segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Nhaí Israel!

O respeito as diferenças, como a homossexualidade, demonstram o avanço social de um país. Em Israel há pelo menos uns 25 anos o tema é bastante debatido, desde que uma cantora trans chamou a atenção do público com sua beleza e voz; o nome dela é Dana Internacional, que juntamente com o Dj Ofer Nissim, colocou seu nome nas paradas de sucesso em Israel e aos poucos no mundo também. O primeiro sucesso foi Saida Sultana, um vídeo que tem um lado meio trash de tão mau gravado, além dela parecer uma personagem de algum seriado como Barrados no Baile (Bervely Hills 90210) ou Melrose Place.
Dana - foto obtida com o jornal Haaretz
Dana nasceu homem com o nome de Sharon Cohen, e passou por readequação sexual no começo dos anos 90. É a versão israelense da Roberta Close, com a diferença de ser ligada aos movimentos LGBT. Naquela época isto chamava muito mais atenção do que hoje ainda chama, e sua exposição também causou admiração e repulsa.
A situação dos LGBT em Israel hoje é muito mais tranquila do que em diversos países do mundo, servindo de exemplo para tantos, ainda mais por ser um país religioso, ainda assim com tolerância e respeito. Creio que o casamento homoafetivo só não tenha entrado em pauta pois aqui não há casamento civil, apenas religioso, e os rabinos ligados a Rabanut Central, um conglomerado rabínico que tenta ser uma espécie de "papado" judaico, não tem qualquer aceitação a este respeito, ao contrário dos rabinos de correntes reformistas, conversadoras e até mesmo ortodoxas modernas, que representam entre 60 e 70% dos judeus do mundo. Mas infelizmente apenas a Rabanut Central é ouvida pelo Knesset (Parlamento).
Especialmente desde o começo dos anos 2000, a melhora da aceitação e respeito as pessoas LGBT evoluiu de forma constante e impressionante. Deste período em diante, diversos filmes também ajudaram na aceitação das pessoas, o exército de Israel passou a aceitar pessoas assumidas, virando, inclusive, motivo de orgulho em mostrar seu lado humano e respeitoso com todos os seus membros, enquanto os EUA, por exemplo, tinham a política do "Não pergunte, não fale".
Uriel Yekutiel, uma das caras da Arissa.
Tel Aviv-Yafo é a cidade símbolo da cultura LGBT em Israel e no mundo, sendo exemplo de respeito e carinho que a população demonstra com todos, colhendo também os frutos deste bom comportamento através do turismo durante a semana prévia a Parada do Orgulho LGBT, a maior da Ásia, que fica literalmente lotada de pessoas, e os hotéis com sua capacidade máxima preenchida, tanto que eu mesmo não consegui ir na edição de 2017. Para a edição de 2018 já está no ar um site com pacotes turísticos. Não há muitas casas noturnas exclusivas, pois quando são voltadas a este público são totalmente abertas para todos, sendo portanto, menos segmentadas e mais inclusivas que diversos lugares no mundo. É de Tel Aviv que um pequeno grupo passou a chamar a atenção também no Brasil com seus vídeos de músicas típicas, promovendo suas festas, todo em hebraico, que recuperaram parte da cultura musical local. Com seus personagens um tanto quanto caricatos, a Arissa já se apresentou em algumas edições da Virada Cultural em São Paulo.
Entretanto, ainda há muito a se melhorar. O primeiro ponto é que a aceitação é maior na região de Tel Aviv, enquanto em Jerusalém não ocorre o mesmo, tendo havido até mesmo um esfaqueamento na Parada de lá, no ano de 2015, por um judeu ultra-ortodoxo.
Em Beer Sheva, cidade mais importante do Sul de Israel, teve autorização de promover sua 1ª Parada do orgulho LGBT apenas em 2017, tendo esta autorização negada antes.
E amará ao seu próximo como a si próprio!
Vendo também por outro lado, dos aplicativos para este público, pude notar que ainda há muitos pudores fora da região de Tel Aviv, onde as pessoas quase nunca mostram o rosto, não colocaram os seus nomes, e quando há foto disponível, é de alguma parte do corpo, como pernas e peitoral. Na verdade, embora a aceitação e respeito público seja alto, há uma questão religiosa e cultural que reprime parte desta população, mantendo uma vida de fachada e tendo seus relacionamentos as escondidas, ou seja, mantendo se no armário! No Brasil isto também ocorre na comunidade judaica, havendo diversos grupos fechados ou secretos de judeus gays em redes sociais, pois muitos se dizem abertos ao tema, mas especialmente pais e familiares não o são de fato. Embora as comunidades judaicas liberais do Brasil, as mais representativas, sejam plenamente abertas a causa, tendo realizado cerimônias de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Segue uma declaração do rabino Michel Schlesinger a respeito da visão judaica sobre este tipo de relacionamento, frente a visão evangélica (ou parte dela):
Este comportamento as escondidas é algo próximo ao vivido fora dos grandes centros no Brasil, porém aqui é muito difícil casos de violência nas ruas como o de uma mãe e sua filha, ou um pai e seu filho, tendo estes sido confundidos com um casal homoafetivo e agredidos no Brasil. Jamais vi ou escutei falar de um caso como do meu colega que foi atacado na região da Avenida Paulista, a mais inclusiva da cidade, ou tantos outros pela cidade. E justamente São Paulo, que tanto gosta de dizer que tem a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo... Isto para não dizer da quantidade de transexuais que são assassinados no Brasil. Israel, embora ainda tenha muito o que melhorar no quesito respeito a homoafetividade, está muitos anos a frente do Brasil, sendo um local tranquilo para se viver e conviver!
Pra encerrar, deixo o video de quando a Dana ganhou o concurso da Eurovision em 1998, que ocorreu em Birmingham, com a música Diva, o auge da sua carreira e a última vitória de Israel no musical. Notem que ela é inspiração no visual de Conchita Wurst, vencedor do concurso de 2014, tirando o fato de Conchita ser um homem gay e barbudo que se veste de mulher, como Uriel Yekutiel já fazia há anos e virou a cara da Arissa.

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