quarta-feira, 25 de abril de 2018

Ano 1!


Finalmente chegou! Meu primeiro ano em Israel.
Nas primeiras horas do dia 26 de abril de 2017, eu desembarcava no aeroporto Ben Gurion, para mudar minha vida, mudar de vida, e entre altos e baixos, definitivamente mudei. Sou outra pessoa, em diversos sentidos.
As vezes paro para pensar em cada detalhe que eu passei antes, durante e após esta grande mudança na minha vida.
Algo que faz não me arrepender é o quanto eu tenho aprendido com as histórias de cada uma das pessoas que passaram pela minha vida. De trabalho, colegas no centro de absorção, de Ulpan... Todos me transformaram numa pessoa diferente. Creio ser uma pessoa melhor, mas só o tempo dirá com devida propriedade.
É um momento de balanço, de lembranças, de saudades, de reconhecimentos e méritos. Qualquer mudança de país é bastante dificil para quem quer que seja, para qualquer país que seja, e comigo e Israel não foi diferente. Alguns enfrentam de forma mais tranquila, outros de forma bastante turbulenta, mas todos cheios de emoção. E como uma pessoa extremamente passional como sou, não foi diferente. Um pouco de tudo.
As vezes paro para pensar no que deixei para trás, e ainda me questiono se foi o melhor. Não é arrependimento, mas uma consideração, um carinho. Deixar família, amigos, trabalho, e O Amor da minha vida para trás não foi uma decisão fácil ou que eu recomende. Mas eu sentia que precisava de um "tapa na cara", sair da minha zona de conforto, de experimentar o que a vida pode me oferecer, e não poderia esperar quem quer que fosse pensar a respeito, até porque a decisão foi tomada num momento de profunda solidão. Precisava seguir a diante. O tempo é o senhor das respostas e ele me proverá o amor que eu deixei, seja aqui ou aí. 12 anos de história não são 12 dias, nem 12 meses.
A saudade é algo que não passa. Apenas a controlo, e por vezes a sufoco, soco, mas ela saiu feito um furacão quando eu reencontrei minha familia em Jerusalém. Uma emoção que para poucos eu tive a coragem de descrever.
Posso dizer que sou uma pessoa de sorte. Vi o quanto meu pai trabalhava, dia e noite, para manter uma qualidade de vida razoável para mim e minhas irmãs, mas nem por isso foi fácil enfrentar a inflação dos anos 80, o sequestro das economias com Fernando Collor em 90... Ainda assim, me considero de sorte por ter tido muitas oportunidades na vida. Porém senti que eu disperdicei muitas delas, e minha vinda para cá serve também como uma resposta pessoal de quem se cansou de desperdícios, de colocar a própria vida em segundo plano para atender as demandas alheias.
Como eu costumo a dizer: Eu não virei as costas a ninguém ou a nada, apenas virei de frente a mim mesmo!
As vezes é assim que me sinto. Equilíbrio é a palavra chave.
Poucos são os que me disseram e/ou reconhecem sobre a coragem que eu tive em fazer o que fiz. Eu mesmo demorei para reconhecer. Vim para um país que eu não conhecia de forma alguma. Jamais estive aqui antes e encarei este desafio. Talvez daí venha a impressão em muitos que eu não gosto daqui. É o oposto. Apenas desenvolvi ainda mais um espírito crítico de quem quer melhorar, e quem quer melhorias. Sou feliz aqui. Se meu destino é permanecer aqui é outra questão, e não estou em busca desta resposta no momento. Vim com a cabeça aberta para uma experientação, e tenho sugado o que é possível e sinto que tenho muito mais a aprender!
Quando somos crianças, crescemos e evoluímos numa sociedade, seja ela qual for, sem uma referência anterior. Uma imigração na fase adulta não apaga este passado, esta evolução, este referencial, e daí as brigas internas constantes para entender a sua nova realidade. Acho que assim resumo o que eu vivo aqui. Um enfrentamento diário comigo, muito mais do que com outros.
Parte das críticas que recebo também são frutos da minha pseudo exposição via redes sociais e por aqui, embora eu sempre ressalte que eu sou consciente do que exponho, e Ninguém tem capacidade de me julgar, pois Ninguém sabe nem 10% do que passo.
Muitas decepções passei, bem como muitos alentos e carinho tenho encontrado, e boa parte a distância. Amizades que pareciam tão amenas, se provaram muito fortes e me dão mais gana em continuar, em avançar, em crescer, em melhorar, em me conhecer de fato. Retomei amizades duradouras que estavam adormecidas.
Lembro de uma senhora que me pediu uma ajuda, e ao notar meu sotaque, perguntou se eu era francês (a maioria acha que vim de lá), e ao falar Brasil, passou a falar num português muito bom, e me acalmou a respeito de muitas coisas, especialmente a valorizar as pessoas mais calmas e generosas no meio da ferocidade. E lá estava ela, e nem o nome dela eu sei, me abriu os olhos para outros aspectos. Só me recordo que ela morou por cerca de 7 anos no Brasil, 5 anos no Canadá e 2 em Portugal, e adorou o Brasil e espera voltar em breve, o que não se repete com os outros países citados.
E a cada paquera surgida a distância, um alento a meu coração. Em perceber que não sou invisível. Em perceber que embora nada tenha acontecido, a minha imaginação voou longe, as vezes para a França, Canadá, Brasil, Alemanha e Oceano Pacífico e a sensação de solidão era diminuída. Obrigado a todos, que de modo direto, e também os indiretos, demonstraram seus sentimentos por mim e pude retribuir de uma forma terna.
Ainda me sinto muito solitário aqui. E com isto também tenho aprendido a me conhecer, e me respeitar, e principalmente, a colocar em prática o que minhas terapeutas, as Dras Gabriela Russo e Rosangela Nimea diziam, de ter uma inteligência emocional, de cuidar primeiramente de si próprio - de equilibrar força e resiliência.
Enfrentei "sozinho" de Hepatite a crises de ansiedade, de despedidas a enterro de amigos, passando a colegas envolvidos com álcool a drogas. E na medida do possível tenho as encarado e superado. Não me deixei abater.
Aprendi a não tomar para mim o que acontece a minha volta. Não me tornei uma pessoa desprovida de coração, mas entendi que há fatos que ocorrem aquém da minha vontade, e envolver me com elas me tirará do meu caminho, do meu prumo e não trará necessariamente a devida ajuda. Até porque eu me afetei mesmo quando pediram para que não, como quando minha melhor amiga resolveu deixar Israel e seguir seu rumo noutro lugar. Mas me recompus rápido e hoje tenho aquele sentimento gostoso da saudade.
Acompanhei a distância a despedida de uma tia, o nascimento de filhos de amigos, promoção no trabalho... É ter ciência que não estou presente, mas faço parte das lembranças deles. É receber ligações de vídeo no meio da madrugada (daqui) cheia de piadas com a minha cara amassada de sono, ligações de video com fofocas generalizadas e compartilhar das alegrias e tristezas alheias, receber broncas via mensagens de voz, quase ser ludibriado por um psicopata, é ter um presente de aniversário entregue em meu nome. Receber a tradução gratuita do meu currículo sem que eu tivesse pedido, e ajuda com a minha saúde num triângulo Brasil-Holanda-Israel.
Eu poderia nomear cada um aqui, mas sinto que eu teria que abrir outro blog só agradecer a cada um da maneira que eu gostaria.
Resolvi, portanto, colocar uma foto daqueles que se destacaram, de algum modo, no topo desta publicação. Omiti outros em respeito a sua própria imagem, que por motivos que somente a eles cabe, preferem ficar de fora de holofotes. Bem como a minha família, da qual eu jamais pensei que seria tão compreensiva e participativa neste processo todo. Eu tenho plena consciência do susto que eu trouxe quando, resumidamente, eu contei: "daqui uns 20 dias estou me mudando. E não será de casa, e sim de país!". Fiz assim pois eu tinha que lidar com as minhas emoções primeiramente e depois com as dos demais.
Portanto, o sentimento de saudade hoje se mistura com o de agradecimento forte e sincero, tanto a aqueles que aqui estiveram comigo, a turismo, a negócios como neste sonho que é viver fora do seu país amado, do cerco de pessoas queridas, e enfrentar um país que pode ter seus defeitos (mas têm virtudes também), e ainda assim quase que integralmente lhe abraça e lhe deseja Mazal Tov (parabéns) e Behatzlachá (sucesso). Que venha mais!
Para terminar, fica a música que atualmente reflete um pouco das minhas sensações aqui. A tradução e a transliteração podem ser lidas aqui.


quarta-feira, 18 de abril de 2018

Ver para crer. Visitar para sentir.

Israel não é um país fácil de entender.
Explicações externas tentam, mas em geral em vão, explicar os desafios da vida cotidiana e política no único país judaico do mundo.
E minha observação não se baseia no fato de eu ser judeu e morar aqui. Seja pelo lado positivista ou negativista, as observações sobre Israel são exageradas, infelizmente, muito mais por quem a critica. Nomes com a capacidade de análise histórica e que mantenham o respeito são poucos.
Lembro de ter lido uma das últimas notas oficiais do PSOL, onde um texto lotado de ódio, quase babando sangue, vem querer desqualificar ações militares de defesa de Israel. Se as observações se baseassem em abusos, seria de se levar em consideração, mas quando parte do princípio de línguajar chulo e cretino, com termos como banho de sangue e estado genocida, ultrapassa se claramente o limite entre critica a atuação e passa a se questionar a soberania nacional, o que é algo extremamente perigoso. A primeira é plenamente justificavel, desde que embasada, mas infelizmente, o partido não tem capacidade disto, e por isto mesmo, desde a sua fundação, corre por fora em qualquer cargo que dispute. São poucos os personagens ligados ao partido que tenham um viés neutro, e quem defenda Israel beira a neutralidade.
Não entrarei no mérito do conflito ocorrido ao Sul, pois pouco acompenhei o caso. Tanto que um jornalista brasileiro tentou obter informações comigo e creio ter sido muito vago. Abordo apenas do que sei! A questão é que os últimos conflitos, em 2017 e até a presente data em 2018, a segurança nacional saiu inabalada.
Esta semana eu tive a ilustríssima presença dos meus pais e irmã, comemorando o Pessach e matando as saudades deste quase um ano de distância. E chegaram pouco tempo após os conflitos na fronteira com Gaza. Logo nas primeiras horas, minha mãe, em sua primeira vez na Terra Santa, observou o quando as pessoas andam despreocupadas pelas ruas, e na quantidade de bancos pelas ruas, e como as pessoas a ocupam, transformando as em locais de socialização.
Pessoas próximas a ela, incluindo familiares, a aconselharam a não vir, acham que andamos nas ruas desviando de bombas e tiros, sendo que em momento algum ela sentiu qualquer medo ou inseguraça enquanto esteve aqui. é engraçado saber que até familiariares deram esta recomendação, sendo que o filho dela, eu no caso, está aqui e nunca fez qualquer menção a insegurança. Se ela estaria em risco ao vir, eu já estou há tempos.
Só faltaram minha outra irmã e meu sobrinho. No Yad Vashem.
É compreensível a preocupação, pois é algo fora da realidade brasileira. No Brasil a preocupação é em não andar com muito dinheiro no bolso, pois se pode ser assaltado, ou "ostentar" um celular novo, joiais, relógio - é "pedir para ser assaltado", e ainda dirão que a culpa é sua, da vítima. É ver notícias de chacinas, se indignar num dia, e nem pensar mais nisto no outro. Mas o problema é a guerra (que não existe) entre judeus e palestinos pelo controle em Israel.
Aqui se retira dinheiro no meio da rua, no meio da feira, sem diversos dispositivos de segurança comuns no Brasil.
Umas semanas antes da vinda deles, um amigo dizia que a relação que os país dele tinham com Israel também era de total preocupação, mas que após a visita, passaram a enxergar um país incompreendido, com seus vicios e desafios, problemas e soluções, e sairam muito mais tranquilos "em deixar" seu filho aqui. No fundo, embora eu ainda não tenha conversado muito com eles a respeito, creio que o mesmo ocorreu. E embora a saudade seja grande, e os convites para uma volta foram mantidos, viram o que eu lhes relatava, e mais, a respeito das possibilidades de crescimento profissional e pessoal, que foram muitos dos atrativos para a minha vinda.
Embora eu também me sinta triste em não haver qualquer chance de negociações de paz entre Israel e Palestinos, por culpa de ambos os lados (não vou aqui medir o mais culpado ou o mais inocente), a vida que se leva aqui é muito mais leve que no Brasil, mesmo nos aureos tempos de crescimento de 7% do PIB. Mesmo amigos vindos de paises desenvolvidos, como EUA, Bélgica ou Canadá, relatam a violência tem crescido, incluindo a terrorista, enquanto em Israel ela diminui a passos largos.
Independentemente da sua posição político-partidária, crença religiosa, fica o convite a visitar o país e ver com seus próprios olhos onde está o tal apartheid tão comumente dito, ou a insegurança nas ruas, o que o conflito com palestinos tem produzido: De um lado um país com uma economia punjante, do outro, se questione até que ponto Israel é responsável pelas mazelas daquela população. Eu ainda não tenho respostas para esta questão de difícil, e por isto compartilho aqui algo que também busco saber. Não estou, entretanto, dizendo que não exista qualquer destrate aos palestinos, mas a noção de apartheid é de segregação institucional de uma nação a seus prórios cidadãos, como o que ocorreu na África do Sul e Estados Unidos. Como ainda não tive qualquer possibilidade de visitar a Cisjordania, prefiro não emitir qualquer opinião a respeito.

2 anos longe de muitos, mais perto de mim.

Já pararam para pensar que a vida de uma pessoa é como um livro, escrito em tempo real? Felizmente, ou não, jamais teremos acesso a totali...