quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Afinal Murilo, você gosta ou não de Israel?

Certa vez recebi esta pergunta após eu manifestar uma indignação, e me levou a pensar sobre meus sentimentos sobre Israel. Ao escrever o último post, a respeito de motivos que levaram outros imigrantes a voltarem aos seus países de origem e da dificuldade de adaptação, alguns me indagaram se eu gosto daqui.
Numa curta resposta: SIM!
Porém eu gosto de me aprofundar no tema, e explico melhor um pouco da minha fala/escrita ácida.
Eu sou uma pessoa muito crítica comigo mesmo. Exijo demais de mim mesmo, mas felizmente a terapia me ajudou e eu aprendi a relaxar um pouco nos últimos tempos, porém continuo exigindo bastante dos outros. Quem me conhece já me ouviu dizer, por exemplo, que sei onde tem um bolo melhor que aquele que comi, ou que sei fazer melhor, ou que sei quem faça... É que eu parto do pressuposto que se é pra fazer algo, que seja direito, que seja o melhor possível.
Antes de vir para Israel, sempre escutei maravilhas desse lugar, seja por parte de meus irmãos judeus, como por parte de evangélicos em geral. E como eu já me decepcionei muito em muitas das minhas viagens justamente por ter tido uma expectatíva alta, e ter me maravilhado quando não possuia expectativa alguma, vim com um olhar investigativo e ligeiramente desconfiado.
Em parte, o que escrevo também, é pensando nas informações que não encontrei antes de imigrar pra cá! Era mais fácil eu encontrar em inglês do que em português, e ainda assim, com um tom um pouco eufórico.
Uma das escadarias que levam ao Muro Ocidental. 
Não sei exatamente porquê a Agência Judaica, que é a entidade que representa o Estado de Israel a respeito de imigração no exterior, não prepara minimamente bem os candidatos para os desafios que encontrarão. Não quero dizer que disseram que eu não encontraria dificuldades, mas trataram de forma extremamente superficial, quase como quem diz: "No começo é dificil, mas você superará", e só. Ou seja, sem me preparar para algumas das diferenças de comportamento e de atuação aqui existentes. Sem indicar o que eu deveria fazer de antemão a minha vinda, além das obrigações legais. Talvez exista uma meta de imigrantes a alcançar e só se esteja preocupado com a quantidade, e não a qualidade.
Por exemplo, algo que ainda pouco comentei, são os problemas que muitos outros imigrantes tem enfrentado por aqui: alcoolismo, dependência química, depressão, síndrome do pânico, e noutros casos, o imigrante já vem para cá com problemas sérios de saúde, como diabetes, hipertensão, somadas a outros fatos ou aos já citados. Não são coisas que alguém me disse, eu vejo a todo instante com pessoas próximas, brasileiros ou latinos, especialmente. Enquanto eu escrevia este texto, um colega me ligou chorando de desespero, pelos problemas de saúde que enfrenta, pela solidão que sente, pela dificuldade em aprender o hebraico... Embora seja alguém que fique compartilhando vídeos do quanto a vida em Israel é boa, do quanto está gostando... Sei...
Ao chegar aqui, quase todos os meus amigos brasileiros que chegaram anos antes, me relataram suas dificuldades de adaptação, e não foram poucas ou pequenas. É quase um rito de passagem, porém é sempre uma surpresa. No meu caso, foi enfrentar sozinho a Hepatite B menos de uma semana após eu chegar.
Para aqueles que tem intenção em imigrar, seja para cá, Israel, seja para qualquer parte do mundo, minha primeira pergunta é: O quanto você conhece deste país? Coloquei alguns questionamentos aqui. O seu conhecimento é de turista ou você pôde fazer alguma viagem como num intercambio, para entender um pouco da mentalidade da população local? Preparar se para o pior, e esperar pelo melhor é uma forma muito eficiente de se obter sucesso no que fizer!
Aconselho sempre fazer um intercâmbio antes, de pelo menos uns 3 meses, para se dar a chance de ver e sentir aquilo que é pouco falado a respeito da cultura local.
Eu também não sou mais o tipo de pessoa que acredita de cara no que me dizem. Eu primeiro analiso, eventualmente debato, e daí formo minha opinião e a defendo!
Portanto, a minha visão crítica nada mais é do que buscar responder a mim mesmo (primeiramente) o quão verdadeiras são muita das maravilhas (e também das porcarias) que me foram ditas a respeito desta terra.
Quero, no fundo, mostrar que por trás dos meus sorrisos nos retratos e selfies onde apareço, diante de tamanha beleza, há muito mais choros pelo que deixei para trás e no que estou enfrentando. Que o processo de imigração não é fácil e não é para todos. O processo de imigração causa um amadurecimento a força, e exige também uma capacidade de desapegar se que por vezes não se sabe se possui.
E muito mais que isto, que há sempre um porém! E quero levar até você algo fora do "mainstream", onde ora há elogios rasgados, quase que numa crença cega, ora há críticas severas, beirando (se não fingindo não ser) antissemitismo.
Encerro aqui minha explicação com uma das músicas que mais gosto, se chama "Má ihie basufeinu" (O que será de nós ao final), da Nurit Galron.

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