segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Eleição no Brasil - desde Israel

O Brasil vive uma forte tensão por causa da Eleição Presidencial, junto com dos governadores, senadores, deputados federal e estadual.
A indignação no Brasil é tanta que as pessoas se contaminaram com a ideia de que se vive a pior crise econômica no Brasil ou de que nunca houve tanta corrupção no país. Parece que se esqueceram do que houve no Brasil após a redemocratização, em 1985, quando décadas de ditadora cobraram o preço da falta de transparência com os gastos públicos, o governo federal se viu obrigado a não pagar a dívida externa, gerando falta de recursos, preços sendo reajustados duas ou três vezes ao dia. Lembro que em casa a "solução" foi comprar um freezer para estocar comida, substituição de alimentos comuns por outros menos procurados para pagar menos, eu não comprar carne para todos os dias... A falência da maior Cia Aérea do Brasil, a Varig, em 2006, tem conexão com isto, pois ela não podia reajustar as tarifas, mas os custos de manutenção sim.
Um dos lemas do grupo de Judeus do qual faço parte!
Não sou defensor de partidos ou políticos, mas notei que desde a série de protestos de junho de 2013, na eleição de 2014, um clima estranho de muita polarização só tem crescido. E como eu descrevi aqui, eu me senti empurrado para um viés de esquerda.
Desde a eleição passada resolvi pouco me manifestar sobre posições políticas, pois em geral são superficiais, e qualquer contra argumentação é feita de maneira agressiva e desrespeitosa.
Mas resolvi tratar de alguns pontos que me chamam atenção, num ponto de vista de um morador de Israel:

  • Os eleitores que votaram aqui não são todos judeus, embora a grande maioria. A transferência do local de votação também pode ser solicitada por turistas, corpo diplomático, estudantes. E dos moradores brasileiros aqui, há também cristãos. E dos turistas, qualquer vertente religiosa, incluindo muçulmana e ateus podem ter votado aqui. Israel é um país aberto para as diferenças.

"Alemanha acima de tudo" e "Proibido judeus", algumas das frases acima. Obtido neste site.
  • Chama atenção as contradições dos brasileiros que vieram morar aqui e seu aberto suporte a um dos candidatos com um discurso extremamente parecido com o de Adolf Hitler (que dizia Alemanha acima de tudo). Tal candidato, inclusive, é alvo de duras críticas de diversas fontes, como os jornalísticos El País, Economist, incluindo a extrema direita francesa, com Marine Le Penn fazendo observações negativas. Até um ex lider do Ku Klux Kan disse ver semelhanças deles com Bolsonaro. Mas todos são chamados de comunistas por seus leais defensores.
  • Israel é um país formado por minorias, para minorias, com respeito e ampla aceitação aos imigrantes. No início das primeiras aliot (termo usado para definir a vinda de judeus), antes do movimento sionista de Herzl, já haviam judeus aqui e eram a minoria. Só por isto, o tal candidato já é contra os ideias que moldam este país, o qual faz aberta defesa, e o voto de brasileiros nele é extremamente contraditório. Após a queda do 2º Templo de Jerusalém e a diáspora judaica, judeus se tornaram minorias por onde se estabeleceram, incluindo Polônia, onde formaram uma parcela considerável da população.
  • Os judeus que resolvem imigrar a Israel recebem uma série de ajudas governamentais e por vezes não governamentais, que foram crescendo e se diversificando ao longo dos anos. Pelos 6 primeiros meses, paga se uma quantia para ajuda das despesas iniciais (em torno de 60% do salário minimo daqui) com adicional por filho, é oferecido um curso de hebraico gratuito, seguro desemprego a partir do 7º mês aqui sem ter encontrado emprego, a maioria pode morar em centros de absorção com valores subsidiados, auxílio aluguel, descontos para compra de carro novo, desconto para compra do primeiro imóvel, mestrado gratuito até os 27 anos de idade, desconto médio de 70% para cursos registrados... Enfim, são vários benefícios para a aclimatação, sem qualquer pre requisito exceto ser judeu, filho ou neto de judeu. É, portanto, o que no Brasil se chama de bolsa.
  • O voto num candidato estritamente xenófobo e contra imigrantes é contraditório vindo de imigrantes brasileiros, muitos deles filhos de imigrantes europeus. Ou seja, ele, imigrante, filho ou neto de imigrantes, pode imigrar em busca de um lugar que deseja para morar, outros que assim o fazem não podem? 
Fico extremamente incomodado com aqueles que aproveitam destes benefícios, típicos de um país com forte influência comunista (embora nunca tenha sido de fato), reclamarem que programas brasileiros como Bolsa Família são esmola, não ensinam o povo a viver por contra própria, entre outras observações. O que é oferecido aqui é chamado de direito, e o que é oferecido no Brasil é chamado de assistencialismo barato, mesmo que o valor não chegue a US$ 100 ao mês. Esquecem, ou fazem que não sabem que políticos como David Ben Gurion, Golda Meir e Ytzhak Rabin eram comunistas!
Quando citei do país ser formado por minorias, para minorias, em todos os lugares se nota isso. Se eu quiser atravessar a rua, os carros param, ao contrário do Brasil onde aceleram e de repente alguma alma benevolente me deixa atravessar. Os homossexuais vivem em plena tranquilidade, tendo famílias com filhos facilmente vistas. A sociedade pode ser vista como paternalista, mas jamais como machista como a sociedade brasileira é - até nos banheiros do Muro das Lamentações há trocadores de fraldas nos sanitários masculinos. A polícia nem sempre anda armada, pois não precisa, e o índice de criminalidade é baixo - ninguém acredita que possuir uma arma possa ser melhor do que uma polícia bem preparada que atua na prevenção. Aqui facilmente se consegue ajuda para quase tudo, de encontrar um emprego, a carregar as compras na rua. Aqui não sou chamado de vagabundo por ter uma bicicleta - rabinos andam de bicicleta. Até mesmo imigrantes ilegais tiveram um grande suporte da população  quando Bibi Netaniahu decidiu expulsa los para a África, a ponto dele ter recuado da decisão - isso pois, é sabido que voltariam a um estado de semi miséria e talvez até fossem condenados a morte por terem vindo para cá.
A cara da direita brasileira 
Um dos absurdos que escutei foi na praia. Estava caminhando pela manhã e um brasileiro parado, com sua bicicleta elétrica falando dos "absurdos de Fernando Haddad", que quis forçar sua mãe a pedalar pela cidade. Primeiramente, embora caibam reclamações da qualidade das ciclovias que ele construiu em São Paulo, ou mesmo da gestão dele como prefeito, ninguém forçou ninguém a nada. Enfim, pedalar uma bicicleta em Tel Aviv, onde existe até congestionamento delas e falta de lugar para estaciona las, tudo bem. Mas em São Paulo, uma cidade maior que Israel inteira, com problemas históricos de transporte, não pode! Ao menos não encontrei gente tresloucada como aquela mulher que entrou no Congresso Nacional e pensou que a homenagem à imigração japonesa fosse um sinal de que estavam transformando o Brasil num país comunista.O mais contraditório para mim é o sentimento de revanche instaurado. Embora o PT realmente não seja o melhor exemplo de boas relações diplomáticas com Israel, especialmente com a ex presidente Dilma Rousseff (chamada de Anã Diplomática), o Brasil sempre teve relações contraditórias a Israel. Desde a contundente defesa de Oswaldo Aranha no reconhecimento da Partilha da Palestina na ONU, com ex presidentes como Getúlio Vargas declarando que sionismo é terrorismo. Mas há que se dizer que o ex presidente Lula esteve sim em Israel, ao contrário do que se noticia, e fez homenagens ao mortos no Holocausto, com fotos oficiais do Museu do Holocausto, Yad Vashem.
No momento, o que eu espero é a escolha do melhor presidente para o Brasil, e não por dizer que defenderá Israel. Israel não estará em risco por falta de apoio brasileiro e não precisa de defesa vinda da América do Sul, embora seja sempre bem vida. Da mesma forma que se condena empréstimos e investimentos brasileiros em Cuba, Venezuela e Equador, justamente por faltar condições mínimas para muitos brasileiros, dedicar atenção a outro país, seja qual for, é contraditório. E o tal apoio é baseado de que em Israel vivêssemos como nos templos Bíblicos, a espera do Messias, e não é isso, a população é muito menos religiosa do que se pensa. Se notassem a quantidade de bandeiras do arco iris teriam um infarto? Ou como as mulheres aqui andam com shorts extremamente curtos (e ninguém liga)...
Que o candidato que diz querer voltar ao Brasil de 40 anos atrás vá para o lugar que merece: os livros de história do que não fazer na política, especialmente após 30 anos como deputado que pouco produziu e somente enriqueceu e colocou os filhos para seguirem carreira política. As coincidências com o fascismo e o nazismo são muito grandes, e comparações de discursos e atitudes geram quase uma rejeição sob uma suposta banalização do Holocausto. Mas justamente por respeito aos que sofreram ou foram duramente assassinados sob comando de Hitler, que relembrar sempre é de extrema importância para evitar a repetição de fatos.
Para encerrar, minha intenção não é dizer em quem votar, ou em quem eu votarei (embora esteja evidente), pois eu não faço mais isto, quanto menos fazer campanha para um ou outro, mas este é o exato momento em que provavelmente em que se faz, ou se escolhe, quem deve ser escolhido, e não o que se desejava no princípio. Pela memória da Professora e Psicóloga Iara Iavelberg z"l, brutalmente assassinada em 1971 no auge da ditadura militar no Brasil.
Assassinada por agentes da Ditadura por ser contrária ao regime. Longe do atual conceito de cidadã de bem!

2 anos longe de muitos, mais perto de mim.

Já pararam para pensar que a vida de uma pessoa é como um livro, escrito em tempo real? Felizmente, ou não, jamais teremos acesso a totali...