraico gaguejante por não falar em inglês. Minha sorte foi ter uma ucraniana que traduziu o que foi dito, pois senão eu apenas ficaria junto a eles feito carrapato até ser direcionado para minha residência.
Este foi apenas o primeiro dos sustos dos quais passei, mas cada vez mais estou mais habituado e sei lidar e contorna los. Afinal, se trata de uma país jovem e com uma grande legião de extrangeiros que estão ainda se debatendo na língua e na cultura, gerando, eventualmente, conflitos nos relacionamentos sociais. Portanto, imigrar demanda paciência e muito preparo prévio, e por isto mesmo eu aconselho a evitar informações muito elogiosas pois elas tendem a criar um referência por vezes falsa ou sobrevalorizada, levando a decepções.
Um dos sustos que eu acompanhei foi há poucos dias, ocorrido com um brasileiro, o qual omitirei o nome para preservar sua imagem. Ele imigrou para cá e veio com ajuda financeira extra, oferecida pela Keren Leyedidut, uma ong canadense de cristãos que apoiam Israel. Não sei dos valores oferecidos, mas uma das condições e que eles não permitem ao imigrante morar num Centro de Absorção, uma residência temporária destinada a imigrantes legais, com valores subsidiados. Ainda mais ao chegar num país novo, alugar um apartamento a distância pode ser bastante dificil ou escolherá opções ruins. Este brasileiro, portanto, buscou por um apartamento e encontrou na cidade de Ramat Gan, próximo a Tel Aviv, e dividiria com uma outra pessoa, que inclusive, disse que ele teria uma oportunidade de começar a trabalhar pouco depois da sua chegada, porém a pessoa é de má indole e o colocou para morar em numa residência sem condições mínimas de higiene, sem lhe oferecer o tal emprego, e poucos dias depois ainda o expulsou de casa. No desespero e sem saber nada de hebraico (não sei a respeito de inglês ou outras línguas), tomou um taxi e foi para Jerusalém, e depois voltou de taxi para Tel Aviv, até que ele se deu conta que não tinha mais dinheiro, pois a primeira parte da ajuda de custo que o governo de Israel oferece no aeroporto ele gastou em viagens de taxi e alimentação.
Resumindo, além da má escolha em acreditar num desconhecido, ainda tomou péssimas escolhas em pegar um taxi para viajar entre cidades, para tentar ter ajuda. Uma corrida de taxi do aeroporto Ben Gurion, que fica na cidade de Lod, até o centro de Tel Aviv sai no mínimo por 120 shekels!
Depois de ter passado algumas noites com outro imigrante brasileiro em Beer Sheva, consiguiram abrir a conta bancária para ele receber a outra metade da ajuda de custo, conseguiram instala lo num apartamento compartilhado com alguém de confiança, também brasileiro, e em breve ele começará a estudar hebraico e a trabalhar.
A minha intenção inicial era falar apenas de alguns percausos que até certo ponto são naturais ao sair do local de onde você mora. Tampouco tenho intenção de julga lo. A mudança para outra cidade ou estado já podem causar isto, mas você estará num ambiente da sua lingua nativa, portanto, tirando algumas gírias, tudo será compreensível. Ao mudar de país é necessário um certo grau de tolerância para o que vai acontecer, e procurar o máximo de informações prévias ajudam a evita las ao máximo e como contorna las  de melhor maneira.
O caso deste brasileiro só mostra como há pessoas inconsequentes e que parecem não compreender que até alguém poder ajuda lo, poderá ser tarde. Eu não quero dizer que todo brasileiro seja inconsequente, apenas estou dizendo de um caso que eu conheço e coincidiu de ser com um brasileiro, que não chegou a passar uma noite de inverno na rua por pouco. Até porque, antes de vir para cá, nos últimos 5 anos em São Paulo, conheci ao menos uns 7 extrangeiros morando na rua por terem se endividado, perdido dinheiro, entre tantas histórias... Eram americanos, sul africanos, australianos, ingleses e argentinos que não sabiam o que fazer para contornar aquela situação, ou seja, quase todos vindos de um país com uma condição socio econômica melhor que a brasileira, e ainda assim, de alguma forma se perderam.
Portanto, meus caros leitores, passar por surpresas é normal e até esperando. Diria até que serve como uma espécie de rito de passagem, mas há que vir preparado, e uma das premissas é não acreditar cegamente em desconhecidos, por maior que seja o índice de honestidade do país em que se chega!

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Nhaí Israel!

O respeito as diferenças, como a homossexualidade, demonstram o avanço social de um país. Em Israel há pelo menos uns 25 anos o tema é bastante debatido, desde que uma cantora trans chamou a atenção do público com sua beleza e voz; o nome dela é Dana Internacional, que juntamente com o Dj Ofer Nissim, colocou seu nome nas paradas de sucesso em Israel e aos poucos no mundo também. O primeiro sucesso foi Saida Sultana, um vídeo que tem um lado meio trash de tão mau gravado, além dela parecer uma personagem de algum seriado como Barrados no Baile (Bervely Hills 90210) ou Melrose Place.
Dana - foto obtida com o jornal Haaretz
Dana nasceu homem com o nome de Sharon Cohen, e passou por readequação sexual no começo dos anos 90. É a versão israelense da Roberta Close, com a diferença de ser ligada aos movimentos LGBT. Naquela época isto chamava muito mais atenção do que hoje ainda chama, e sua exposição também causou admiração e repulsa.
A situação dos LGBT em Israel hoje é muito mais tranquila do que em diversos países do mundo, servindo de exemplo para tantos, ainda mais por ser um país religioso, ainda assim com tolerância e respeito. Creio que o casamento homoafetivo só não tenha entrado em pauta pois aqui não há casamento civil, apenas religioso, e os rabinos ligados a Rabanut Central, um conglomerado rabínico que tenta ser uma espécie de "papado" judaico, não tem qualquer aceitação a este respeito, ao contrário dos rabinos de correntes reformistas, conversadoras e até mesmo ortodoxas modernas, que representam entre 60 e 70% dos judeus do mundo. Mas infelizmente apenas a Rabanut Central é ouvida pelo Knesset (Parlamento).
Especialmente desde o começo dos anos 2000, a melhora da aceitação e respeito as pessoas LGBT evoluiu de forma constante e impressionante. Deste período em diante, diversos filmes também ajudaram na aceitação das pessoas, o exército de Israel passou a aceitar pessoas assumidas, virando, inclusive, motivo de orgulho em mostrar seu lado humano e respeitoso com todos os seus membros, enquanto os EUA, por exemplo, tinham a política do "Não pergunte, não fale".
Uriel Yekutiel, uma das caras da Arissa.
Tel Aviv-Yafo é a cidade símbolo da cultura LGBT em Israel e no mundo, sendo exemplo de respeito e carinho que a população demonstra com todos, colhendo também os frutos deste bom comportamento através do turismo durante a semana prévia a Parada do Orgulho LGBT, a maior da Ásia, que fica literalmente lotada de pessoas, e os hotéis com sua capacidade máxima preenchida, tanto que eu mesmo não consegui ir na edição de 2017. Para a edição de 2018 já está no ar um site com pacotes turísticos. Não há muitas casas noturnas exclusivas, pois quando são voltadas a este público são totalmente abertas para todos, sendo portanto, menos segmentadas e mais inclusivas que diversos lugares no mundo. É de Tel Aviv que um pequeno grupo passou a chamar a atenção também no Brasil com seus vídeos de músicas típicas, promovendo suas festas, todo em hebraico, que recuperaram parte da cultura musical local. Com seus personagens um tanto quanto caricatos, a Arissa já se apresentou em algumas edições da Virada Cultural em São Paulo.
Entretanto, ainda há muito a se melhorar. O primeiro ponto é que a aceitação é maior na região de Tel Aviv, enquanto em Jerusalém não ocorre o mesmo, tendo havido até mesmo um esfaqueamento na Parada de lá, no ano de 2015, por um judeu ultra-ortodoxo.
Em Beer Sheva, cidade mais importante do Sul de Israel, teve autorização de promover sua 1ª Parada do orgulho LGBT apenas em 2017, tendo esta autorização negada antes.
E amará ao seu próximo como a si próprio!
Vendo também por outro lado, dos aplicativos para este público, pude notar que ainda há muitos pudores fora da região de Tel Aviv, onde as pessoas quase nunca mostram o rosto, não colocaram os seus nomes, e quando há foto disponível, é de alguma parte do corpo, como pernas e peitoral. Na verdade, embora a aceitação e respeito público seja alto, há uma questão religiosa e cultural que reprime parte desta população, mantendo uma vida de fachada e tendo seus relacionamentos as escondidas, ou seja, mantendo se no armário! No Brasil isto também ocorre na comunidade judaica, havendo diversos grupos fechados ou secretos de judeus gays em redes sociais, pois muitos se dizem abertos ao tema, mas especialmente pais e familiares não o são de fato. Embora as comunidades judaicas liberais do Brasil, as mais representativas, sejam plenamente abertas a causa, tendo realizado cerimônias de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Segue uma declaração do rabino Michel Schlesinger a respeito da visão judaica sobre este tipo de relacionamento, frente a visão evangélica (ou parte dela):
Este comportamento as escondidas é algo próximo ao vivido fora dos grandes centros no Brasil, porém aqui é muito difícil casos de violência nas ruas como o de uma mãe e sua filha, ou um pai e seu filho, tendo estes sido confundidos com um casal homoafetivo e agredidos no Brasil. Jamais vi ou escutei falar de um caso como do meu colega que foi atacado na região da Avenida Paulista, a mais inclusiva da cidade, ou tantos outros pela cidade. E justamente São Paulo, que tanto gosta de dizer que tem a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo... Isto para não dizer da quantidade de transexuais que são assassinados no Brasil. Israel, embora ainda tenha muito o que melhorar no quesito respeito a homoafetividade, está muitos anos a frente do Brasil, sendo um local tranquilo para se viver e conviver!
Pra encerrar, deixo o video de quando a Dana ganhou o concurso da Eurovision em 1998, que ocorreu em Birmingham, com a música Diva, o auge da sua carreira e a última vitória de Israel no musical. Notem que ela é inspiração no visual de Conchita Wurst, vencedor do concurso de 2014, tirando o fato de Conchita ser um homem gay e barbudo que se veste de mulher, como Uriel Yekutiel já fazia há anos e virou a cara da Arissa.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Quem não deve, não teme, certo? Errado!

Em Israel, ter uma dívida é coisa séria.
Antes de vir para cá, eu já sabia que em Israel, a partir do momento que uma divida é reclamada, a pessoa, seja cidadão ou não, fica retira no país até a liquidação da dívida.
Inicialmente mostra uma garantia e segurança ao comércio como um todo, porém, há algum tempo, há centenas de cidadãos, incluindo aqueles que não moram mais no país, tem se surpreendido com débitos relacionados a compras ou serviços não contratados, especialmente telefonia.
Um dos problemas é que em Israel não há leis como o Código de Defesa do Consumidor do Brasil, que garante a qualquer cidadão, o direito a notificação prévia antes de ter seu nome incluso numa lista de devedores. Aqui não existe isto.
Segundo a reportagem do Times of Israel, uma dinamarquesa que imigrou para Israel, mas voltou para a Dinamarca em 1993, ficou sabendo apenas ao tentar renovar seu passaporte em Copenhage que ela não poderia faze lo, pois havia o protesto de uma divida não paga de 1999 junto a uma cia telefônica, sendo que de 1993 em diante, ela não retornou a Israel. E caso ela pisasse em solo israelense, ficaria retida até a quitação da dívida. O problema é tão grande, que segundo a reportagem, cerca de 709 mil pessoas estão na mesma situação, e acabam sabendo do débito apenas no momento de saído do país.
De alguma forma, segundo a reportagem, as Cias Telefônicas daqui tiveram acesso ao número da Teudat Zehut (Identidade local) e lançam dívidas inexistentes numa tentativa de lucrar de uma forma completamente desonesta.
Isto não quer dizer que todos os cidadãos sejam inocentes, pois há evidentemente aqueles que se perdem nas finanças, ou que agem de má fé. Conheci o caso de dois imigrantes que retornaram ao país de origem e que sairam sem pagar o último mês de aluguel, antes de serem cobrados; caso retornem ao país, mesmo que a passeio, mesmo que por um dia, ficarão retidos até pagarem a dívida.
De todo modo, espero que os casos errados sejam descobertos e os responsáveis penalizados, e que se crie um sistema de informação para que o cidadão seja informado previamente do ocorrido e que possa tomar as devidas providências. No momento, sozinhos, os cidadãos estão em situação dificil, pois em alguns casos, um advogado é necessário, mesmo num caso de valor pequeno, mas os honorários são muito mais caros. Outra forma de ajuda tem sido a atuação das mídias, pois o caso da dinamarquesa foi retirado da pauta e tida como quitada! Mas quantas vezes e até quando os jornais darão espaço para estes abusos?

2 anos longe de muitos, mais perto de mim.

Já pararam para pensar que a vida de uma pessoa é como um livro, escrito em tempo real? Felizmente, ou não, jamais teremos acesso a totali...