terça-feira, 10 de outubro de 2017

Riqueza Judaica

A verdadeira riqueza de um povo, um grupo ou o quem quer que seja, é sua capacidade de se adaptar as condições as quais está inserida, e não propriamente a quantidade de dinheiro que possui. Afinal, o conceito de capitalismo é relativamente recente no mundo, e nunca se sabe quando e se chegará a um fim. Não há um concenso na data de origem do termo Capitalismo, mas há indícios do uso do termo no século XVII (aprox 1630), o que combina com a queda do Feudalismo na Europa (baseado em trocas de mercadorias por trabalho), quando as nações Européias estavam se desenhando, tendo na época, apenas Portugal e Espanha como nações com as fronteiras hoje conhecidas.
Digo isto pois é muito comum escutarmos e ou lermos associarem o judaismo com riqueza material, ou seja, acúmulo de capital, e daí dizerem que judeus são ricos e controlam o sistema econômico mundial. Os EUA tem exemplos de bancos ou instituições financeiras de origem judaica, como o Banco Goldman Sacks ou falido Lehman Brother's.
De fato, ao contrário do Catolicismo Romano, que enxerga no lucro um pecado, o Judaísmo enxerga como fruto de um trabalho bem feito; se trabalhei bem e solucionei um problema, mereço ser recompensado. De forma simplista, é isto!
Porém a cultura judaica também é muito preocupada com o bem estar social em sua volta. Existe um conceito chamado Tzedaká (צדקה) que é muito presente onde quer que haja uma comunidade judaica ativa, e sempre muito incentivada por todos os rabinos, independente da linha de pensamento. Foi traduzida simplesmente como caridade e os tais 10% de seus ganhos para os necessitados, porém a Tzedaká tem uma origem mais forte. O termo é uma derivação do verbo Litzdok (לצדוק) que significa acertar, ou fazer o correto. Deste verbo também derivam os termos Tzadik (um justo, pessoa de nível elevadíssimo), Tzedek (Justiça) como também a Tzedaká, que significa Justiça Social.
Existem graus de elevação na forma de se fazer justiça social, baseado nas idéias do Rabino Moshé Ben Maimon, simplesmente Maiomônides ou também Rambam (הרמב"ם). Oferecer ajuda a quem lhe pede é a forma menos apreciada, pois da mesma forma que se deixou a pessoa numa condição onde ela está se humilhando por ajuda, quem ajuda pode estar querendo colher os louros disso, e esta é uma atitude da qual ninguém deve tentar tirar vantagem. É o tal fazer o bem sem olhar a quem. Um dos níveis mais elevados é a criação de institutos preparados para oferecer mais do que dinheiro ou comida, e sim condições para que no momento adequado a pessoa que está em dificuldade possa "caminhar com as próprias pernas". Isto tudo sem que niguém coloque sob sua cabeça os louros da justiça social.
Daí que se vê a origem de tantos projetos de ajuda social principalmente, mas também em outras áreas. Existem vários programas de ajuda de custo para judeus viajarem para Israel, como o Massa (significa jornada), para intercâmbio cultural, para reflorestamento, para ajuda humanitárias... Um dos mais famosos organismos é o KKL, hoje responsável por grande parte do florestamento de Israel, e apoiador de campanhas deste gênero no mundo.
Eu quis escrever a respeito quando li uma reportagem sobre o Ten Yad (traduzindo: "Dê a mão", no imperativo mesmo), uma instituição beneficente lotada em São Paulo, que ajuda pessoas em situação vulnerável a ter uma alimentação digna. E quando falo pessoas, incluo também judeus, afinal, a riqueza judaica, como tentei expressar aqui, está no espírito de ajudar a coletividade, e não em possuir dinheiro. Existe uma falsa ideia de que judeus não passem por necessidade. Mas com mais de 4 mil anos de história, e formando um grupo religioso de aproximadamente 17 milhões de pessoas pelo mundo, há que se reconhecer a vitória de quem resistiu a diversos impérios, como o Egípcio, Babilônico, Persa, Grego, Romano, Bizantino, Turco Otomano entre outros, e sempre sendo um grupo pequeno, porém muito unido.
Outro projeto muito bacana, reconhecido internacionalmente, é mantido pela minha sinagoga em São Paulo, a CIP, a maior e mais influente país. Inicialmente um local destinado aos filhos dos imigrantes recém chegados do horros da 2º Guerra Mundial, conforme a comunidade foi progredindo, o Lar das Crianças passou a destinar sua atenção as famílias carentes, oferencia acesso a estudo, alimentação e cultura geral (especialmente música e artes plásticas).
Portanto, muito do que Israel é hoje também se deve ao conceito de Tzedaká. Judeus de toda a diáspora mandam milhões em ajuda humanitária e apoio a projetos sociais, e daí que foi possível a este país receber, e continuar recendo, milhares de imigrantes todos os anos, ou até mesmo elaborar planos de fuga, como na Operação Moisés, para resgatar judeus etíopes em situação fome, ou oferecer o devido suporte aos mais de 800 mil judeus russos que sairam da União Soviética no momento da dissolução daquele país, no começo dos anos 90.

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