quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Vantagens e desvantagens de ser bilíngue no exterior

Imigrar a um país que tem uma língua oficial diferente das línguas comercialmente famosas, como inglês, francês, espanhol e alemão, traz dificuldades iniciais aos que assim desejam faze lo sem conhecimento prévio. São poucas referências de literatura, música e filmes, que são instrumentos para conhecer melhor a cultura e se habituar com a sonoridade da língua. E daí que vem a sensação em muitos brasileiros que sabem inglês ou espanhol, por exemplo, mas que na prática se prova falsa. Um engano que fica muito claro quando saem do país.
Vir para Israel, onde as línguas oficiais são hebraico e árabe, se aplica a isto. Eu, mesmo tendo um conhecimento mínimo da língua ao chegar, sofri bastante no começo, com a questão da minha saúde, ou no dia dia, quando comprava algo pensando ser outra coisa. Até mesmo no aeroporto, esperando o meu registro no Ministério do Interior; queria usar o banheiro para escovar os dentes, mas a funcionária da copa só falava russo (uma terceira língua, não oficial).
O fato de eu saber inglês relativamente bem me ajudou bastante, inclusive no momento eu trabalho falando apenas em inglês e hebraico, pois não são tantos os que sabem um inglês de alto nível aqui.
Nas estações de trem, por exemplo, com exceção ao trem com direção ao aeroporto, todos os sinais sonoros são em hebraico, e visuais em hebraico e árabe. Quando eu contratei os serviços de telefonia aqui, por exemplo, a atendente não falava inglês, e acabei assinando um contrato as cegas, pois não tinha outra opção senão hebraico.
Fiquei pensando nisso ao lembrar da história de uma brasileira que imigrou para cá há uns 10 anos, e que chegou aqui sem qualquer outra língua senão a língua portuguesa. Ela, mais que todos, foi obrigada a se esforçar ainda mais para aprender hebraico, para poder seguir com sua vida. Mas só posso imaginar as dificuldades e confusões em que se meteu. Apesar do espanhol também ser pouco popular aqui, a forte imigração dos judeus argentinos no início dos anos 2000, por conta da moratória que Buenos Aires deu em seus credores, fez a língua ser um pouco mais ouvida, mas ainda assim, lembro das dificuldades dos meus amigos venezuelanos e peruanos ao se candidatar para um emprego.
Portanto, embora eu nunca recomende a ninguém imigrar sem conhecer razoavelmente a língua daquele país, saber outras línguas pode ser um incentivo para o esforço e para avançar nos estudos, pois se tentará diminuir os percalços e sofrimentos pela falta de comunicação.
Aqueles que chegam com inglês ou até mesmo os russos, sofrem por se apoiar de mais nestas línguas, o que os faz ter mais dificuldade de aprendizado. Os russos, e me refiro aos mais velhos, obviamente se sentem confortáveis falando sua língua materna, e como há muitos aqui, eles conseguem sempre ter alguém por perto para ajuda los, mas quando não há, ficam imersos numa arapuca que eles foram direcionados e não sabem como sair.
Assim como um amigo que pouco aprendeu hebraico, e trabalhou comigo, e passou a atender aos clientes e colegas apenas em inglês.
Aqueles que vem sem saber outra língua além da materna, portanto, precisam se esforçar ainda mais, terão que ter paciência consigo e com os outros, pois erros de entendimento serão normais.
Não me considero nenhum exemplo de comportamento, mas fiz o possível para falar apenas em hebraico, seguindo o conselho da minha primeira professora de hebraico, Sonia Bachar, que disse para eu prestar a atenção em cada conversa  que eu pudesse, por mais boba que fosse, para absorver a pronúncia e significados. Claro que nisto eu também estou aos poucos absorvendo os erros comuns e vícios de linguagem.
Portanto, aponto aqui alguns pontos principais de vantagem em saber uma segunda língua:

  • Fatores cognitivos: você passa a compreender melhor o mundo em que vive em seus problemas e beleza;
  • Facilita o aprendizado de outras línguas, pois há momentos em que um termo, verbo ou palavra em geral não possui uma tradução direta ou explicação clara, mas para a outra língua possui;
  • Busca por um emprego, pois ao menos aqui, assim como no Brasil, não é fácil encontrar quem fale inglês, espanhol, francês e etc em alto nível;
  • Relacionar se com pessoas de diversas origens. Hoje uma das minhas supervisoras é filipina, já tive uma romena, além de um russo.
Há, claro, desvantagens também:
  • Apoiar se demais noutras línguas que não sejam a língua local;
  • Demorar mais do que o esperado em aprender a língua local;
  • Sentir se especial por saber uma outra língua - apesar de ser muito bom, volte a realidade, pois o mundo precisa de pessoas que façam o bem, e não que queiram se mostrar o quanto sabem (ou pensam que sabem)*;
  • Muitos, para te "ajudar", vão usar essa sua habilidade e conversar só nesta língua, bloqueando seu avanço;
  • Vir em casal, embora um dê apoio moral ao outro, vão falar na língua materna;
  • Se sentir inseguro em avançar, em falar errado em ser mau compreendido, e passar a querer falar na língua que conhece.
Os primeiros momentos num novo país devem ser para se dedicar a aclimatação e isto inclui a língua. Considere que os dois primeiros anos talvez ainda seja pouco para isto.
Em suma, eu não tenho uma resposta única se há melhor ou pior vir para um país como Israel sem saber inglês ou outra língua, pois no fundo, depende de cada um, de cada caso.

* Possuo uma amiga que se orgulha em dizer que sabe diversas línguas, no momento se enveredou pela política, e infelizmente se ligou a partidos fascistas, e faz mau uso do diferencial que ela possui. Uma tragédia...

2 anos longe de muitos, mais perto de mim.

Já pararam para pensar que a vida de uma pessoa é como um livro, escrito em tempo real? Felizmente, ou não, jamais teremos acesso a totali...