quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Jerusalém - A Cidade Velha

A Capital do estado de Israel é, provavelmente, a cidade mais controversa do mundo. Está sob suas costas a origem de duas das três religiões monoteístas do mundo: judaísmo e cristianismo, e sendo um cenário de extrema importância para o islâmismo (não surgiu aqui, mas tem bases nos profetas e culminou com a ascenção de Maomé onde hoje fica a Cúpula da Rocha). Milênios de disputas para dominá la, independentemente do motivo, é o que a faz a cidade a mais controversa, na minha opinião.
Obtido junto ao Wikipedia. Autor: Michael Netzer
A idade da cidade é incerta, mas há escavações que determinam cerca 6 mil anos, o que é acima do que a Torá indica, que considera que foi fundada por Sem (filho de Noé) e Éber (bisneto de Noé).
Teoricamente a cidade foi reunificada em 1967, quando estava divida entre Israel e Jordânia, que ocupava os territórios palestinos (daí a origem do nome Cisjordânia na língua portuguesa). Digo que foi teoricamente reunificada pois embora a circulação em toda a cidade seja livre, judeus israelenses dificilmente se sentem seguros em caminhar na porção oriental da cidade, com exceção ao Monte das Oliveiras e Universidade Hebraica, e da vez que eu fui, estava sob proteção de segurança particular, e na região norte da cidade é possível visualizar parte dos muros de separação, que embora sejam uma vergonha na política externa de Israel, também diminuiram em muito os atentados com homens bomba em toda Israel. Neste momento eu não tenho conhecimento suficiente para abordar sobre esta e outras polêmicas, e por isto vou me dedicar apenas a Cidade Velha no momento.
Portão de Jaffa
Jerusalém é extremamente turística, e visando também um incremento no turismo, assim como nos negócios, está previsto para Abril 2018 a inauguração de um trem bala desde Tel Aviv, pois a linha de trem atual foi construído no período de domínio do Império Otomano, o que faz a viagem entre as duas cidades durar 1h 20min, ante os 28 min, além da estação central ser ao lado do terminal central de ônibus.
Como há muito a descrever de Jerusalém, vou me dedicar a questões práticas de turismo:
Embora seja uma cidade religiosa, não implica em fazer turísmo religioso. O pano de fundo de muito do que há na cidade envolve a religião, porém também num aspecto muito mais histórico do que propriamente de rezas ou afins.
A Cidade Velha, ou Cidade Antiga, é uma área murada de aproximadamente 1 km², onde se concentram 4 bairros, sendo o Cristão, que está sob controle do Patriarcado Católico Ortodoxo Grego, entre os portões de Jaffa e Damasco, quarteirão muçulmano, nos portões de Damasco e Leão, avançando até a entrada da esplanada das mesquitas, ou Monte do Templo, o bairro judaico, que fica ao lado do Monte do Templo, e avança entre os portões de Detritos (Dung) e Zion, e o bairro armênio, que embora também seja cristão, tem o seu próprio patriarcado, e vai desde o Portão de Zion até o de Jaffa.
Fonte no Muristan, ao lado da Igreja do Santo Sepulcro
Cada um destes bairros, ou quarteirões como as vezes são chamados, tem suas próprias características, embora tenham construções parecidas.
Dentro da Cidade Velha não há apenas comércio, bares e restaurantes e pontos de adoração religiosa. Há hotéis, albergues, museus, além de residências. Sim, há pessoas que moram nos quatro cantos da Cidade Velha.
E embora haja esta divisão, isto não impede que qualquer pessoa cruze por seus espaços públicos, sendo muito comum judeus andarem no quarteirão muçulmano, muçulmanos no quarteirão cristão, e assim por diante, além dos milhares de turistas que circulam diariamente.
O quarteirão Armêno é o mais inacessível de todos, tendo pouco comércio, pois a maior parte dele é um Monastério, Seminário e um cemitério.
Rua São Dimitrius
O quarteirão Cristão já possui menos locais de acesso restrito, e logo na entrada do Portão de Jaffa, ve se um hotel, e por suas ruas, especialmente no interior, pouco comércio, sendo ele mais forte na próximidade da Igreja do Santo Sepulcro, onde há a presença tanto de gregos, russos e árabes cristãos.
O quarteirão muçulmano é o maior e o mais cheio de comércio, assim como pequenas mesquitas de fácil acesso - embora neste caso eu recomende perguntar se é possível acompanhar uma reza, se for da sua vontade, e quais regras devem ser seguidas para manter o respeito. O acesso a Esplanada das Mesquitas é proibido apenas a judeus, para evitar possíveis provocações, e ainda assim, a recomendação judaica é de judeus não transitarem ali, pois eventualmente circulariam sobre o local onde estava o Santo dos Santos (Kodesh Hakodashim), que era local de acesso restrito aos Sumo Sacerdostes e Levitas. A visita de turistas não judeus, até onde eu saiba, é liberada, porém aconselho discrição nas roupas tanto para homens como mulheres, que alias, talvez tenham que usar um véu para cobrir os cabelos.
Comércio próximo ao Portão de Damasco
O comércio é variado e destinado tanto para o público muçulmano, como especialmente cristãos das diversas variantes, judeus e turistas de qualquer religião. Os mais bonitos são as porcelanas. Como judeu, eu não recomendo comprar nenhuma peça judaica, pois em muitos casos que eu pude ver, não estão de acordo com as leis judaicas, como misturar o símbolo da Menorá com o peixe, ou seja, mistura de signo judaico e cristão, o que para mim, soa como desrespeitoso. Porém minha recomendação máxima é evitar passar para dar uma "olhadinha", coisa típica de brasileiro, e ou pegar o produto na mão, outro péssimo hábito brasileiro - para os muçulmanos, quem sai para ir a um comércio, vai para comprar, e não faze-lo é quase uma ofensa; são bastante insistentes, por vezes seguindo e deixando o turista bastante desconfortável e constrangido. Comigo, ao saber que sou brasileiro, o que é quase sempre um passaporte diplomático, puxam assuntos diversos, eventualmente falam em português ou uma espécie de espanhol, tentando lhe convercer que aquilo que ele vende é uma iguaria, quase como se eu estivesse comprando trufas pretas na Itália. Eu escapei dizendo que como era Shabat, pensei que não havia comercio aberto e estava sem minha carteira, e recebi uma bela cara feia junto. Na verdade, se mesmo assim você for abordado, deve ser firme e dizer não e seguir em frente, se parar para argumentar eles entenderão que tem uma chance.
Tranquilidade pré Shabat na rua Habad
O quarteirão judaico contém um comércio relativamente fraco, pois na maior parte ele é tomado de escolas religiosas (Yeshivá), sinagogas, centros de convenções, cabelereiros e algumas escavações. O comércio é mais tranquilo, onde o brasileiro que quiser "dar uma olhadinha" poderá faze lo sem constrangimentos, e os bares e restaurantes são todos conforme as leis dietéticas judaicas (Casher ou Kosher: diferença apenas de pronúncia) em espaços mais abertos, diferenciados se são para alimentos a base de carne, laticínios, que não podem ser misturados ou neutros (Parve). Há também mini mercados, mas é sempre bom lembrar que da tarde de sexta-feira até a noite de sábado, o comércio não funciona, por ser o Shabat, o dia do descanso.
Obviamente é pelo quarteirão judaico que se acessa o Muro Ocidental, através de 4 check points, onde todos passarão por diversas câmeras de reconhecimento facial, incluindo algumas escondidas, detectores de metais e bolsas e mochilas passarão por detectores a base de raio X, podendo ainda serem checados manualmente na sua frente.
É difícil dizer se há algum dos quarteirões que não possua algo de sagrado de outro grupo religioso. Por exemplo, no quarteirão cristão, há mesquitas, o local mais sagrado do judaísmo, o Monte do Tempo, está sob domínio muçulmano do Reino da Jordânia, pois sobre eles estão a Cúpula da Rocha e a mesquita de Al-Aqsa. No quarteirão judaico há mesquitas desativadas. No quarteirão muçulmano há tanto o convento Ecce Homo, como a igreja de Santa Anna.
Clima bastante descontraído na praça Hurba, próximo ao Muro.
Com relação a segurança, o mais seguro de todos, na minha opinião, é o judaico. É visivel a tranquilidade, até pela calmaria no comércio, mas isto não implica que os demais sejam perigosos, mas especialmente o quarteirão muçulmano é onde ultimamente ocorrem protestos diversos e em julho/2017 dois policiais drusos foram mortos, depois gerando uma onda de confrontos, felizmente apaziguadas. Antes destes últimos confrontos, eu andei a noite por quase todo o quarteirão muçulmano e me senti seguro; em todos os cantos é fácil ver câmeras e policiais fardados e a paisana andando.
É portanto, um local que vale a pena gastar pelo menos um dia inteiro de caminhadas entre os Portões, "se perder" ali dentro. Pra mim, a sensação de estar pisando em mais de 3 mil anos de história é de uma emoção indescritível.

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